23 de novembro de 2018

Os italianos e os bairros rurais de Salto

A IMIGRAÇÃO ITALIANA

Antes de 1860, a península itálica estava dividida em vários pequenos Estados, em geral fracos e dominados por outras potências europeias. A ideia de que a Itália devia formar um só país vinham de longe, mas foi somente no século XIX que ela ganhou força e se completou.

O gradativo processo de unificação da península itálica: 1860-1870

A unificação não melhorou a vida do povo italiano. A crise agrícola de 1880 afetou profundamente as pequenas propriedades, que não suportavam a pesada carga de impostos do governo e não conseguiam competir com a produção agrícola de outros países. A injustiça social, acompanhada de um governo ineficiente, lançava as famílias ao desencanto.

Para muitas famílias italianas o sonho de superar as dificuldades vividas na terra natal passou a ser representado pela expressão “fazer a América”. E assim, muitos italianos atravessaram o Oceano Atlântico e aportaram no Brasil, cheios de esperança. Estima-se que, entre homens, mulheres e crianças, o total tenha ultrapassado um milhão e meio de pessoas.

Os emigrantes, de Antônio Rocco, c. 1910

A CULTURA CAFEEIRA

Diante da necessidade de mão-de-obra barata para a manutenção da lavoura do café, o estado de São Paulo foi o centro da imigração europeia para o Brasil. Dos 4 milhões de estrangeiros que entraram no Brasil entre 1886 e 1934, 56% vieram para São Paulo. Enquanto os alemães preferiam ir para o Sul e os portugueses para o Rio de Janeiro, os italianos fizeram de São Paulo o seu lugar. Quase 2 em cada 3 italianos que imigraram para o Brasil vieram para São Paulo, sendo a maioria esmagadora dirigida aos cafezais.

A colheita, de Antônio Ferrigno, 1903

Por volta de 1890, grande número de famílias italianas se instalou nas lavouras de café existentes no bairro denominado Buru, em Salto – uma região que, à época, se estendia desde a margem direita do córrego do Ajudante e do rio Tietê até as divisas do município de Salto, tendo no meio o próprio rio Buru, que nomeava a essa vasta área.

A então vasta área rural saltense, em mapa de maio de 1931, de autoria do imigrante Henrique Castellari.

OS ITALIANOS EM SALTO

A então Vila de Salto de Ytu, situada entre as regiões cafeeiras de Itu, Campinas e Jundiaí, era um local bastante modesto em fins do século XIX. Contudo, tornou-se um exemplo significativo da força da presença italiana em solo brasileiro. Nos primeiros anos do século XX, era grande o número de italianos que chegava à região de Salto. No ano de 1905, por exemplo, o contingente de naturais da Itália que aqui instalados passava de 3000, quando a população saltense era de aproximadamente 4200 habitantes.

As primeiras levas de italianos começaram a chegar a Salto por volta de 1890 – tempo em que ainda eram pouco numerosas as propriedades rurais e se encontravam vastas áreas cobertas pela mata virgem. Valendo-se dessas terras inexploradas e de baixo custo, nelas se fixaram muitas famílias de imigrantes recém chegadas da Itália ou saídas das fazendas de café dos municípios vizinhos ou áreas próximas.

Sítio Fundão, da família Quaglino, c. 1901

O BAIRRO DO BURU

Uma família de imigrantes trouxe da Itália a primeira imagem de Nossa Senhora das Neves, propagando o culto na região do Buru. Desde o final do século XIX se promoviam novenas, sempre no mês de agosto, que eram encerradas com a procissão da referida imagem. Desde esse tempo festas populares eram realizadas com o intuito de se arrecadas fundos para a construção de uma capela. A capela hoje existente já é a segunda construção e data de 1938.

As famílias Rocchi, Di Siervo, Zambon, Bethiol, Pauli, Pitorri, Bolognesi, Cortis, Ognibene, Zanoni, Gianotto, Vallini, Quaglino, Ferrari, Stecca, Santinon, Matiuzzo, Bernardi, Gilberti, Bergamo, Nicácio, Mosca, Fiori - dentre outras - estiveram ligadas à história de ocupação do bairro do Buru e adjacências, bem como aos trabalhos religiosos na capela de Nossa Senhora das Neves.

João Ivo Stecca, esposa e filhos - uma família do Buru, c. 1940

O casal Dorothéa Ghizzo Zambon (1875-1955) e João Zambon (1873-1958): originários de Treviso (Itália), chegaram ao Brasil em 1888, via porto de Santos. Residiram no Bairro do Buru durante várias décadas.

Capela de Nossa Senhora das Neves, padroeira do Bairro do Buru, em foto da década de 1970.

Nota: este texto fez parte da exposição sobre o mesmo tema que figurou na Festa Ítalo-Saltense de 2010, realizada na Praça XV de Novembro.

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Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966