20 de julho de 2009

Bairro do Buru

O texto abaixo é transcrição da matéria "Ah! Meu velho Buru...", de Valderez Antonio da Silva, originalmente publicada no Cidade Jornal (Salto/SP) em 8 de maio de 1989.


Capela de Nossa Senhora das Neves, padroeira do Bairro do Buru, 1989.

Primeiro, a chuva caía com alguma intensidade. Depois, a terra seca de uma longa e acentuada subida se transformava em traiçoeiro lamaçal. A seguir, vinha o tormento da gente simples, com suas charretes e carroças atoladas e a necessidade de se reunir os burros e cavalos disponíveis, para retirar do barro um veículo de cada vez, com muita paciência. Sem ajuda dos outros, ninguém saía do lugar, e o ribeirão que a tudo assistia, bem como a própria subida, acabaram ganhando o nome de Ajudante.

A cidade de Salto não ia além de onde hoje estão as ruas centrais e o Ajudante era apenas uma parte do longo caminho para um lugar cujo nome estava associado à própria idéia de distância, de calmaria, de mundo caboclo e afastado do progresso: Buru, o velho Buru, cujo coração reside na encruzilhada de dois caminhos rurais e onde se olham de frente uma pequena escola, uma velha capela e um velho armazém.

Na verdade, o Bairro do Buru tem dimensões e histórias que nem todos os saltenses conhecem e, muito menos, as novas gerações. Seus limites se estendem desde a divisa com os municípios de Indaiatuba e Elias Fausto, na altura do distrito de Cardeal (Buru de Cima), passando pela região onde está a Capela de Nossa Senhora das Neves (Buru do Meio), até atingir a velha estrada de terra que ruma para Capivari (Buru de Baixo).


Detalhe de levantamento topográfico de Salto, de 1931, de autoria de Henrique Castellari. Ao centro, a marcação da escola e da venda do Buru e as estradas para alguns sítios.


Nesse território agrupam-se pequenas e médias propriedades rurais, desde um tempo que se perde na história saltense. O fato é que o Buru está intimamente ligado a inúmeras e tradicionais famílias que, desde o século passado, ali viveram da lavoura e da pecuária, até se transferirem para a cidade, com o tempo e o progresso. Outros nunca ali viveram, mas possuíram terras que, em muitos casos, ainda conservam com carinho. Nomes como os das famílias Rocchi, Di Siervo, Betiol, Pitorri, Pacher, Santinon, Zanuni, Keiller, Góes, Bernardi (Fanti), Nicácio, Quaglino, Ferrari, Bracarense, Mosca, Stecca, Pavani, Ferraz e muitas outras.

Coisas de 1900 e das primeiras décadas do século, quando o algodão, a batata, o milho e o feijão eram vendidos no Salto, bem como as galinhas, porcos, ovos, e garantiam a vida de muita gente. Coisas de quando nenhum saltense possuía automóvel, como bem se recorda o saltense adotivo e apaixonado, Pedro Garavello. É ele quem evoca as felizes visitas ao Buru de então, para participar dos leilões e quermesses em prol da capela, quando todo o lugar vivia um saudoso clima de festa na roça.


A vendinha e os lampiões

A vida de todo o Buru sempre bateu mais forte dentro das paredes do velho armazém, da vendinha do Santinon. Dona Palmira, 76, viúva de Guilherme Santinon, relembra os cinqüenta anos durante os quais o estabelecimento esteve nas mãos de sua família. Em 1938 Guilherme e seus três irmãos adquiriram 6,5 alqueires de terra e o armazém, de uma família de turcos, os Ibraim.

Mantendo o costume, toda a gente da redondeza, ao longo de décadas, ali se abastecia de produtos alimentícios, calçados, fumo, ferramentas e uma infinidade de itens. “As compras a gente fazia em São Paulo, uma vez por mês”, lembra Palmira, frisando que o velho caminhão transitava penosamente pela antiga estrada de Pirapora e Santana de Parnaíba. E para as visitas à cidade, era acionado o cabriole ou o Ford 1928, cujo ruído chamava a atenção de meio mundo.

A melhor fatia das lembranças, porém, fica por conta do convívio amistoso entre os sitiantes, principalmente depois que os Santinon construíram um pequeno salão ao lado da venda. Ali se realizavam os animados bailes à luz de lampiões, e ao som de sanfoneiros de Salto, Cardeal e Elias Fausto. Outras cenas vêm à memória de dona Palmira, que fala saudosa da passagem das boiadas, das tropas de cavalos e dos carros de boi carregados de algodão. “Era uma coisa maravilhosa, porque a gente não sabia o que era ladrão, o que era briga (...) e todos se queriam bem”.

O armazém ainda pertence à dona Palmira e sua família, mas está arrendado a Francisco Pietarzewicz, novato na região e pouco sabedor das coisas do passado do lugar. Indagada sobre as diferenças entre viver no Buru e viver na cidade, ela finaliza, num tom decidido: “Se eu ainda tivesse o meu velho, não saía de lá...”


O passado, nunca mais

A reportagem do Cidade foi encontrar um velho e fiel morador do lugar, no Sítio Ribeiro, ao lado do caminho entre o Buru de Baixo e o Buru do Meio. Antonio de Oliveira, que apesar desse sobrenome, é conhecido por todos como Ribeiro, nasceu e vive no Buru há 69 anos. E esclarece que seus familiares lá marcam presença há mais de 100 anos.

A voz de Antonio Ribeiro faz coro a muitos outros antigos moradores para, pacientemente, puxar histórias e “causos” e se lembrar das rodas de prosa na venda do Santinon, até às “tantas da noite”. Ele confirma a fama dos bailes e de bons violeiros, como o famoso Antonio Boaventura, o Antonio Café que mais tarde ganharia renome como benzedor.

Ribeiro se recorda da caça farta nas matas da redondeza, com abundância de pacas, veados, capivaras. Dos seus tempos de menino e rapaz, guarda a lembrança dos inúmeros imigrantes que somente falavam o idioma italiano, das histórias dos fantasmas e assombrações, embora não tenha visto nada: “ver, não vi”. Mas histórias havia, assim como os tristes casos do tempo da escravidão, que eram narrados à sua mãe pela estimada negra Nhá Laura, moradora do Itapururuca.

Diante das mudanças trazidas pelo tempo e pelo progresso, o ferrenho buruense diz qual é sua mais cara recordação: “O que eu mais lembro é o ribeirão cheio de peixe, de cardume de curimbatás. Isso, nem eu, nem meus filhos vamos ver de novo. Hoje não tem mais peixe; só mau-cheiro”. O homem toma um gole de café e diz, mansamente, que compreende as transformações do tempo. Apesar de tudo, a última frase deixa escapar um lamento: “Tenho vontade de ir para outro lugar, onde eu sinta o que eu sentia aqui, naquele tempo”.


O alfabeto e a fé

A paisagem sentimental do Buru compõe-se de muitos nomes e pequenos lugares. Nomes como os dos ribeirões Retiro e Buru, outrora piscosos, que cortam aquelas terras. Nomes como o do pequeno morro do Itapururuca, atrás da capela, onde estavam as terras obtidas por famílias negras, logo depois da Abolição. O nome refere-se ao abundante cascalho no lugar, querendo indicar “pedras pururucas”, ou seja, pedrisco miúdo.

Impossível, mesmo, é falar do Buru sem mencionar sua padroeira, Nossa Senhora das Neves, e a capela erigida em seu louvor. Na verdade, a capela original ficava na “baixada”, cerca de duzentos metros aquém da atual, e foi demolida quando da construção da nova. Ocorreu, contudo, que o proprietário do sítio onde a antiga capela se encontrava acabou reconstruindo uma outra, bem menor, cujas ruínas ainda sobrevivem, e tudo segundo recomendação que lhe foi dada, de que sua criação de galinhas somente se livraria de uma terrível peste que a assolava, quando ele refizesse o pequeno templo.


A pequena capela reconstruída.

Já a atual capela teve seu nascimento a partir de uma doação feita à paróquia de Nossa Senhora do Monte Serrat, de 3 mil metros quadrados, por Maximiliano Rocchi, em 1936. No ano seguinte seria lançada a pedra fundamental, e os leilões e quermesses garantiriam o dinheiro necessário para que a construção se desse em 11/12/1938.


A atual capela de N. S. das Neves (foto de 2005).

Só não se consegue precisar quando teve início a devoção a Nossa Senhora das Neves, o que se reporta ao século passado. É certo que sua adoção pelo povo do Buru deveu-se à forte concentração de famílias italianas no local. Como é infalível, também, a grande festa do Bairro em louvor a sua padroeira, repetida a cada ano.

A mesma família Rocchi se incumbiu de doar, também, o terreno para a construção de uma escola, ainda em fins da década de 1920. O pequeno e acanhado prédio está, hoje, nos fundos da nova escola, inaugurada em 1970.


A antiga escola (foto de 2005).

A marcha dos tempos

Poucos setores do município receberam com tanta rapidez o golpe dos novos tempos, como o Buru e suas redondezas. A cidade avançou seus limites e fez cair, em pouco mais de uma década, o que restava da imagem de isolamento do lugar. A imagem que, um dia, gerou o dito popular “Caipira do Buru, sapato branco e meia azul”. Onde, outrora, reinava a terrível subida do Ajudante, hoje está a Avenida Getúlio Vargas, ladeada pelo novo hospital. Adiante, um trevo rodoviário substituiu a encruzilhada que permitia escolher entre o caminho para Capivari e Buru de Baixo, e o outro, para Cardeal, Elias Fausto e Buru do Meio. Vieram modernas empresas, como a IPC, a Calfat e a Isa Avícola.

Os sitiantes agora convivem com os condomínios fechados e loteamentos, como o Picollo Paese, o Zuleika Jabour, o Arquiodicesano e novos bairros, como o Jardim Saltense, a Vila Norma e o São Judas Tadeu que, aos poucos, vão eliminando as lacunas entre a cidade e o Buru. As boiadas, os carros de boi, as charretes e carroças foram substituídas por automóveis e ônibus urbanos, que contam com o conforto do asfalto até a frente da escola. Ali, um telefone público dá conta aos moradores de que o mundo inteiro está bem perto de seu antigo e pequeno refúgio.

Restam os caminhos de terra, resta ainda a gente simples, a modesta lavoura e os mais antigos, que vez por outra se permitem contar histórias e matar a saudade do passado. Saudade do bom e velho Buru, da Senhora das Neves.



A origem do nome


As razões para o nome Buru não constam em nenhuma publicação sobre a história saltense. E, também, não era explicada por nenhum cidadão. Porém, a palavra é indígena e vem sendo empregada há séculos, sem dúvida.


No livro Araritaguaba: o Porto Feliz, o professor Jonas Soares de Souza incluiu um texto já antigo, do historiador Afonso de Taunay, a título de explicar como eram feitas as canoas e os batelões utilizados pelos bandeirantes em suas viagens pelo Tietê, a caminho de Cuiabá. Num trecho do artigo, Taunay falava da procedência das melhores árvores (ximbó, tamboril e peroba) nas quais as embarcações eram cavadas: “(...) contou-nos João Evangelista Pompeu de Campos, saudoso amigo, rico repertório vivo de coisas tradicionais que a mata do Mburu, perto de Indaiatuba, era célebre pela corpulência das árvores. Nela avultavam gigantescas perobeiras. (...) Diz Cardoso de Abreu que, sobretudo perto de Capivari, se adensavam as árvores maiores da floresta admirável daquela zona”.


Portanto, tudo que o tempo fez foi eliminar o sotaque bugre da palavra Mburu, incluindo para sempre na fala das gerações, a forma mais suave, Buru.

16 de julho de 2009

Memória em postais - III


Brasital, c.1927
Acervo Museu da Cidade de Salto

A indústria Brasital, formada com capital brasileiro e italiano, marcou território e época em Salto, dominando parte da vida da cidade até por volta dos anos 1950. Construiu vilas operárias, instalou armazém, açougue, creche e escola. Quase sempre em expansão, a Brasital era o destino de muitos filhos de operários, já que a política de contratação privilegiava os familiares de empregados. Isso se concretizava por volta dos 14 anos de idade, em especial para as mulheres. Acabou ganhando o apelido de “Mãe de Salto”. A denominação Brasital persistiu até 1981, quando o Grupo Santista a adquiriu. A fábrica existiu até 1995, momento em que a então Alpargatas Santista encerrou suas atividades em Salto. Atualmente, os prédios da antiga tecelagem abrigam um centro universitário.



Rua da Igreja, c.1915
Acervo Museu da Cidade de Salto

Durante o século XIX a atual Rua Monsenhor Couto chamava-se Rua da Igreja. No início do século XX essa via pública passou a se chamar Rua Sete de Setembro. Em 1959 deu-se a última mudança, passando-se ao nome hoje em vigência, uma homenagem ao padre João da Silva Couto, que chegou a Salto em 1926, tomando posse como vigário da paróquia de Nossa Senhora do Monte Serrat, na qual permaneceu por mais de 44 anos. Sacerdote muito estimado por toda a população, sua presença marcou época. Na foto, vê-se, ao fundo, a primitiva capela construída por Antonio Vieira Tavares na década de 1690. Sua demolição ocorreu em 1928 para dar lugar à atual Igreja. Em meio à rua de terra, um carro de boi.



Chico Turco, 1928
Acervo Museu da Cidade de Salto

No século XIX a pesca garantia a subsistência de alguns moradores da região de Salto. Desde a década de 1920 viveu na Ilha Grande, pouco abaixo da cachoeira no rio Tietê, o pescador sírio conhecido por Chico Turco, que na foto mostra o resultado de uma noite de pescaria. Eram famosos os seus viveiros de peixes: grandes gaiolas imersas no rio, nas quais o cliente escolhia ainda vivo o peixe desejado. Até a década de 1950 pescar no rio Tietê era algo possível aos saltenses. Após essa data a gradativa chegada da poluição paulistana afastou os pescadores.



Pedreira no Bairro da Estação, 1947
Acervo Museu da Cidade de Salto

O ofício de canteiro, voltado ao corte de pedras, difundiu-se em Salto no final do século XIX. Famílias inteiras acabaram se dedicando a essa atividade, desenvolvendo uma técnica apurada e aprofundando um saber transmitido de geração a geração. Mesmo quando a indústria têxtil garantia a maior parte dos postos de trabalho na cidade, a extração e o corte de pedras contribuíam como expressivos geradores de empregos. A arte dos canteiros de Salto marcou a paisagem urbana da cidade. Além das ruas calçadas com paralelepípedos, muitos prédios expressivos exibem elaborados blocos de granito em suas construções. As bases das antigas tecelagens e da estação ferroviária, a escadaria da Igreja Matriz e a Usina de Lavras, estão entre os muitos exemplos encontrados.

Memória em postais - II


Fábrica de Papel, 1889
Acervo Museu da Cidade de Salto

A Fábrica de Papel de Salto foi inaugurada em 1889. Instalou-se na margem esquerda do rio Tietê, do qual captava água para movimentar suas máquinas e para os processos de fabricação do papel. Na década de 1970 foi a pioneira na fabricação do papel-moeda no Brasil. O prédio original foi construído com tijolos vermelhos sem revestimento. Nos alicerces e na base empregou-se granito, abundante nas proximidades, esculpido por hábeis canteiros, majoritariamente italianos e portugueses.



Escola Tancredo do Amaral, 1932
Acervo Museu da Cidade de Salto

A Escola Estadual Prof. Tancredo do Amaral foi criada em 1913, sob a denominação Grupo Escolar de Salto de Ytu. Em sua origem, reuniu oito escolas espalhadas pelo município. Em 1918, durante a epidemia de gripe espanhola, o prédio abrigou doentes, servindo como uma espécie de hospital de emergência. Seu patrono foi o primeiro professor formado a lecionar em Salto. Sendo a mais antiga escola da cidade, é vista hoje como um elo afetivo que une diversas gerações de saltenses que passaram por seus bancos. Sua preservação foi legalmente assegurada por meio de tombamento pelo CONDEPHAAT, em 2002.



Rua José Weissohn, c.1931
Acervo Museu da Cidade de Salto

José Weissohn foi um dos industriais pioneiros de Salto. Dá nome a esta via pública desde 1902. Antes disso, desde 1856, ela se chamava Rua do Porto. Nascido na Itália, o engenheiro Weissohn adquiriu as duas primeiras tecelagens de Salto, denominadas Júpiter e Fortuna, em 1898. Na foto, vê-se a saída de funcionários da indústria Brasital. À esquerda encontra-se o Jardim Público, então recém reformado pelo prefeito-interventor, Major José Garrido, que nele instalou postes de iluminação e um rádio-receptor.

14 de julho de 2009

Anselmo Duarte

Afamado ator e diretor cinematográfico, Anselmo Duarte nasceu em Salto, em 21 de abril de 1920, numa esquina da atual Rua Monsenhor Couto, em frente à Igreja Matriz de Nossa Senhora do Monte Serrat, onde seu pai tinha um comércio, conhecido por Venda da Capivara. De origem humilde, é o sétimo filho de Olympia Duarte, senhora que, abandonada pelo marido poucos meses após dar a luz ao caçula Anselmo, muito se esforçava no ofício de costureira para sustentar toda a família.

Em Salto, Anselmo estudou no 1º Grupo Escolar, hoje Escola Estadual Tancredo do Amaral, na mesma classe de Archimedes Lammoglia e Jota Silvestre. Ainda criança, trabalhou como engraxate, aprendiz de barbeiro e molhador de tela no antigo Cine Pavilhão, onde seu irmão Alfredo era projecionista.

Em sua cidade natal, Anselmo viveu até os 14 anos, quando foi para São Paulo, onde trabalhou como datilógrafo, contabilista e dançarino. Mudou-se para o Rio de Janeiro, e lá atuou como figurante em filmes e redator e repórter de uma revista.

Seu primeiro trabalho como ator foi no filme inacabado do diretor norte-americano Orson Welles, It's All True, em 1942. Maior galã do cinema brasileiro nos anos 1940 e 1950, participou de produções dos estúdios Cinédia, Atlântida e Vera Cruz. Estreou como ator principal no filme Querida Suzana, de 1946, e seu primeiro trabalho como diretor, coroado de muito sucesso, foi em Absolutamente Certo, de 1957.

De suas atuações como ator na Cinédia, destaca-se Pinguinho de Gente, de 1949. Na Atlântida, Anselmo Duarte atuou, dentre outros, em Carnaval no Fogo e Aviso aos Navegantes, ambos do diretor Watson Macedo.

Uma das mais destacadas atuações de Anselmo foi em Sinhá Moça, do diretor Tom Payne, que ganhou o Prêmio Especial do Júri, em Veneza. No papel do compositor Zequinha de Abreu, em Tico-Tico no Fubá, também foi muito elogiado pela crítica. São essas produções da Vera Cruz que fizeram crescer a imagem de Anselmo como galã do cinema nacional. Foi também ator em Independência ou Morte, produzido em 1972.

Da esquerda para a direita: Anna Pierangeli, Mazzaropi, Debbie Reynolds, Anselmo Duarte e Ilka Soares, em visita aos estúdios da Vera Cruz, em São Paulo.
O ápice de sua carreira deu-se em 1962, quando dirigiu O Pagador de Promessas – único filme brasileiro a receber o maior prêmio mundial do cinema, a Palma de Ouro no Festival de Cannes. O então jovem diretor venceu concorrentes que pertencem à história cinematográfica mundial, como Luis Buñuel, Michelangelo Antonioni e Robert Bresson.

Com a premiação, Anselmo Duarte ganhou uma série de desafetos, principalmente entre os jovens diretores do Cinema Novo. A carreira de Anselmo Duarte como diretor seguiu até o final da década de 1970. Outros de seus filmes ainda esperam uma reavaliação, tais como Vereda da Salvação, Quelé do Pajeú, Um Certo Capitão Rodrigo e O Crime do Zé Bigorna.

É, portanto, impossível pensar o cinema brasileiro omitindo a contribuição do ator e diretor saltense Anselmo Duarte. Sua carreira confunde-se com a própria história da arte cinematográfica nacional. Somando-se suas atuações como ator e diretor, são mais de quarenta filmes. Seu trabalho ao longo várias décadas, reconhecido internacionalmente, permite afirmarmos se tratar de um dos mais ilustres filhos desta terra.


Anselmo Duarte filmando em Salto, no Monte Belo, por volta de 1970.

Nota: Anselmo Duarte faleceu em São Paulo (SP), em 07/11/2009, sendo sepultado no Cemitério da Saudade, em Salto (SP), sua cidade natal. Em sua sepultura foi gravado seguinte epitáfio, um desejo seu expresso em vida: "Eis aqui a última história de um contador de histórias" (trabalho conduzido pelo autor deste blog). Pouco tempo depois, instalamos um painel em frente à sepultura que traz um resumo biográfico do grande diretor de cinema.

8 de julho de 2009

A história de uma quadra

O terreno no qual se instalará o Centro de Educação e Cultura (CEC) recebeu as primeiras construções apenas na década de 1950. Antes disso era um descampado, onde garotos se reuniam para jogar bola. Nos arredores, marcava a paisagem uma grande árvore, o popular arvão.


“O Arvão”, óleo sobre tela de Lydia Dotta Lobo, 1987.

Em 1949, a quadra formada pelas ruas José Revel, Prudente de Moraes, Rio Branco e Floriano Peixoto, foi declarada de utilidade pública e desapropriada. O objetivo do poder público era construir, nesse terreno, uma maternidade para Salto.

Entretanto, o primeiro prédio a ser edificado na área foi o Posto de Puericultura (foto abaixo), espécie de posto de saúde pediátrico, inaugurado pelo prefeito João Baptista Ferrari em 23 de julho de 1950. Na ocasião, esteve presente o Governador do Estado de São Paulo, Adhemar de Barros.



Em 1º de maio de 1953, já na gestão do prefeito Vicente Scivittaro, inaugurava-se o que era, à época, o maior parque infantil do Estado de São Paulo, ocupando cerca de dois terços da quadra. Nesse dia, Anselmo Duarte, já reconhecido como astro do cinema nacional, acompanhado da atriz Ilka Soares, desatou a fita do portão de entrada do parque, inaugurando-o.


Anselmo Duarte e Ilka Soares, ao lado do então prefeito de Salto, Vicente Scivittaro, no dia da inauguração do Parque Infantil, 1º/05/1953 (arquivo pessoal de Ettore Liberalesso).

Dias antes, finalmente, iniciara-se a construção da Maternidade Nossa Senhora do Monte Serrat. Inaugurada a 4 de setembro de 1955, com 24 leitos, foi considerada “orgulho da mulher saltense”. Esse prédio, que hoje abriga o Atende Fácil, por cerca de 30 anos, foi o local de nascimento de milhares de saltenses.


A antiga maternidade, em foto de 1955.

Com o passar dos anos, as antigas construções da quadra passaram a ter outros usos. Exemplos disso são os prédios da antiga maternidade, que abrigou a Secretaria da Saúde, e o do Posto de Puericultura, que se tornou sede da Secretaria de Ação Social e Cidadania. Em 1994, ampliando o conjunto de edificações, erigiu-se no local uma sede para a Secretaria da Cultura e Turismo.

Com a remodelação empreendida para receber o Centro de Educação e Cultura, temos hoje uma paisagem bastante modificada e moderna. Contudo, um olhar mais atendo pode perceber, nos detalhes, traços da memória dos usos de outros tempos.

3 de julho de 2009

União Musical Gomes Verdi

No próximo dia 9 de julho comemora-se o aniversário de 70 anos da União Musical Gomes Verdi, herdeira da extinta Corporação Musical Giuseppe Verdi, também conhecida por Banda Italiana, fundada em 1901 e extinta em 1938. Diz-se isso por conta de a maior parte dos membros da Gomes Verdi, em seu início, terem militado antes na Banda Italiana. Trata-se de um grupo musical ainda hoje em atividade, que com regularidade se apresenta nas mais diversas ocasiões comemorativas em nossa cidade.


Banda Italiana em 1922.

O primeiro regente da Gomes Verdi foi João Batista Dalla Vecchia [1896-1981], também conhecido por seu trabalho à frente da extinta Escola Anita Garibaldi. Fundada a banda, os ensaios iniciais ocorreram na residência de Marieta Galafassi, grande incentivadora do grupo. Em seguida, os músicos passaram a ensaiar numa dependência pertencente à Associação Atlética Saltense – situada na Rua 23 de Maio – até o momento em que a União Musical vinculou-se à Sociedade Italiana de Mútua Assistência Giuseppe Verdi, o que já havia ocorrido com a Banda Italiana em 1917. Fundada em 9 de julho de 1939, a primeira apresentação pública da Gomes Verdi ocorreu logo no dia 22 do mesmo mês. Nessa ocasião, sob aplausos, desfilou por algumas ruas de Salto.


União Musical Gomes Verdi em 1958, à porta do Teatro Verdi.

Afastando-se da regência da banda em 1958, Dalla Vecchia deixou o comando nas mãos do italiano Mauro Fabbri [1889-1963] que, ao falecer, foi substituído por Leonel Maestrello, que ficou por pouco tempo. Estiveram ainda no comando o maestro Ciro, Rolando Lenzi e, mais tarde, Mário Baldi [1919-1990], que se firmou no cargo, ocupando-o até junho de 1990 (Um vídeo de 1987 mostra Mário Baldi e a banda, num programa exibido na TV Cultura. Veja na internet: http://tiny.cc/LgquC).

Na seqüência, a regência passou às mãos de Iniver Gonzaga. E em 1997 às de Hélio Bordini, que nesse ano acumulou essa função com a de presidente, em substituição a Iulo Martins. Sob a batuta de Bordini a banda gravou seu primeiro CD (2004), com repertório variado, incluindo músicas tradicionais e composições de saltenses. Em janeiro de 1998 Armando Maestrello Jr. assumiu a presidência da Gomes Verdi. Com a saída do maestro Bordini, passaram pela regência Osvaldo Miller, Ricardo Ghiraldi, Julio Cesar Savi e Dino Maestrello, este último ainda hoje à frente da Gomes Verdi.


Recente apresentação da Gomes Verdi no Complexo Cachoeira.

Quem compõe a União Musical Gomes Verdi hoje:

Músicos

Clarinetes: José A. Inoio, Cláudia Caleffo, Rafael e Anderson
Trompetes: Adelício Vicente, Dorival dos Santos, Valdemar Segalla, Jonathan Andrade, Cecília Canova e João Paulo
Saxofones: Josias Kotaki, Sandro Amancio, Marco A. da Silva e Marco A. de Jesus
Trombones: Benedito de Campos, Adriano Maestrello e Dulcinéia de Jesus
Baixo: Nadyr Brites
Teclado: Marcelo Antero
Percussão: Braz Fontana, Gustavo, Gabriel P. da Silva, Vitor Piva e Felipe Serratti
Regência e trompete: Dino Maestrello

Diretoria
Presidente: Armando Maestrello Junior
Vice-presidente: José Alfredo Inoio
Secretário: Daniel Gasparini
2º Secretário: José Luiz Piva Bigão
Tesoureira: Dulcinéia D. de Jesus
2º Tesoureiro: Marcos A. da Silva
Arquivista: Adelício Vicente
Conselho: Brás B. Fontana e Claudia Caleffo


Aproveitamos para mencionar que ocorrerá um concerto comemorativo de 70 anos de fundação da União Musical Gomes Verdi, a ser realizado na Sede da Sociedade de São Vicente de Paulo, dia 04/07/2009, às 20 horas.

Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966