26 de agosto de 2010

A tradição dos andores da Padroeira

Desde tempos remotos, dada a antiguidade das festas setembrina saltenses, grupos de devotos se mobilizavam para confeccionar os andores que transportariam a imagem de Nossa Senhora do Monte Serrat nas procissões em seu louvor. Para se ter uma ideia da atmosfera que envolvia a nossa cidade nessas ocasiões, há mais de 50 anos, podemos ler um relato publicado em 1949 no jornal O Trabalhador, órgão ligado à Igreja, sobre a procissão daquele ano:

“(...) dia 8 de setembro, festa da Natividade da Virgem, festa de nossa excelsa padroeira Nossa Senhor do Monte Serrat. Vibram os corações de alegria, exultam as almas de contentamento. Cedo, a missa solene em louvor à Virgem. Cantou-a Monsenhor João Couto (...).

À tarde, as ruas da cidade quase não comportavam mais os transeuntes. Ia sair Nossa Senhora, ia percorrer as ruas da cidade em majestosa procissão.

Às cinco horas da tarde, começa a Virgem a percorrer a cidade, aclamada por uma multidão imensa, incalculável. Era uma onda que se movia acompanhando sua Mãe e Rainha. Todos queriam levar Nossa Senhora.

Começa a escurecer e a nossa Rainha e Mãe continua seu passeio pelas ruas todas iluminadas. A multidão, a cada rua, a cada esquina que passa, vai se avolumando. A massa humana que acompanha vai se comprimindo cada vez mais, pois as ruas da cidade se tornam pequenas.

Escurece. E Nossa Senhora continua a peregrinar abençoando o bom povo saltense. Acendem-se as luzes do andor. Espetáculo maravilhoso! Nossa Senhora por entre as dálias e luzes, sentada em trono de glória, com o Menino Deus em seus braços, parece sorrir ao seu povo, agradecendo a todos as homenagens prestadas em seu louvor.

Vibra o povo de júbilo, de alegria íntima. E nesse momento, não se sabe o que admirar: se Nossa Senhora nesse andor material, fabricado por mãos humanas, que tanto nos deslumbra, ou aquele outro, que vai no coração dos que tomam parte nesta apoteose, andor espiritual feito de amor à Virgem, gravado na alma desses milhares de fiéis devotos.

Aproxima-se Nossa Senhora de novo, sobe a escadaria da Igreja e, virada pra o povo, ela parece dizer seu adeus a todos. Nesta hora, por entre o estourar dos rojões, por entre as notas vibrantes das bandas, a alma e o coração não suportando mais a alegria que lhes vai no íntimo, começam a derrubar lágrimas que purificam mais ainda as almas e o coração de todos que assistem ao espetáculo.

E Nossa Senhora subiu a escadaria, abençoou mais uma vez o povo e entrou. Terminara a apoteose. Estava terminada a festa, e das festas setembrinas... Só a saudade ficou.”

E para levantar alguns detalhes sobre a criação desses andores tão elogiados naqueles tempos, entrevistei na última semana a senhora Justina Pisciguelli, conhecida em Salto como Justa, que aqui chegou com 5 anos de idade, quando seus pais vieram para trabalhar na Brasital. Nascida em 1914, essa senhora, que hoje conta com 96 anos, ficou localmente famosa por sua habilidade na criação de flores em tecido e arame. Esse talento se manifestava em particular quando da montagem do andor de Nossa Senhora do Monte Serrat nas tradicionais festas nos meses de setembro.

Justina Pisciguelli
O ponto alto das festas, em sua parte religiosa, era a procissão. Nela, o andor sobre o qual era carregada imagem da Padroeira saia às ruas sempre bastante enfeitado. Isso era o resultado do trabalho incansável de senhoras devotas, como Justa, que por várias semanas antes da Festa do Salto se empenhavam dia e noite na preparação desses adornos. Havia até mesmo certo segredo na exibição desses andores, que eram aguardados com grande expectativa por parte dos fiéis. A partir de 1959, os andores de Nossa Senhora, que eram carregados nos ombros dos devotos, deram lugar aos carros-andores – ainda mais bem elaborados.

Justa começou a fazer flores por volta dos 20 anos de idade. E seu talento foi aplicado na criação dos andores de Nossa Senhora do Monte Serrat ainda nos anos 1940. O primeiro convite partiu de Itália Manfredini, uma saltense muito ligada aos afazeres da Igreja. A partir daí, esse trabalho tornou-se um hábito de Justa que perdurou até 1970. E a cada festa da Padroeira, um novo andor com as belíssimas criações de Justa era esperado, tornando-se uma atração aguardada por muitos.


Carro-andor de 1960, com as flores de Justa. Ao fundo, um dos blocos da Brasital.
Segundo Justa relata, primeiro havia a necessidade de se tingir o tecido branco, geralmente cetim ou veludo. Na elaboração das folhas, para se criar nuances, três tingimentos eram necessários, empregando-se as cores verde, amarela e vermelha. Isso as deixava mais parecidas com as folhas de verdade. A seguir, era necessário engomar os tecidos. Alguns moldes metálicos eram utilizados, possibilitando o corte de várias folhas e pétalas ao mesmo tempo, com uso do martelo, sendo as texturas e curvaturas feitas posteriormente com um ferro aquecido. Já para criar caules e galhos, empregava-se arame revestido com papel verde.

Embora fossem mais frequentes e famosas, não apenas rosas eram criadas por Justa. Ao longo dos diversos em anos que elaborou os andores, crisântemos, orquídeas, lírios, amores-perfeitos, tulipas, flores de maçã, de cereja – dentre outras – surgiram das mãos de Justa. Houve vezes em que chegou a fazer imitações de cachos de uva. Para isso, utilizou grão-de-bico, ao qual aplicou sucessivas camadas de parafina tingida com pigmento roxo, além de talco. Até mesmo flor de trigo a artista criou para os andores, a partir de sisal, papel branco e spray de tinta dourada.

Texto do verso de uma fotografia do andor de 1960 presenteada pelo Mons. João Couto, guardada por Justa, com agradecimentos pelo trabalho realizado.
Embora com quase um século de vida, Justa ainda lembra de algumas pessoas que a auxiliavam na criação dos andores – frisando que não era um trabalho que fazia sozinha. E cita: Itália Manfredini, a principal incentivadora, responsável pela montagem dos andores a partir dos enfeites criados; Joaquim Cargnelutti, o “armador”, encarregado da iluminação, armações e ferros que serviam de suporte; Helena Stefani, Maria Vitale, Helena e Marta Teixeira, Iraídes Lammoglia, Terezinha Stoppa, Mathilde Salvadori, dentre outras.


CRONOLOGIA

Abaixo, seguem transcritos alguns comentários, ao longo dos últimos 50 anos, que a imprensa saltense (jornais O Trabalhador e Taperá) veiculou a respeito dos tradicionais andores:

1951 
“O comentário desta semana não poderia girar senão em torno do acontecimento máximo do ano em nossa cidade (...): a festa da Padroeira! (...) As procissões concorridíssimas, transportando andores artisticamente ornamentados, desfilaram sob admiração unânime, tal a ordem observada e o respeitoso silêncio.”

1952 

“Na Matriz, o corre-corre é contínuo: comissões de festeiros, em sucessivas reuniões, preocupam-se em dar solução aos mil e um problemas que lhe estão afetos... membros de associações religiosas esmeram-se na ornamentação dos altares, na iluminação do templo, na decoração dos andores... no coro, orquestra e cantoras ultimam os preparativos para o grande dia.”

“As procissões, especialmente a do dia 8, constituíram deslumbrante espetáculo onde se destacavam os andores artisticamente adornados, a profusão de luzes, e, sobretudo, a grande piedade do povo que devotamente desfilava.”

1953 

“(...) notava-se a piedade, o recolhimento dos católicos locais e visitantes, reveladores da grande devoção à excelsa Padroeira de Salto, cujo andor, singela e artisticamente enfeitado, era disputado por imensa multidão que se acotovelava num grande esforço para poder, embora por alguns segundos apenas, tê-lo em seus ombros.”

1954 

“Mais uma vez suscitou viva admiração e os mais francos elogios da nossa população e dos adventícios à nossa festa, a brilhante ornamentação dos andores que tomaram parte na procissão.

Entre estes, cumpre-nos destacar o da Padroeira. Maravilhoso é a expressão mais acertada. Geralmente a entrada das procissões é feita silenciosamente, aos sons dos sinos que precedem quase sempre o ‘Sermão da Despedida’. Mas desta vez algo diferente aconteceu. Aquelas milhares de pessoas que se aglomeravam nas adjacências da Matriz não se contiveram: ante o espetáculo de luzes e flores constituído pelo trono da Virgem, que subia as escadarias e adentrava o templo, prorromperam em aplausos. Constituiu isso a novidade da Festa da Padroeira, e um acontecimento, que por ser ímpar, deixou vivíssima impressão e espelhou fielmente os sentimentos do amor filial com que Maria Santíssima é venerada em nosso meio.”

1955 

“No desfile religioso do dia 8, o andor da Padroeira, caprichosamente ornamentado, foi conduzido por uma massa popular que de lado a lado da via pública estendia-se sobre seis quarteirões ou mais.”

1956 

“A iluminação e ornamentação dos andores e altares, graças ao trabalho paciente de alguns abnegados, estiveram impecáveis.”

1957

 “A ornamentação dos andores, nos quais foram transportadas as imagens, foi muito elogiada, por ter sido executada, mais uma vez, com arte e bom gosto.”

1958 

“A parte religiosa da festa terminou com a tradicional procissão de N. Senhora do Monte Serrat. (...) Podemos dizer que esteve bem organizada e concorridíssima, com andores ornamentados com arte e capricho.”

1959

 “Andores – Todos enfeitados com muito bom gosto. Aquele de Nossa Senhora, no entanto, constituiu-se num capítulo à parte nos festejos deste ano. Um verdadeiro mimo de perfeição e rara beleza. O carro-andor despertou invulgar interesse, plenamente justificado, aliás.”

1960
“Às 17,30hs realizou-se a majestosa procissão com a venerável Imagem de Nossa Senhora conduzida pelos fiéis em carro-andor artisticamente ornamentado.”

1964

 “A ornamentação do templo e dos andores – notadamente o da Padroeira – foi realizada com muito bom gosto e arte, compensando, por certo, o esforço e atenção das pessoas que se dedicaram a esse mister.”

1966
“Ao cair da tarde enorme multidão compareceu à Procissão da Padroeira, cuja venerável imagem, em carro-andor neste ano ainda mais artisticamente ornamentado, percorreu as ruas da cidade entre cânticos e orações do povo.”

1968

 “À tardinha, preparativos para a grande procissão da Padroeira: Banda de Clarins, à cavalo, mais quatro Corporações Musicais, coro de vozes, jovens com vestes especiais de “Damas de N. Senhora”, anjinhos, guardas de honra, e, finalmente, a Rainha, em seu trono-andor, artisticamente ornamentado e iluminado.”

1970
“A Missa solene e a procissão do dia 8, foram os pontos altos das festividades, com o andor de Nossa Senhora despertando muita atenção pela originalidade de sua ornamentação.”

1974 

“Na procissão, aquele esperado sucesso com uma imensa multidão participando da homenagem à Mãe de Deus, cuja imagem, em artístico e bem ornamentado carro-andor, foi festejada pelos milhares de saltenses e visitantes que acorreram de toda parte. Elogios os mais merecidos à apresentação do andor, que neste ano esteve mesmo belíssimo.”

“Como nos anos anteriores, milhares de pessoas acompanharam a procissão do dia 8, levando o andor de (...) pelas ruas da cidade. O andor da nossa Padroeira, aliás, provocou muitos comentários favoráveis, pois estava enfeitado com riqueza e bom gosto, maravilhando a todos.”

1975 

“Às dezoito horas, num imenso cortejo de estimadamente vinte mil pessoas que acorreram de todas as cidades vizinhas, além do povo da cidade, a imagem da Padroeira percorreu as ruas (...) em seu trono-andor lindamente ornamentado por pessoas da cidade, tendo sobre sua cabeça imensa coroa de flores cintilantes, e ladeada por anjos tocando trombetas e por arcos recobertos por três mil rosas.”

“À tarde, num majestoso carro-andor ricamente ornamentado e originalmente puxado por duas parelhas de bois, a Virgem do Monte Serrat saiu às ruas da cidade e abençoou os lares saltenses acompanhada por incalculável multidão Nas escadarias da Matriz, à entrada da procissão, essa mesma multidão ovacionava delirantemente a Padroeira.”

Carro-andor de 1975, puxado por bois
1979 
“Bem ao cair da tarde, realizou-se com esplendor a Procissão da Padroeira: carro-andor novo e funcional, enfeites artísticos e iluminação profusa destacaram ainda mais, aos olhos da multidão, a belíssima imagem da Virgem do Monte Serrat e do Menino Jesus, com suas coroas reluzentes, vendo-se ainda diante da mesma três imagens de anjos ali colocados neste ano, tornando ainda mais deslumbrante o conjunto.”

1991

 O ANDOR DE NOSSA SENHORA – Em contato que mantivemos com Carlos Pouza, responsável pela elaboração do Baldaquino e Andor, tomamos conhecimento que:

“Na intenção de resgatar uma antiga tradição, a de trazer a imagem da padroeira para seu andor no momento da procissão, resolveu-se neste ano preparar-lhe um local especial onde pudesse permanecer antes e depois da procissão com toda a pompa possível. Por esta razão construiu-se o Baldaquino em estilo barroco, que abriga a imagem desde uma semana antes da procissão.

Ao carro-andor de Nossa Senhora do Monte Serrat foi dado o mesmo estilo. Esta preocupação existiu para que houvesse harmonia entre um e outro, para que o visual proporcionado pelo Baldaquino até o momento da procissão, tivesse continuidade no carro que a conduziria pelas ruas da cidade e este visual marcado pela riqueza de significativos detalhes fosse encontrado em ambos.

A imagem passou pela cidade colocada em um pedestal dourado que a elevou a 1,80m do chão, considerando a altura do próprio carro, era guarnecida de quatro colunas feitas em tordilhões de mármore vinho, envoltos por folhas de louros dourados; dessas colunas, duas que ficaram ao lado da imagem eram suportes de candelabros dourados e outras duas à frente levavam arranjos florais. Atrás, acima de sua coroa, pairavam dois anjos que seguravam uma faixa na qual se lia a inscrição Regina Pacis (Rainha da Paz) e ainda mais acima, uma pomba branca, da qual se abriam raios dourados, lembrava a ação do Espírito Santo sobre a Virgem. Mil e duzentos botões de rosas champanhe naturais deram arremate ao carro, cujo ponto mais alto media 4,50m de altura e era simuladamente puxado por vinte meninos vestidos de franciscanos.

Tudo isso, inclusive o baldaquino, foi realizado num tempo recorde de vinte dias, o que só foi possível graças à ajuda e ao desprendimento de inúmeras pessoas que trabalharam diariamente até 1h00 da manhã. E, sem dúvida, graças às pessoas, estabelecimentos comerciais e empresas que custearam a obra.

Os materiais empregados foram os mais diversos possíveis: madeiras, ferros, arames, panos, espumas, cordas, metalóides, tintas, alforjes, isopor, etc.”

1992 

“O ANDOR – Um dos pontos altos da procissão foi, sem dúvida nenhuma, o andor com a imagem de Nossa Senhora do Monte Serrat, que neste ano, mais uma vez, foi maravilhosamente ornamentado pela equipe de Carlos Pouza, que conta com as seguintes pessoas: Rosely Cristina Ferrari, Rosi Mari Aparecida Ferrari, Vera Colaço, Maria Cristina Pouza Sontag, Amilcar Sontag, Alice Pouza, Maria Silvestrin, Elenice Terezinha Salvadori, Raquel Pacheco, Maria Laura Tomazini, Dalva Maria Gianetti, Eduardo Martins, Dinorah e Maria Augusta Mazza, Valdir (Arte Morena), Ana Carneiro, Antonia Micai, Fátima Costa, Angela Maria Bertolozzo Merlin, Virginia (artista plástica), Lolo, Priscila e Gisara Laghi, Irene Cargnelutti Scallet e os jovens Clemente, Rosano e Claudio.

Esta foi a equipe que durante 10 dias trabalho duro, das 14 às 23 horas, para deixar tudo pronto na hora certa. A reportagem manteve contato com Carlos Pouza, coordenador da equipe, e tomou conhecimento de todos os detalhes para se chegar a essa maravilha. Tudo foi cuidadosamente estudado e pesquisado, decidindo-se optar por vitrais. Assim, o trabalho começou a ser desenvolvido utilizando-se como armação o cangólio (tipo de tapete usado antigamente, feito à base de PVC); nos lugares dos vitrais usou-se gelatinas espanholas (importadas), próprias para colorir luzes em teatro. Além disso foi feita uma armação de ferro, com plataforma de madeira para que os vitrais sobressaíssem no carro; isopor para a moldura dos vitrais; brocado francês no fundo da cúpula de cada vitral e cerca de 120 metros de alfogre dourado, que faziam os raios que divergiam dos pés da imagem para as bordas do andor; flores desidratadas. Os desenhos dos vitrais das laterais formavam o Sagrado Coração de Maria, envolto em flores de lis, que são símbolo Mariano, e no de trás, o sol lembrando a visão apocalíptica de São João. A cúpula do andor, em estilo oriental, lembrou a influência árabe na arquitetura espanhola, região onde Nossa Senhora do Monte Serrat se originou. Na frente do andor, 20 garotos vestidos de franciscanos levaram tochas que foram feitas especialmente para a procissão. Realmente um trabalho de divina arte, que só essa equipe, comandada pelo especialista Carlos Pouza, poderia fazer.

Na procissão tivemos ainda o tradicional grupo de anjos comandados pela abnegada Mercedes Moro; estandartes com a Ladainha, destacando-se os 10 quadros pintados por Ana Carneiro e Virginia (...). Todos estão de parabéns por mais esse belíssimo trabalho, que através deste jornal, recebe os aplausos e os agradecimentos de todo povo saltense.”

1993 

“Apesar do tempo não estar muito firme, chegando até a chover com pouca intensidade, realizou-se no dia 8 de setembro à tarde, a tradicional procissão em honra à Padroeira, (...). Mais uma vez esse foi o ponto alto dos festejos religiosos, contando com cerca de 8 a 10 mil pessoas, segundo cálculos do Mons. Mário Negro. A procissão contou, além do andor, com cerca de 80 crianças e jovens carregando estandartes com invocação à ladainha de Nossa Senhora, 20 garotos vestidos de frades ilustrando o andor, e painéis enaltecendo o motivo religioso do evento. O andor mais uma vez foi maravilhosamente decorado por Carlos Pouza, Rosely Ferrari e equipe, com apoio técnico dos irmãos Cláudio e Clemente e o primo Rosano Andrietta.”

1995 

“A ornamentação do andor neste ano esteve singela, destacando a figura da Padroeira, num trabalho do Monsenhor Mário e uma equipe de colaboradores.”

1996

 “Por pouco o mau tempo não atrapalhou a data máxima da Padroeira da cidade, que é, sem dúvida, a procissão de Nossa Senhora do Monte Serrat. Por volta das 18 horas, o andor saiu da igreja, levado por cavaleiros especialmente preparados para a solenidade, percorrendo o trajeto de costume, sendo acompanhado por cerca de 4 mil pessoas. Depois de uma hora de percurso, a imagem teve uma chegada triunfal, sendo recebida com calorosos aplausos e uma espetacular queima de fogos.”

1998 

“(...) o andor de N. S. do Monte Serrat neste ano foi decorado com flores de maçã, feitas artesanalmente pelo artista plástico Tonino Chiavegatti, responsável pelo carro-andor.”

1999

 “Andor – O carro-andor que conduziu a imagem da virgem do Monte Serrat pelas ruas da cidade, como nos dois anos anteriores, foi ornamentado pelo artista Tonino Chiavegatti, que utilizou 423 galhos de orquídeas, “olho de boneca” nas cores branca, rosa, lilás, uva e palha, além de 100 metros de fios de nylon com botões de espelho. Para montar o andor, o artista demorou aproximadamente 3 dias, sendo que as flores, doadas por uma família saltense, serão vendidas aos fiéis.”

2000 

“A imagem original da Padroeira de Salto (...) voltou às ruas de nossa cidade no final da tarde de ontem, em um andor decorado com rosas e palmas brancas de cor-de-rosa. Anteriormente, ela havia percorrido as ruas da cidade, em procissões, até 1796, quando foi substituída pela imagem destruída no incêndio de 1935.”

2001 

“A procissão (...) encerrou as comemorações religiosas da Festa da Padroeira no final da tarde e início da noite de sábado, reunindo cerca de 8 mil pessoas (...). Após a missa, os fiéis acompanharam o andor que levou pelo segundo ano consecutivo a antiga imagem de Nossa Senhora do Monte Serrat, juntamente com grupos de orações e da banda Gomes-Verdi.”

2002 

“De acordo com representantes da comunidade Monte Serrat, mais de 15 mil pessoas acompanharam o andor da Padroeira durante o trajeto (...). A imagem de Nossa Senhora foi puxada por um carro com oito bois e, após a procissão, houve queima de fogos.”

12 de agosto de 2010

Colégio Estadual Professor Paula Santos

“E já se realizaram em nossa cidade os exames de admissão ao curso Ginasial. Muitos alunos da 1ª série, que haviam iniciado o curso na vizinha cidade de Itu, estão agora matriculados em sua própria casa, assim podemos dizer”. Era assim que começava a notícia, assinada por Joseano Costa Pinto, intitulada “Ginásio”, veiculada na primeira página do extinto jornal saltense O Liberal, edição de 4 de março de 1951.

Em janeiro de 1948 se anunciou que seria criado em Salto um ginásio estadual. Diante disso, algumas comissões se formaram visando apressar a sua construção. Mas foi somente no Diário Oficial do Estado de 2 de janeiro de 1950 que foi publicada a lei número 613, criando oficialmente o Ginásio Estadual de Salto. Em 30 de novembro seria emitida a autorização do Ministério da Educação para que o ginásio começasse a funcionar.

A história da instalação de um ginásio em Salto – ou seja, a instituição do ensino escolar com classes para além da quarta série primária – é marcada por uma reunião realizada na noite de 25 de fevereiro de 1950. Essa reunião ocorreu na sede da Sociedade Instrutiva e Recreativa Operária Saltense (SIROS), no espaço que hoje abriga o Museu da Cidade, mas não atraiu muitos participantes. A população em geral não se mobilizou, apesar do convite publicado na imprensa e do desfile de uma corporação musical pelas ruas da cidade, momentos antes, com o objetivo de chamar a atenção da população para o acontecimento.

Mesmo assim, o grupo batizado “Comissão Provisória Pró-Ginásio” conseguiu reunir os líderes locais, dando início aos trabalhos. Nesse momento, os membros dessa comissão eram acusados pelo jornal O Liberal de desejarem fazer uso político da conquista de um ginásio para Salto, alegando que a atribuição de um único padrinho para a conquista seria algo injusto, sendo o nome do deputado Martinho Di Ciero, como responsável pela iniciativa, aclamado por uns e questionado por outros.

Embora com reduzida participação do povo, a reunião foi bastante agitada, sendo que um dos membros de oposição ao governo municipal teve que ser contido pelo delegado de polícia para que “não subisse na mesa”. Ao final, uma comissão definitiva para os trabalhos foi escolhida, com o professor Cláudio Ribeiro da Silva à frente, como presidente. Esses primeiros passos em torno da luta pela criação de um ginásio estadual em Salto movimentaram algumas semanas de discussões na imprensa e nos bastidores políticos.

Em 11 de janeiro de 1951, o então Prefeito Municipal de Salto, João Baptista Ferrari, abriu concorrência pública para as “obras de construção do Ginásio de Salto” – que deveriam ser executadas de acordo com o projeto e especificações fornecidas pela própria Prefeitura – antes mesmo de se ter o terreno. Em 8 de fevereiro se anunciava que a proposta da Sociedade Construtura Celbe Ltda., única empresa que concorreu, fora a vencedora. Passado um ano da animada reunião de 25 de fevereiro, que definiu a comissão definitiva pró-ginásio, o que se conseguiu foi apenas a instalação do ginásio de forma provisória em salas do Grupo Escolar Tancredo do Amaral, um prédio de 1913. Essa ideia teria partido do Dr. Archimedes Lammoglia e sido lançada num encontro informal entre autoridades ocorrido no Clube Ideal.

Em dezembro de 1950 foram realizados os exames de admissão do primeiro grupo de alunos, que começou a frequentar as aulas no dia 1º de março de 1951, em duas salas do Grupo Escolar Tancredo do Amaral. Após algumas polêmicas em torno dessa forma de se iniciar o curso ginasial em Salto, em maio de 1952 da Prefeitura doou ao Estado um terreno de 8 mil metros quadrados para a construção de um prédio próprio para o ginásio.

A situação de improviso, apesar dos trâmites visando a construção de um prédio próprio, perduraria por alguns anos. Sobre o ginásio estadual, em 1959, o Dr. Adriano Randi dizia – em livro no qual traçou um panorama completo da cidade de Salto naqueles tempos – que “por falta de prédio próprio” o ginásio estava “funcionando provisoriamente há 8 anos no prédio do G. E. Tancredo do Amaral, em condições precárias e com prejuízo do curso primário do mesmo”, com um total de 138 alunos matriculados naquela data. Nesse mesmo ano, o Tancredo passou por uma reforma e o ginásio funcionou temporariamente em quatro salas do Externato Sagrada Família. Em 1960, por iniciativa do deputado Dr. Archimedes Lammoglia, foram iniciadas as obras de construção do prédio do ginásio, concluídas em 1962. No ano seguinte, as aulas começaram a ocorrer também no período noturno.

O Colégio Paula Santos no início da década de 1960.

Jubileu de Prata do "Paula Santos". Foto de Benito Begossi.

Curso de admissão ao ginásio, 1967. Foto de Jessia Sampaio.

Formatura de Araldo Bertani Jr., recebendo os cumprimentos do diretor Antônio Ferrari.


O PATRONO

Grande educador, José de Paula Santos – escolhido para nomear o primeiro ginásio estadual de Salto – nasceu na cidade de Guaratinguetá/SP, em 22 de janeiro de 1893, fazendo seus primeiros estudos naquela cidade, onde se formou professor em 1911. Lecionou nas cidades paulistas de Lorena, São Carlos, Rio das Pedras e Guaratinguetá, antes de se radicar em Salto em 12 de maio de 1915, passando desde logo a lecionar no então único grupo escolar de Salto, que mais tarde viria a se chamar Tancredo do Amaral. Em 1917, casou-se com dona Maria de Almeida, de Itu, conhecida em Salto como Dona Cotinha. Paula Santos saiu do Tancredo do Amaral em 1932 para lecionar matemática no Instituto Regente Feijó, em Itu, local onde se aposentou em 1941. Pequeno e franzino, era apelidado de “Baxixa”. Outros ainda o chamavam de “Anchieta de Salto”. Em Salto, participou ativamente da vida social, pertencendo à diretoria de algumas sociedades, como a Sociedade Instrutiva e Recreativa Ideal - SIRI. Faleceu em 1949.

6 de agosto de 2010

Salto já contava com duas usinas hidrelétricas instaladas antes da década de 1930

Primeira usina hidrelétrica instalada em Salto, a Usina de Lavras demorou cerca de dois anos para ser construída. A inscrição que se pode ver na entrada do prédio, ainda hoje, marca o ano de 1904. Contudo, ela foi inaugurada somente em 1906 pela Companhia Ituana de Força e Luz. Foi, portanto, a segunda usina hidrelétrica instalada às margens do rio Tietê, sendo a primeira em Santana de Parnaíba, em 1901. Nesses primeiros tempos, Lavras atendia ao núcleo urbano de Itu e alguns pontos de sua zona rural. Um ano e meio mais tarde foi a vez de Salto utilizar a eletricidade gerada por ela.

A usina de Lavras e o rio Tietê, em vista aérea, 1930.

Em 1929, Lavras foi vítima de uma grande inundação e ficou paralisada por sete anos devido aos graves danos causados nos equipamentos. Talvez essa tenha sido uma das maiores cheias do rio Tietê ocorridas no século XX. Quando Lavras voltou a operar, funcionou por vinte anos como unidade complementar da Usina de Porto Góes, localizada também em Salto, sobre a qual trataremos a seguir.

Obsoleta, Lavras foi colocada à venda em 1956. Nenhum negócio foi concluído e a usina ficou abandonada. Em 1971 a Prefeitura de Salto adquiriu a propriedade no entorno da usina. Somente em 1992, com a criação do Parque de Lavras, é que o prédio da usina e a área circundante foram, de fato, encarados como patrimônio histórico e natural da cidade. Durante as primeiras décadas do século XX várias empresas geradoras de eletricidade se instalaram no interior paulista. As usinas instaladas às margens rio Tietê, nesse momento, serviam aos grandes empreendimentos fabris e às áreas urbanas próximas.

A origem da denominação Lavras se perdeu, não havendo documentos que a expliquem, tratando-se de nome aplicado ao local há muito tempo. Uma possibilidade é que, nos arredores, tenha ocorrido atividade de garimpo, da chamada mineração de faisqueira, ou seja, a busca de ouro superficial no leito e nas margens de rios, como ocorreu em várias localidades paulistas. Outra hipótese é que o nome venha do verbo lavrar, vinculado ao trabalho de corte de pedra – o granito que existe em grande quantidade na região.

Ilustração do funcionamento da Usina de Lavras.
Desenho de Luiz V. Keating, 1991

Já a construção da barragem e usina hidrelétrica de Porto Góes teve início em 1924, pela indústria Brasital S/A – que visava abastecer seu complexo fabril instalado nas proximidades. A concessão estadual para a construção de uma usina próxima à cachoeira fora obtida pelo grupo industrial antecessor, a Società Italo-Americana, nos primeiros anos da década de 1910. Mas a Brasital não concluiu a obra. Em 1927 a concessão foi repassada para a Companhia Ituana de Força e Luz – que no mesmo ano teve seu controle acionário transferido para a The São Paulo Tramway Light & Power Co. Ltd. – conhecida simplesmente por Light. Nas obras, concluídas pela Light em 1928, cerca de 1500 homens trabalharam.

Trabalhadores responsáveis pela abertura do canal da usina de Porto Góes, 1924.

Todo o aparato necessário para que a usina de Porto Góes entrasse em funcionamento alterou significativamente a paisagem dos arredores da cachoeira que dá nome a nossa cidade. O volume de água que hoje se observa na cachoeira foi bastante reduzido em virtude da abertura do canal de descarga, que também resultou numa ilha artificial na margem esquerda, na qual a vegetação se preservou desde então.

Ao lado dos prédios remanescentes da antiga Brasital formou-se um conjunto que é símbolo da arquitetura industrial paulista das primeiras décadas do século XX. Hoje, a usina de Porto Góes apresenta duas unidades geradoras dotadas de turbinas tipo Francis, de eixo vertical, com capacidade instalada de geração de 11 MW, vazão turbinável de 56 m³/s e desnível nominal de 25 metros. Atualmente, está sob o controle da Empresa Metropolitana de Águas e Energia S. A., a EMAE, tendo sido a primeira usina dessa empresa a se tornar automatizada.

Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966