12 de novembro de 2008

A lenda do tesouro do Salto de Ytu

Retirada de um batelão das águas do rio Tietê.
Ilustração de Wasth Rodrigues presente no livro História do rio Tietê, de Mello Nóbrega.

Até algumas décadas atrás, na área compreendida entre o porto Góes e o antigo traçado da linha de trem da FEPASA, eram nítidos os sinais de escavações em busca do tesouro do rio Tietê. Com o passar dos anos, tanto esses vestígios como o conhecimento da lenda por parte das novas gerações se apagaram.

Em Salto, a partir da cachoeira, o rio Tietê corre por entre muitas pedras até as imediações da Ilha Grande, onde se apresenta calmo. Nesse remanso, ao sopé da colina na qual está a rocha Moutonnée, estaria o porto Góes (ou porto do Góes). Existem indícios de que tal porto foi ponto de partida alternativo de algumas expedições rumo a Cuiabá – as monções. Alternativo pois tinham como local de partida preferencial o porto de Araritaguaba, a Porto Feliz dos dias de hoje. O mesmo raciocínio se aplica quando do retorno de Cuiabá, tendo-se o porto Góes como local de desembarque. Percorrer a distância entre porto Góes e Araritaguaba por água – em que pese a existência de pequenos trechos encachoeirados – teria suas vantagens, em especial o menor tempo gasto para se chegar a vilas como Itu, Parnaíba ou São Paulo.

As monções eram expedições de transporte de pessoas e mercadorias diversas – tais como mantimentos, ferramentas, tecidos, armas e munição – além do ouro extraído das minas descobertas nas primeiras décadas do século XVIII. E era esse ouro o carregamento principal das viagens de retorno. Em algumas ocasiões, tocaias foram armadas com o intuito de subtrair o ouro carregado por monçoeiros. E foi em torno de uma situação dessas que se constituiu a lenda do tesouro do Salto de Ytu.

Tendo a informação de que um grupo de batelões subia o rio Tietê com o intuito de alcançar o último remanso antes da cachoeira, um numeroso grupo de homens se pôs a esperar por eles na região em que o ribeirão Guaraú, afluente da margem esquerda, deságua no rio Tietê. Apesar do ataque surpresa, o enfrentamento teria durado dias – tempo suficiente para que o carregamento de ouro fosse enterrado entre uma pedreira e outra, dentre as tantas existentes naquele terreno. Contudo, passados alguns dias, os expedicionários recém-chegados foram derrotados, sendo dizimados por completo, acredita-se.

A lenda do tesouro do Salto constituiu-se a partir desses elementos, embora não se saiba se o grupo vencedor localizou ou não o ouro enterrado; ou mesmo se alguns expedicionários do grupo derrotado teriam escapado e retornado tempos depois para recolher o produto da viagem a Cuiabá, estrategicamente escondido. O que persiste é que o tesouro, uma vez enterrado, ainda possa estar em algum local nas imediações do porto Góes...

Quadrinhos elaborados em 2008 para um equipamento disponível no Memorial do Rio Tietê, em Salto.

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Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966