28 de junho de 2009

José de Paula Santos [1893-1949]



Grande educador, José de Paula Santos nasceu na cidade de Guaratinguetá/SP, em 22 de janeiro de 1893, fazendo seus primeiros estudos naquela cidade, onde se formou professor em 1911. Lecionou  nas cidades paulistas de Lorena, São Carlos, Rio das Pedras e Guaratinguetá, antes de se radicar em Salto em 12 de maio de 1915, passando desde logo a lecionar no então único grupo escolar de Salto, que mais tarde viria a se chamar Grupo Escolar Tancredo do Amaral.

Em 1917 casou-se com dona Maria de Almeida, de Itu, conhecida em Salto como Dona Cotinha.

Paula Santos saiu do Tancredo do Amaral em 1932 para lecionar matemática no Instituto Regente Feijó, em Itu, local no qual se aposentou em 1941. Pequeno e franzino, era carinhosamente apelidado de “Baxixa”. Outros ainda o chamavam de “Anchieta de Salto”.

Em Salto, participou ativamente da vida social, pertencendo à diretoria de algumas sociedades, como a Sociedade Instrutiva e Recreativa Ideal - SIRI. Falecido em 1949, a maior homenagem a ele prestada foi a atribuição de seu nome ao 1º Ginásio Estadual de Salto, transformado mais tarde em Escola Estadual Professor José de Paula Santos.

24 de junho de 2009

Memória em postais - I


Cachoeira no rio Tietê, c.1890
Marc Ferrez/Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles

A fotografia do francês Marc Ferrez é um dos mais antigos registros da cachoeira que dá nome à cidade, chamada pelos índios de Ytu Guaçu, Salto Grande em língua nativa. À esquerda, em primeiro plano, parte da tecelagem pioneira instalada na margem direita do rio e, ao fundo, os telhados de algumas casas da atual Rua José Weissohn. Na edificação mais visível, ao centro, funcionava um hotel e, à direita desta, vê-se parte da casa que foi de José Bonifácio, o “Moço”, e que recebeu Dom Pedro II em 1875.



Vila Operária Brasital, c.1940
Esquina da Rua Rio Branco com a 9 de Julho.
Acervo Museu da Cidade de Salto

As 244 casas da Vila Operária Brasital, construídas entre 1920 e 1925, serviam de morada a uma parte dos trabalhadores daquela tecelagem. Naqueles anos a área na qual foi instalada a vila correspondia ao limite do espaço urbano de Salto. Nem todos os operários tinham o direito de morar numa dessas casas. A seleção era feita pela fábrica. Na maior parte dos casos eram famílias italianas ou descendentes as selecionadas para lá residir. Isso transformou o local no reduto da cultura italiana em Salto. No centro de cada um dos quatro quarteirões formados existiam os quintalões – espécies de áreas de uso coletivo com acesso pelos fundos de cada casa. Em 1967 a Brasital iniciou, gradativamente, a venda desses imóveis.



Estação de Salto, 1920
Acervo Museu da Cidade de Salto

A Estação de Salto foi inaugurada em 1873 como uma das estações pioneiras da então linha-tronco da Cia. Ytuana, que vinha de Jundiaí em direção a Itu. Em 1914 passou a servir ao ramal de Campinas. Foi desativada por volta de 1988. As pessoas faziam a viagem de Salto até Jundiaí nos trens da Ytuana. De lá iam à capital ou ao porto de Santos nos vagões da São Paulo Railway Company. Na foto, vê-se a retirada de fardos de algodão que à época eram transportados até as tecelagens em carroças puxadas por burros.

15 de junho de 2009

Os irmãos Begossi

Em outubro de 1917 uma entidade criada pela colônia italiana radicada em Salto, o Comitê Pró-Pátria Italiana, solicitava aos vereadores a doação de uma pequena área no cemitério municipal – menos de dez metros quadrados – para a construção de um monumento em granito que serviria, segundo o Comitê, “para perpetuar na história a lembrança dos heróis que tombaram nos campos de batalha da Guerra Mundial de 1914”. Tal solicitação foi atendida e o prefeito da época, Luiz Dias da Silva, sancionou a lei e os italianos ergueram este marco com um epitáfio em língua italiana (veja dizeres abaixo da foto) e os nomes de Nerone e Raoul Begossi, dois irmãos que, entre outros elementos de Salto, participaram do conflito.


Os irmãos Nerone e Raoul Begossi.

IN MEMORIA DEL SANGUE VERSATO SULLE ALPI E SUI MARI, DEI SACRIFIZI COMPIUTI PER LA VITTORIA D'OGGI, NOI, CITTADINI ITALIANI IN QUESTO SASSO ETERNIAMO I PRODI CHE DA QUI PARTIRONO E LÀ CADDERO COLLA FEDE NELLA VITTORIA.

Em memória do sangue derramado sobre os Alpes e sobre os mares, dos sacrifícios realizados para a vitória de hoje, nós, cidadãos italianos nesta pedra eternizamos os bravos que daqui partiram e lá tombaram com fé na vitória.


O referido monumento existente no Cemitério da Saudade, destacado no Circuito da Memória.

No livro Memórias de um mestre escola, do professor Felicio Marmo (que na década de 1910 lecionou nesta cidade e teve os irmãos Nerone e Raoul como alunos), há registro sobre a ida desses jovens aos campos de batalha. Marmo menciona que o pai dos jovens, o italiano dono de um hotel em Salto, Saturno Begossi, fora convencido por seus compatriotas de que deveria encaminhar seus dois jovens filhos à Europa para defender a sua pátria de origem. Raoul e Nerone morreram quando, de bicicleta, transportavam as malas de correspondência para as trincheiras. Uma granada do exército austríaco os atingira em plena estrada.


Soldados italianos durante a Primeira Guerra carregando suas bicicletas, 1917.

9 de junho de 2009

Circuito da Memória

Veja o vídeo sobre o Circuito:




Percorrer o interior de um cemitério mais que centenário pode despertar o interesse por uma série de temas envolvendo a história de uma cidade. O Circuito da Memória, a ser instalado no Cemitério da Saudade, com inauguração prevista para as 16h30 da próxima terça-feira, será formado por diversos painéis que trarão breves informações sobre a vida de personalidades significativas para a memória de Salto, além de fatos de destaque e peculiaridades locais. Os painéis estarão situados em frente a cada sepultura que remete ao tema ou personagem abordado. Trata-se de mais um caminho possível para se conhecer um pouco do passado de Salto, a exemplo dos painéis do Museu de Rua dispersos pelo centro velho. Inclusive mais um será acrescido à série, na Praça da Saudade, contando a história dos cemitérios em nossa cidade. O Circuito da Memória será um núcleo externo do Museu da Cidade de Salto. Foi um projeto implementado pela Prefeitura da Estância Turística de Salto, através da Secretaria da Cultura e Turismo, em conjunto com a Associação Cultural de Salto. A seguir, segue uma lista com as personalidades e temas contemplados, com breves dizeres sobre cada um deles.

Dr. Barros Júnior: Industrial e político do final do século XIX e início do XX. Foi o responsável pela instalação da segunda tecelagem em Salto, às margens do rio Tietê, em 1882. Republicano e abolicionista, ocupou os cargos de vereador, deputado estadual e prefeito de Salto. Foi o principal nome envolvido na luta pela criação do município de Salto, desmembrado de Itu, em 1890. Alcunhado “Pai dos Saltenses”, sua sepultura foi alvo de uma recente intervenção, com o objetivo de se recuperar as características originais.

Monsenhor Couto: Vigário em Salto entre 1926 e 1970, João da Silva Couto foi o religioso que mais presença marcou na cidade ao longo do século XX. É de sua época a construção da atual Igreja Matriz de Nossa Senhora do Monte Serrat.

Dr. Lammoglia: O saltense José Francisco Archimedes Lammoglia foi médico, advogado e político de destaque. Clinicou por longos anos no Hospital Matarazzo, na capital. Ocupou o posto de deputado estadual por sete mandatos consecutivos, conseguindo inúmeros benefícios para sua terra natal.

Casal Segabinazzi: A cidade de Salto foi palco de uma forma específica de tratamento da dor ciática durante mais de 100 anos. E o casal de italianos Doralice e Giuseppe Segabinazzi são considerados os pioneiros nessa prática, que fazia uso de uma erva específica trazida da Europa. Para Salto se dirigiam, a fim de se tratar do mal, gente de diversas regiões do Brasil, de alguns países do continente americano e até mesmo do Oriente Médio.

Dr. Henrique Viscardi: O italiano Enrico Viscardi formou-se em medicina pela Universidade de Pavia, na Itália, em 1883. Em 1902 Viscardi chegou ao Brasil, instalando-se em Salto, pois fora chamado pelo industrial José Weissohn para assumir a chefia do serviço sanitário das tecelagens aqui existentes. Bem quisto por toda a população saltense daqueles tempos, era chamado de “médico dos pobres”, ou ainda, “médico das flores”. Em seu túmulo, que ainda hoje recebe flores, lê-se o seguinte epitáfio em língua italiana: “Nesta sepultura que é a expressão da dor e da admiração de todos, está mudo e frio o coração do doutor Henrique Viscardi, médico insigne, que era todo caridade e que cessou de palpitar no dia 13 de dezembro de 1913”.

Filhas de São José: Religiosas denominadas Filhas de São José chegaram a Salto em novembro de 1936, por intermédio do padre João da Silva Couto, com o objetivo de dirigir a então Escola Paroquial, que mais tarde se transformaria no Externato Sagrada Família, popularmente conhecido por Coleginho, instituição de ensino ainda hoje em atividade. No jazigo do Instituto existente no Cemitério da Saudade estão sepultadas quatro freiras com atuação em Salto.

Maestros saltenses: Importantes maestros saltenses foram sepultados no Cemitério da Saudade, concentrando-se por mero acaso numa mesma rua. Um deles é Henrique Castellari, que dá nome ao Conservatório Municipal. Outros três, pertencentes a gerações distintas de uma mesma família, estão sepultados na perpétua 43: Antônio, Silvestre e Agostinho Pereira de Oliveira. Nessa que poderia ser batizada de rua dos maestros, se encontram ainda as sepulturas de João Tatangelo e Mário Baldi.

Prof. Dalla Vecchia: João Baptista Dalla Vecchia foi diretor e professor da saudosa Escola Anita Garibaldi por 37 anos. Filho de italianos, ingressou na indústria Brasital, ali trabalhando até 1931. Nesse ano recebeu um convite para dirigir e lecionar na escola que era mantida pela empresa. Maestro, esteve à frente da União Musical Gomes-Verdi por longos anos. Foi vereador e vice-prefeito.

Alfredo Rosa: Trata-se de um lavrador que, de passagem por Salto em 1911, foi tido por ladrão de cavalos. Perseguido por uma multidão enfurecida, foi assassinado. Em seguida soube-se que Alfredo Rosa era inocente. Construída uma capela no local de sua morte, pouco tempo depois surgiram pessoas que atribuíam a ele a ocorrência de milagres. Já os restos mortais de Alfredo Rosa constituem um capítulo à parte, pois foram transferidos de local por diversas vezes, estando hoje numa sepultura no Cemitério da Saudade.

Irmãos Begossi: Não se trata de uma sepultura, mas de um monumento erigido pela colônia italiana, em 1917, em homenagem a dois irmãos ítalo-saltenses, Nerone e Raoul Begossi, que morreram nos campos de batalha da Primeira Guerra Mundial.

A presença italiana: A perpétua de Caetano Liberatore foi a escolhida para referenciar a existência em grande quantidade de antigos túmulos que trazem inscrições em língua italiana, atestando a forte presença da colônia nesta cidade, especialmente no início do século XX.

Prof. Cláudio Ribeiro: Cláudio Ribeiro da Silva foi um professor com passagem marcante pela cidade entre as décadas de 1910 e 1930. Foi também diretor da Escola Tancredo do Amaral. Passagens significativas dos anos em que o professor Cláudio Ribeiro esteve em Salto foram seus trabalhos quando das Revoluções de 1924 e 1932, ocasiões em que capitaneou esforços da localidade em benefício dos combatentes que por aqui transitavam.

Luiz Castellari: Pioneiro da pesquisa histórica em Salto, Luiz Castellari foi, sem dúvida, o maior responsável pela descoberta e divulgação de muitos documentos importantes para a história local, especialmente os do final do século XVII e do início do século XVIII, envolvendo a figura do fundador Antonio Vieira Tavares.

Prof.ª Benedita de Rezende: Considerada uma das educadoras de maior erudição em Salto na primeira metade do século XX, Benedita de Rezende nasceu em Taubaté, e nas décadas 1920 e 1930 lecionou nesta cidade. Aposentada, voltou para Salto, e aqui fixou residência até seu falecimento. Poetisa de rara sensibilidade, escreveu hinos comemorativos, colaborou na imprensa da cidade e ministrou aulas de música e línguas até seus últimos dias de vida.


Parte do folder que produzi para o projeto.

O Circuito da Memória, que será inaugurado quando Salto completar 311 anos de fundação, ao referenciar personalidades e fatos que compõem a história e formação desta terra, materializa mais uma vez uma prática muito prezada por esta comunidade, que é a valorização da memória local.

4 de junho de 2009

Maestros saltenses

Importantes maestros saltenses foram sepultados no Cemitério da Saudade, concentrando-se por mero acaso numa mesma rua. Um deles é Henrique Castellari, na perpétua número 08, na qual existe uma grande escultura em frente (foto a seguir). Outros três, pertencentes a gerações distintas de uma mesma família, estão sepultados na perpétua 43: Antônio Pereira de Oliveira, Silvestre Pereira de Oliveira e Agostinho Pereira de Oliveira. Na perpétua número 5 está João Tatangelo (1886-1944). E à esquerda da perpétua número 1 está Mário Baldi (1919-1990) – ambos estão relacionados na Galeria dos Maestros existentes no Conservatório Municipal, idealizada por Genézio Migliori, colunista do jornal Voz da Cidade. Outros nomes dessa Galeria estão sepultados no Saudade: Manoel Paiva (1950-1987), Amâncio Maestrello (1920-1990), Rolando Lenzi (1933-2004), Mauro Fabbri (1889-1963), João Batista Dalla Vecchia (1896-1981) e Leonel Maestrello (1934-1964).


Escultura existente à frente da sepultura de Henrique Castellari.

Henrique Castellari (1880-1951):
Nascido em Parma (Itália) em 27 de julho de 1880, veio para o Brasil com seus pais em 1891. Na adolescência foi o acendedor de lampiões de Salto, quando ainda não havia a luz elétrica. Aprendeu música com o maestro João Narcizo do Amaral, e ingressou logo em seguida na Banda Musical Saltense, tornando-se regente desta em 1902 – posto no qual permaneceu até a morte. Compositor de mais de 200 músicas, sua peça intitulada “Uma Festa de São João na Roça”, de 1923, é considerada obra-prima sobre os costumes regionais. Atuou também como agrimensor e carpinteiro. Empresta seu nome ao conservatório musical local e a uma travessa no centro da cidade.

Antônio Pereira de Oliveira (1868-1946): Músico requintista (requinta, um pequeno clarinete) nascido em Salto em 1868, apelidado “Totico”. Foi compositor e regente da Banda Musical Saltense, tendo exercido muitas outras atividades, como a de construtor da Brasital e da Usina de Porto Góes. Dedicou-se à indústria extrativa de areia junto aos rios Jundiaí e Tietê. Foi chefe de numerosa família, tendo 19 filhos. Dá nome a rua em um dos bairros de Salto.

Silvestre Pereira de Oliveira (1906-1995): Nascido em Salto em 1906, foi maestro da Banda Musical Saltense de 1952 a 1995. Compositor de grande mérito, iniciou-se na arte musical ainda criança. Foi professor de música e regente de bandas em diversas cidades do interior paulista. Compôs o “Hino à Comarca de Salto”, em 1966, gravado pela Banda e Coral da Guarda Civil de São Paulo. Foi homenageado pela Rádio Record, e sua marcha “Quartel em festa” foi executada no programa “Bandas de todo o Brasil”. Seu nome está relacionado pela Universidade de Akron (EUA) como um dos 68 mais destacados compositores clássicos do Brasil do entre os séculos XVIII e XX.

Agostinho Pereira de Oliveira (1941-1994): Neto e filho de músicos, Agostinho foi o responsável pela criação da Orquestra Sinfônica e do Coral da Cidade de Salto – estando à frente desses por longo período. Autor de diversas obras, destaca-se uma missa completa, intitulada “Sagrada Família”. Estudou música ao lado de importantes nomes, como Benito Juarez e Mário Gregório. Foi professor de música e regente em diversas cidades da região.


Da esquerda para a direita: Castellari, Silvestre e Zequinha Marques.

Além dos maestros citados, outro que esteve enterrado no Cemitério da Saudade, até maio de 2007, foi José Maria Marques de Oliveira (1893-1981), o popular Zequinha Marques, na perpétua 1364. Seus restos mortais removidos daquela sepultura foram cremados e as cinzas lançadas num manancial na Serra de Paranapiacaba, município de Santo André (SP). O contato de Zequinha com a música começou ainda na infância. Na década de 1930 tocou na Orquestra Itaguaçu. Por 40 anos dirigiu o Coro Oficial da Matriz de Salto. Compositor, escreveu missas, tríduos, novenas, ladainhas, marchas nupciais, hinos sacros, marchas, dobradas e valsas. Foi também alfaiate e juiz de paz.

Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966