26 de agosto de 2009

Festa do Salto

A Festa do Salto tem origem remota e confunde-se com a nossa própria fundação. Ocorreu pela primeira vez no mesmo ano de instalação e bênção da capela de Nossa Senhora do Monte Serrat, o longínquo 1698. A iniciativa do fundador, Capitão Antonio Vieira Tavares, contou com a presença de moradores da vizinha Itu e habitantes do Sítio Cachoeira, de sua propriedade, e que hoje corresponde ao território de Salto. Mais que tricentenária, portanto, a prática ininterrupta da Festa permanece viva ainda nos dias de hoje.

A data da Padroeira é o oito de setembro. Em virtude disso uma série de atividades religiosas ocorre nos dias de Festa. Contudo, ao menos desde meados do século XIX, ela conta também com uma parte popular, ou profana, caracterizada por quermesses e feira com barracas de comestíveis, roupas e outras dedicadas a promover sorteios e jogos.

Desde o final do século XIX até meados do século XX, nos primeiros dias de setembro de cada ano, comerciantes vindos de outras localidades traziam a Salto produtos dos mais diversos, dos quais o comércio local era carente: sapatos, tecidos, louças e outras tantas bugigangas.


Barracas da Festa do Salto na Rua José Weissohn, 1930.

Alguns saltenses montavam tais barracas e alugavam aos comerciantes forasteiros interessados. Um dos últimos a se dedicar a tal prática foi Alberico de Oliveira. Uma de suas barracas pode ser vista em foto de 1950, logo abaixo.

A face lúdica da Festa, em sua parte profana, até o final do século XIX se traduzia em brincadeiras como cabo-de-guerra, cabra-cega, mastro cocagne, corrida de sacos e boizinho baiano. Essas brincadeiras foram abordadas numa exposição montada na Festa do Salto de 2007, pelo Museu da Cidade, contando com ilustrações das antigas brincadeiras. Tais práticas adentraram ao século XX e foram remodeladas.


Ilustração da corrida de sacos.

Nas últimas décadas o que se verifica é a predomínio de brinquedos eletromecânicos destinados, em grande parte, ao público infantil. Embora revestida de modernidade, a essência da Festa do Salto permanece pouco modificada após tantos anos.


Panorama da Festa em 1987, nos arredores da Concha Acústica (acervo do Jornal Taperá).

17 de agosto de 2009

A extinta S.I.R. Ideal

A tradicional Sociedade Instrutiva e Recreativa Ideal, ou simplesmente Ideal, foi fundada em 23 de abril de 1927. Caracterizou-se nos seus primeiros anos por ser o clube da elite local, embora Salto fosse uma cidade eminentemente operária. Surgiu no antigo Salão Arzília Silva, quando nele funcionava um cinema, o Cine Rio Branco, pertencente a Antônio Peres.

Nos primeiros anos de atividades o clube Ideal trocou de local por várias vezes. Se a sua origem foi no ponto que em 1963 seria construída sua sede definitiva, entre as atuais ruas 23 de Maio e Dr. Barros Júnior, por muitos anos esteve próxima ao rio Tietê, na parte mais baixa do centro da cidade. Ao sair do Arzília Silva, a sociedade fixou-se numa casa da segunda quadra da Rua Prudente de Moraes.

Em 1932 nova mudança levaria a sede para o casarão de Aurelina Teixeira, localizado na atual Praça Archimedes Lammoglia, mesma edificação que em 1936 passou a abrigar a Escola Paroquial, o “Coleginho” das religiosas denominadas Filhas de São José. A foto acima muito possivelmente foi tirada no interior desse casarão.

Nova mudança então se fez necessária, passando o Ideal a ocupar um prédio próximo à cabeceira da ponte Salto-Itu, local que nas décadas seguintes abrigou o sindicato dos trabalhadores de indústrias têxteis, área recentemente ocupada por uma revendedora de motos.

Em 3 de fevereiro 1945 o Ideal retornou ao local onde nascera, pagando aluguel: o espaço do antigo Cine Rio Branco, comprado por João de Almeida, que desde 1942 abrigava o Cine São Bento. Apesar dessa mudança, havia ainda um plano de se retornar às proximidades da sede anterior, pois o clube comprara um terreno defronte a atual Praça da Bíblia, onde funciona um comércio, hoje. Contudo, o clube fixou-se no antigo prédio construído no início do século, concebido para ser um cinema, remodelando-o por completo.


Os estatutos

A Sociedade Instrutiva e Recreativa Ideal teve como primeiro presidente o italiano Hilário Ferrari. A assembléia geral que aprovou seus estatutos ocorreu em 11 de agosto de 1930. A elaboração desses deveu-se aos trabalhos de uma comissão composta pelos “consócios” Helvídio dos Santos, Victor Bombana e Sebastião Avelino Lordello. Na ocasião, compunham a diretoria da sociedade: Claudio Ribeiro da Silva (presidente), Joaquim Faria (vice-presidente), José de Arruda Mello (tesoureiro), Laerson de Almeida Souza (vice-tesoureiro), Sebastião Avelino Lordello (secretário) e Francisco Passafini Junior (vice-secretário).

No Artigo 2 do Capítulo I dos estatutos, os fins da sociedade são declarados: manter a sede social como centro de reuniões, palestras e leitura; organizar uma biblioteca; promover festivais cívicos, literários, esportivos e dançantes, bem como outras diversões que não sejam impróprias ou inconvenientes; proporcionar aos associados todos os jogos lícitos, com exclusão absoluta dos que são proibidos pelas leis do país.

O capítulo sobre a classificação dos sócios nos dá o panorama daqueles que, na sociedade saltense daqueles anos, poderiam fazer parte da SIRI. Existiam quatro tipos de sócios: honorários, beneméritos, fundadores e contribuintes. Eram sócios honorários os cidadãos que, mesmo sem pertencer ao quadro social, manifestassem grande interesse pela sociedade e pudessem, por seus méritos particulares, contribuir para o “prestígio e prosperidade da associação”. Os beneméritos eram aqueles que já pertenciam ao quadro social e tivessem doado à sociedade, em “moeda ou em valores”, a quantia de quinhentos mil-réis ou mais. Ou ainda, que tivessem prestado a SIRI “grandes e relevantes serviços”. Eram considerados sócios fundadores aqueles que faziam parte da sociedade desde o mês de sua fundação. Contudo, caso interrompessem o pagamento das mensalidades, perderiam “a qualidade de sócio fundador”. Os demais sócios seriam os classificados como contribuintes.

Sobre a admissão de novos associados, os estatutos informam que ela só poderia ocorrer mediante proposta de três sócios quites, desde que não fossem membros da diretoria. Para ser aceita, a proposta deveria ter, ainda, parecer favorável da comissão de sindicância, tendo o candidato a sócio que preencher rigorosamente os seguintes requisitos, expressos nestes termos: ser de perfeita idoneidade moral; residir em Salto há mais de três meses (o que deixava de ser uma necessidade no caso de a pessoa ser “notoriamente conhecida”); não sofrer de moléstia contagiosa, repugnante ou física; ter dezoito anos de idade no mínimo, comprovada com certidão de nascimento, se exigida; pertencer a família cujos membros também estejam em condições de freqüentar os salões da sociedade, sem o menor inconveniente para esta e, por fim, estar em pleno gozo de seus direitos civis. Nota-se, portanto, a marca peculiar na seleção dos sócios.

Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966