26 de fevereiro de 2010

A antiga Concha Acústica - I

Nesta semana foram expostos à imprensa e à população saltense os projetos das alterações previstas para a estrutura até então conhecida por Concha Acústica, além do seu entorno, que dentro de poucos meses passará a se chamar Pavilhão das Artes.

As construções pioneiras naquela porção da hoje denominada Praça Archimedes Lammoglia datavam do século XIX. Uma delas, situada na cabeceira da ponte Salto-Itu e que pertenceu a José Bonifácio, o Moço – político do Segundo Reinado – foi demolida em 1913. A outra, mais ao centro da praça, abrigou desde 1936 a Escola Paroquial, mais tarde denominada Externato Sagrada Família. Era um casarão datado de fins do século XIX, que antes abrigava um hotel.

Em meados da década de 1950 ocorreu uma permuta de terrenos entre a Prefeitura e o coleginho das freiras, que fora transferido para um terreno na Avenida Dom Pedro II. Em 1958, na gestão do prefeito Hélio Steffen, ocorreu a demolição do antigo casarão, ficando o espaço livre para a remodelação da praça.

A pressa em demolir o casarão não se aplicou nas obras para um novo uso daquele espaço. Idas e vindas ocorreriam e por mais de três anos a obra – iniciada pela empresa Cunha Lima Carvalhosa – ficaria parada. Nova concorrência pública foi aberta, sendo vencida pelo grupo do arquiteto João Walter Toscano, o mesmo responsável pela remodelação do Jardim Público existente ao lado. A promessa era de concluir a obra em até um ano.

A inauguração da Concha Acústica ocorreria apenas em 7 de abril de 1963, com a bênção do Monsenhor João da Silva Couto, pároco da cidade, e discurso do prefeito Vicente Scivittaro, queima de fogos de artifício e apresentação de artistas do rádio e da televisão com algum destaque à época.

Abaixo, algumas fotos da Concha Acústica recém inaugurada:




19 de fevereiro de 2010

O jazigo das Filhas de São José

Religiosas denominadas Filhas de São José chegaram a Salto em novembro de 1936, por intermédio do padre João da Silva Couto, com o objetivo de dirigir a então Escola Paroquial, que mais tarde se transformaria no Externato Sagrada Família, popularmente conhecido por Coleginho, instituição de ensino ainda hoje em atividade. No Cemitério Municipal da Saudade existe um jazigo no qual foram sepultadas algumas freiras que atuaram nossa cidade.

A primeira das Filhas de São José, com passagem por Salto, a ser sepultada no mencionado jazigo, foi Izidora Perucon. Embora não fizesse parte do grupo pioneiro, ela aqui chegou em 1936, e permaneceu até sua morte em 23 de agosto de 1958. Italiana da província de Veneza, nasceu em novembro de 1902. Entrou para a Congregação em 1926. Chegou ao Brasil em 1931, trabalhando inicialmente numa obra social na Vila Matilde, em São Paulo. Muito estimada pela população saltense por seus 22 anos de dedicação à comunidade, seu enterro foi dos mais concorridos. Seu nome foi dado a uma das ruas de Salto em 1967.

A segunda madre a ser enterrada nesta perpétua foi Maria Nazarena Corrêa, religiosa, benemérita e educadora que dedicou 25 anos de sua vida a crianças e jovens da comunidade saltense. Nascida em Santa Rita do Passa Quatro (SP) em 22 de abril de 1922, entrou para a Congregação em 1937. Em 1939, ao professar na ordem, veio imediatamente para Salto, aqui permanecendo até 1951. Voltou no período de 1954 a 1957, como superiora do Externato, ao tempo em que o prédio novo na Av. Dom Pedro II foi construído. Após esses anos, retornou a Salto somente em 1973, e aqui permaneceu até sua morte, em julho de 1979. Atualmente uma escola no Jardim São Judas Tadeu leva seu nome.

A terceira freira a ser sepultada foi Maria Pia Cassaniga, natural de Sorocaba (SP). Nascida em 18 de julho de 1932, passou a maior parte de sua vida religiosa em Itaici, junto a padres jesuítas da Vila Kostka. Trabalhou também em Salto. Outra das Filhas de São José a ser sepultada naquele jazigo foi Paula Graciano Mayer. A paulistana nascida em 21 de agosto em 1930 completou seus votos em 1959. Trabalhou em Salto por diversas ocasiões. Quando retornou em 1985, ocupou os postos de superiora e diretora da escola até seu falecimento em 1993. Seu nome foi dado a uma importante obra assistencial mantida pelo Instituto das Filhas de São José no Jardim Marília.

A última, falecida aos 86 anos, sepultada no início deste mês, foi Helena de Moraes, a Irmã Rosa. Paulistana, ingressou na vida religiosa aos 16 anos. Esteve em Salto por 34 anos, ao todo, em três momentos, tendo aqui chegado pela primeira vez em 1967. Atuou como professora primária, catequista e cuidou com muita dedicação da cantina e da extinta fanfarra do Externado. Estudei no Externato por 10 anos e fui aluno da Irmã Rosa em 1993. Era, certamente, a freira que eu mais estimava – pois sempre me tratou com muito carinho e respeito.


Freiras do Externato, tendo ao fundo a velha escadaria.
A Irmã Rosa é a última em pé, à direita.

11 de fevereiro de 2010

A Barra e seus bonecões

A vila da Barra – um conjunto de 30 casas para operários construídas pela antecessora da indústria têxtil Brasital, a Società Italo-Americana, entre os anos de 1911 e 1912, é o mais antigo dos conjuntos de casas para operários construídos em Salto ao longo da primeira metade do século XX. As casas estão localizadas às margens dos rios Jundiaí e Tietê, mais especificamente no cotovelo formado pela confluência das águas. O nome barra é sinonímia de margem [do rio]. Costuma-se dizer que há duas barras: a do Jundiaí e do Tietê. O conjunto mais antigo e significativo foi construído com as fachadas voltadas, em sua maior parte, para a barra do rio Jundiaí. As casas da barra do Tietê, num total de oito, mas em outro padrão, são posteriores (1945-1946).

Desde 1960, com curtos momentos de interrupção nos últimos vinte anos, os bonecões do Bloco da Barra constituem a principal marca do carnaval saltense de todos os tempos. A idéia de fazer um grupo de grandes bonecos para desfilar junto ao Bloco partiu de membros de uma antiga família saltense, os Jorge. Contudo, foi posta em prática por Álvaro Ribeiro, proprietário de uma carpintaria que funcionava num galpão nos fundos do antigo Hotel Brasil, cuja fachada ficava na Rua José Galvão.

Álvaro, que faleceu em meados de 1990, durante trinta anos, de maneira ininterrupta, dedicou-se a criar bonecões nos meses que antecediam o carnaval. No início, Álvaro teve como auxiliares os vizinhos Vicente Girardi, Wilson Cazzamatta e Pedro Alves - conhecido como Cascudo (veja as fotos abaixo). Conforme a tradição foi se consolidando, outros nomes se tornaram incentivadores desse trabalho: Manoel Dantas, Mário Effori e os ex-prefeitos Jesuíno Ruy, Josias Costa Pinto e Pilzio Di Lelli.

No carnaval de 1991, o primeiro após a morte de Álvaro Ribeiro, seu filho Francisco - popularmente conhecido por Tico Boca, também já falecido - teve a iniciativa de continuar a criar os bonecões para o desfile de rua, o que perdurou por algum tempo. Era intenção do descendente do precursor dos bonecões manter a prática, iniciada por seu pai, se não na família, ao menos no bairro. Hoje, a tradição é mantida por iniciativa da Prefeitura de Salto, que contrata artistas especialmente para criar os bonecões, desde 2005, e realiza um baile popular nas imediações da Barra.

Os precursores dos bonecões da Barra, em diferentes épocas. Da esquerda para a direita, acima: Álvaro Ribeiro e Vicente Girardi; abaixo, Wilson Cazzamatta e Pedro Alves.

Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966