19 de julho de 2012

Centenário da rede de água

A rede de água e esgotos de Salto começou a funcionar em 1912. Portanto, o ano de 2012 marca o centenário da implantação desse serviço na cidade. Antes disso, os moradores da rede urbana se valiam de poços de captação perfurados no quintal das residências. Havia também carroças puxadas por burros e cavalos que serviam aos moradores da crescente cidade, ainda restrita ao espaço que hoje chamamos de centro velho. A roupa era lavada à beira dos rios Tietê e, principalmente, Jundiaí.

A informação que temos dos primeiros estudos visando implantar uma rede de água e esgotos em Salto é de 6 de fevereiro de 1905, conforme consta em ata da Câmara Municipal: “Posta em discussão foi aprovada uma indicação do Sr. Julio Pires da Silva sobre a conveniência de se proceder aos estudos preliminares e respectivo orçamento para o abastecimento d’água potável e construção de uma rede de esgotos nesta vila , a fim de que, depois de ultimados esses estudos, sejam lançadas as bases do empréstimo que a Câmara tem de contrair para ser aplicado nas referidas obras.”

As intenções e debates relacionados ao tema foram retomados um ano depois, como se lê na ata da sessão de 5 de fevereiro de 1906: “Arthur G. Krug , Engenheiro Civil, com escritório à Rua S. Bento nº 42 (sob.), na Capital de S. Paulo, com o fim de efetuar o levantamento e a confecção de plantas, perfis e orçamentos para a projetada instalação de abastecimento de água e esgotos para a sua cidade, apresenta o seguinte: 1º Para fazer todo o serviço de campo necessário ao levantamento de planta da cidade, na parte que fica entre os Rios Jundiaí e Tietê, incluindo os terrenos marginais da direita destes dois rios dentro da área já edificada ou com ruas abertas, bem como dos terrenos edificados das fábricas (...) de tecidos Júpiter e Fortuna do Oeste e ao Norte, ou parte alta, até onde haver (sic) edifícios em ruas abertas, e fechando o perímetro no Rio Jundiaí. 2º Fazer o nivelamento de toda a parte da cidade, atualmente edificada com residências para servir na confecção da planta topográfica da cidade e perfis das ruas para os esgotos. 3º Para a planta cadastral serão tomadas todas as medidas necessárias para a localização das edificações com as suas respectivas dimensões, dentro dos limites traçados no parágrafo 1º. 4º Demarcar e ligar com a planta da cidade o local da tirada de água para o abastecimento, o local do reservatório de distribuição, bem como o local para o despejo dos esgotos com o alinhamento do respectivo coletor geral. 5º Confeccionar uma planta geral da cidade, na escala de 1 por 2000 dentro dos limites estabelecidos no parágrafo 1º desta proposta, indicando as ruas, caminhos, praças e quarteirões da cidade com a rede de distribuição de água, bem como a indicação do local da tomada de água e do reservatório de distribuição, se esses dois últimos couberem dentro dos limites da planta (...).”

Em que pese todo o detalhamento da proposta do engenheiro Krug, absolutamente nenhuma referência explícita aos projetos de implantação da rede de água e esgotos pode ser localizada nas atas da Câmara Municipal nos anos seguintes, parecendo mesmo que as intenções de Julio Pires da Silva e demais edis haviam sido abandonadas. Contudo, uma nova proposta de exploração do serviço de água e esgotos chegou à Câmara em setembro de 1910. A Cia. Paulista de Melhoramentos se comprometia a fazer as obras necessárias de modo a fornecer 200 litros diários de água por habitante durante 25 anos de contrato. A taxa seria estabelecida de acordo com o valor locativo dos prédios. Para as fábricas, a tarifa seria diferente. Findo o contrato, todo o investimento seria revertido para o município sem qualquer indenização à empresa. A proposta foi aprovada, mas, posteriormente, a Melhoramentos negou-se a realizar o serviço.

Em fevereiro de 1911, a Câmara aprovou a assinatura de um contrato com o já citado engenheiro Arthur Krug e Elói de Miranda Alves para o abastecimento de água e implantação da rede de esgotos. Em maio de 1911 foi proposta uma mudança no contrato: a água seria trazida do “Piraizinho” ao invés do rio Jundiaí, como inicialmente proposto. A Câmara aceitou. Em outubro, nova mudança aconteceu, com a transferência dos serviços para Mário Tavares e Carlos Emílio de Azevedo Marques.

Um ano depois, a já denominada Empresa de Água e Esgotos de Salto S/A informava oficialmente à Câmara que a rede de esgoto tinha sido concluída, sendo que a rede de água já estava funcionando há algum tempo. O serviço provou ser de ótima qualidade, especialmente no centro velho, visto que até o início dos anos 1990, em muitas casas, ainda eram usadas as mesmas redes. Pela lei número 1, de 12 de maio de 1913, que regulamentou o serviço, os cidadãos saltenses ficavam obrigados a “construir latrina e instalar os aparelhos sanitários”, sendo que a empresa de água e esgotos era obrigada a “fazer os ramais para as ligações domiciliares até as guias dos passeios”. A cobrança da taxa de consumo era feita de acordo com o valor locativo dos prédios e chegava a pouco menos de 20% desse valor. Era também proibido fornecer água ao prédio vizinho: cada um tinha que ter sua própria ligação. A desobediência da determinação era punida com o corte do abastecimento.

Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966