4 de março de 2017

No tempo (não tão distante) do VHS e do UHF

Hoje parece bobagem. Mas houve um tempo – e isso coincide com minha infância – que gravar o que era transmitido na TV em VHS era algo fantástico, pois você estava a documentar algo importantíssimo, que poderia ser revisto tantas vezes se desejasse depois. Gravar naquela precária fita magnética, mais perecível do que se imaginava à época, com um aperto no rec do controle remoto, parecia ser um serviço de grande relevância perante as pessoas mais próximas. Isso num tempo que, em Salto, assistíamos aos principais canais abertos retransmitidos em UHF por uma torre mantida pela Prefeitura – coisa que ainda hoje se mantém. Toda casa tinha sua antena “vermelhinha” para captar o sinal. Dez ou vinte anos antes era necessário ter uma torre na própria casa, com antena “espinha de peixe” apontada para São Paulo, de modo a captar diretamente o sinal VHF da capital. Em outras cidades a coisa era ainda mais precária. Por esses anos, falava-se canal 5 para a Globo, 13 para a Bandeirantes, 4 para o SBT, 9 para a extinta Manchete. Era uma linguagem conhecida por todos. Depois vieram as antenas parabólicas com sinal mais limpo e cobrindo praticamente todo o território nacional. Antes disso as interferências no sinal faziam parte do show, era um sofrimento! 



Com o primeiro aparelho de vídeo cassete que tivemos em casa – da marca Mitsubishi, “quatro cabeças”, top da época – gravei horas a fio de desenhos do SBT, no formato EP – o que reduzia um pouco a qualidade, mas permitia registrar mais de seis horas por fita. Esses aparelhos eram relativamente caros e vez por outra se ouvia notícia sobre certa casa que fora roubada, da qual o ladrão tinha levado apenas o vídeo cassete. Fita boa era da marca TDK, mas por vezes comprávamos da JVC, normalmente com melhor preço. Quando a gravação não ficava boa ou não desejávamos guardar para posteridade, gravávamos por cima, na mesma fita. Fazendo isso muitas vezes, perdia-se qualidade nas últimas gravações. Era o senso comum em torno dessa prática. Se o desejo fosse não mais gravar sobre aquela fita, bastava quebrar um pequeno lacre plástico que havia nelas, um quadradinho. Era a segurança de que não se perderia uma gravação por acidente. 

Depois de certo tempo comecei a gravar jogos de futebol. O primeiro que gravei e tenho até hoje foi o que deu a classificação ao Brasil para a Copa do Mundo de 1994. Foi um Brasil x Uruguai disputado no Maracanã, com a volta de Romário à seleção. Eram tempos mais modestos e dignos desse esporte. No ano seguinte gravei a Copa toda, até a final vencida pelo Brasil nos pênaltis. Gravei também as finais do Corinthians no Campeonato Paulista de 1995 e na Copa do Brasil do mesmo ano, o Paulista de 1997, o Brasileiro de 1998, 1999... Em caso de perda do título não mantinha a gravação: gravava outra coisa por cima! Nessa prática, acumulei umas 25 ou 30 fitas. Ganhei algumas outras de parentes, com gravações um pouco mais antigas. Boa parte disso converti para DVD. Alguns fragmentos postei no YouTube, na tentativa de perpetuá-los. São registros modestos, que não contam a história da TV nem do futebol, mas são meus próprios registros dos momentos que escolhi como memoráveis, por minha ótica daqueles anos. Bom revê-los!

(16/09/2015)

Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966