13 de março de 2008

Salto: freguesia

O jornal Imprensa Ytuana, de 25.05.1887, em sua “Seção Livre”, páginas 2 e 3, descrevia um minucioso panorama social da “povoação do Salto” daqueles tempos. A abordagem detalhada se justificava diante da suposta falta de atenção das autoridades provinciais para com a localidade recém elevada a freguesia e, diante disso, seu autor solicitava a execução das medidas legais esperadas. Para isso, seu discurso ia no sentido de escancarar, por meio dos números, uma situação que dispensava atenção imediata: faltavam “os elementos de ordem” para controlar a população já volumosa. O texto, assinado sob o pseudônimo O Saltense, segue abaixo transcrito. Nele, observamos os diversos grupos sociais presentes na localidade em pleno despertar:

“Há dois anos mais ou menos que a assembléia provincial votou e o governo sancionou, a lei que elevou à freguesia a povoação do Salto.

Até esta data, porém, apresar de todos os tramites legais porque passou a lei, aquela localidade acha-se como então: não só ainda não tem as autoridades policiais, conforme determina a lei em relação às freguesias, como também ainda não foi nomeado o respectivo vigário, constando mesmo que o exm. bispo diocesano não fará a nomeação por não ter sido consultado sobre a conveniência da criação da freguesia.

Somos daqueles que entendem que a nomeação de vigário, conquanto necessária, poderá ainda ser dispensada por algum tempo, o mesmo não podemos dizer em relação às autoridades policiais; não é possível, em um centro operário, como está constituída aquela freguesia, dispensar os elementos de ordem.

O Salto cresce de dia para dia a olhos vistos; ele é, pois, digno de melhor sorte e de mais alguma consideração dos públicos poderes.

Temos hoje três importantes fábricas de tecidos, sendo: uma do sr. José Galvão de França Pacheco, com 120 teares e um pessoal de 110 operários; outra do Dr. Francisco Fernando de Barros Júnior, com 120 trabalhadores e 74 teares em serviço, tendendo este número a elevar-se ainda, e finalmente a que estão construindo os srs. Pereira Mendes & Comp., a frente de cuja gerência está o dr. Octaviano Pereira. Ainda não está funcionando esta fábrica, alimenta porém, desde já, 50 trabalhadores, devendo-se presumir que este número seja duplicado dentro de dois meses, tempo em que começará a funcionar.

Temos ainda a fábrica de papel, em construção, de propriedade do sr. dr. A. C. de Aguiar Melcher & Irmão, com o número de 50 operários. A estes trabalhadores se deve ainda adicionar o não pequeno número de operários empregados nas construções urbanas, que não são poucas.

Como se vê, só o pessoal empregado nas fábricas forma um não pequeno núcleo de população, que por si só justificaria a conveniência e necessidade das autoridades aludidas.

Além do pessoal que reside efetivamente no Salto, temos ainda o das turmas da conservação da linha férrea, e à noite, um respeitável batalhão de escravos das fazendas próximas, que vêm ao povoado fazer seus negócios e digamos, muitas vezes ilícitos.

Existem diversos negócios bem sortidos e de várias espécies, três escolas, sendo duas públicas e uma particular, que funcionam regularmente e com boa freqüência de meninos.

Já alguns italianos compraram a fazenda da Pedra Branca e ali tratam de estabelecer um núcleo colonial.

Pelo que vimos e dizer se poderá avaliar o quão justo tem sido o procedimento do governo para com esta localidade; hoje porém, que à frente da administração da província se acha o honrado paulista Visconde do Parnaíba, que, como nós, conhece o Salto e suas necessidades, é de supor que nos seja feito [sic] justiça, cumprindo-se a lei que elevou à freguesia aquela povoação.”

Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966