7 de março de 2022

Meu avô Attílio

Meu avô Attílio Zanoni completaria, hoje, 100 anos. Nascido em 7 de março de 1922, partiu em 25 de dezembro de 2000.

Lavrador, filho de imigrantes italianos, viveu a maior parte de sua vida na zona rural, onde nasceu, cresceu, trabalhou, casou-se e teve dez filhos. Dizia-se que queria completar os 11 de um time de futebol, dado que teve oito filhos homens. Fico a imaginar, pelas histórias que ouço de meu pai, que grau de dedicação e coragem eram necessárias a homens como ele, obrigados e tirar o sustendo da terra com as próprias mãos. Quantas incertezas e angústias devem ter feito parte dessa jornada, a qual percorreu – nos momentos mais desafiadores – sempre com a presença resiliente e de muita fé de minha avó.

No começo dos anos 1970, foi forçado – pelas circunstâncias de um Brasil que se urbanizava velozmente – a deixar suas terras e a morar na cidade. Cultivar a terra e conviver com as incertezas do campo se tornava cada vez mais difícil. Já contava, nessa época, com seus dez filhos – aos quais precisava oportunizar um futuro menos incerto.

Deixou de viver no campo, mas não de visitar regularmente suas terras – coisa que o obrigava a caminhadas de mais de 20 km. Essas terras eram uma fração da herança de seu pai que, como outros italianos, desbravou as terras da região do Buru – bairro rural de Salto – desde fins do século XIX. Hoje, essa é uma região do município que começa a se conectar com a cidade por meio dos condomínios de chácaras. Por isso, praticamente já perdeu aquela atmosfera que cheguei a conhecer nos meus tempos de criança, quando das pescarias naquele seu sítio.

Após breve incursão como operário em uma indústria local, veio a aposentadoria – muito em função de seus problemas de visão, agravados pela perda da vista esquerda em um acidente de trabalho, ainda dos tempos de lavrador. Em minha infância, foi sempre forte a imagem do avô que não enxergava bem, mas que fazia suas caminhadas – lentas e apoiando-se nas paredes das casas – até uma praça próxima à sua residência. Ali permanecia por algumas horas, quase sempre em pé, a conversar com um ou outro conhecido que se aproximava. Muitos foram os dias em que eu, saindo do colégio, passava por ele e o cumprimentava, não sem antes ter que me identificar.

As memórias do que presenciei de seus últimos anos não são nada alegres, dada essa situação de saúde que o acompanhou pelas duas últimas décadas de vida, praticamente. Mas hoje, com a distância do tempo e conseguindo fazer alguma reflexão histórica de sua biografia, fica – além do respeito ampliado – o inevitável vazio de não ter feito a ele as perguntas que hoje me vêm à mente, além da certeza de que, entre acertos e erros, viveu sua jornada – de algum modo – heroica.





Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966