31 de dezembro de 2015

Que histórias um tijolo pode contar?

De vez em quando revivo mais fortemente o interesse pela história de minha terra natal. Durante cinco anos fiz disso meu ofício principal. Hoje, apenas nas ocasiões em que passo algum tempo na cidade. É inevitável. Nestes últimos dias, especialmente desde ontem, tenho pensado – por mais inusitado que isso possa parecer – num tijolo que chegou em minhas mãos. Não é um tijolo qualquer. Muita coisa pode ser narrada a partir dele. Data de pelo menos 1908, quando passou a integrar as paredes de uma construção que resistiu até o início de 2014, quando foi vitimada por um incêndio que a deixou em ruínas. É possível ver uma das faces do tijolo enegrecida pelo fogo. Tratava-se de um prédio de esquina, situado no centro da cidade, no qual funcionou por mais de um século uma casa comercial. Nos últimos anos o estabelecimento era valorizado por sua longevidade, constituindo-se num referencial para o história local e para seus cidadãos mais antigos. Era a persistência de um modus operandi do século passado.

Tijolo chamuscado que compunha uma das paredes do "Armazém Popular"

Mas e a inscrição F.F.B. em baixo relevo numa das faces do tijolo, a que se reporta? Como é comum até hoje, refere-se à olaria que fabricou essa peça. Neste caso, a que pertencia a Francisco Fernando de Barros Júnior, o localmente famoso industrial que instalou uma tecelagem na cidade em 1880, às margens do rio Tietê. Foi figura relevante, que se envolveu no combate a uma epidemia de varíola em 1887, às próprias expensas, e que integrou por vários anos a Câmara Municipal, ocupando cargo equivalente ao de Prefeito, em seu tempo. Foi alcunhado “Pai dos Saltenses”, inclusive. Em fins do Império, era um dos líderes republicanos da região. Apesar desse protagonismo todo, sabe-se que morreu pobre, vítima da gripe espanhola, em 1918. Coisas de Salto, que seguem interessando aos filhos da terra, sabe-se lá até quando. “Por que guardar esse trambolho?”, poderiam perguntar alguns. Bem... Talvez por uma expectativa pura e simples de seguir contando essas e outras histórias a quem se interessar em ouvi-las.


Vídeo que produzi em 2008:


E um dos registros do fatídico incêndio em 2014:



Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966