27 de outubro de 2010

A antiga Rua de Campinas

A atual Rua 9 de Julho, num passado remoto, era popularmente chamada de Rua ou Estrada de Campinas, pois cortava a então pequena vila de Salto de sul a norte, desembocando na estrada rumo a Campinas. Oficialmente, chamou-se Rua 15 de Novembro desde a Proclamação da República até 1910, quando seu nome foi alterado para Rua Ruy Barbosa, em referência a um dos políticos brasileiros de maior destaque no início do século XX.

Em junho de 1935, um ato do então prefeito de Salto, Lafayette Brasil de Almeida, trocando o nome de algumas ruas centrais da cidade, rebatizou a popular Rua de Campinas como Rua 9 de Julho, em alusão à Revolução Constitucionalista de 1932. A Revolução de 32 foi um movimento armado ocorrido no Estado de São Paulo que tinha por objetivo a derrubada do governo provisório de Getúlio Vargas, no poder desde 1930, e a promulgação de uma nova Constituição para o Brasil. Foi uma resposta dos paulistas à Revolução de 1930, a qual acabou com a autonomia desfrutada pelos estados brasileiros durante a vigência da Constituição de 1891.

Ao longo de sua história, a Rua 9 de Julho figurou sempre como uma das principais vias públicas de Salto. Comércios tradicionais situavam-se ao longo desta via, tais como bares, casas de secos e molhados, a primeira delegacia e cadeia e as primeiras farmácias da cidade. A Rua 9 era também o trajeto rotineiro dos cortejos fúnebres, que a subiam em direção ao Cemitério da Saudade, na Vila Nova.

Trecho inicial da Rua 9 de Julho, 1940.
Já o espaço que marca o início da Rua 9, o Largo Paula Souza, foi um dos primeiros logradouros públicos de Salto a ser batizado, em meados do século XIX. Trata-se de uma homenagem a Francisco de Paula Souza e Mello (1791-1851), político ituano durante o Império, com projeção no cenário nacional. De fins do século XIX até 1946, o Largo abrigou um coreto. Foi ao redor dele que a população saltense se reuniu para comemorar o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, como pode ser visto em foto.

Festa em comemoração ao fim da II Guerra Mundial, no Largo Paula Souza, 1945.

Coreto do Largo Paula Souza, c.1935.
Esse mesmo local abrigará em breve, após a remodelação do Largo Paula Souza, o Monumento aos Taperás – marco que fará alusão a um dos símbolos de Salto – as aves denominadas taperás. Parentes próximas das andorinhas, essas aves de coloração pardo-acinzentada e peito e abdome brancos eram abundantes especialmente nas imediações da cachoeira que dá nome ao nosso município, e faziam das fendas das pedras existentes às margens do rio Tietê seu local de repouso. Viajantes europeus do século XIX mencionaram em seus livros a existência de grande quantidade dessas aves, que foram gradativamente afastadas pela poluição no final do século XX.

Sob um painel, a ser instalado brevemente no Largo, se encontrarão preservados exemplares dos ladrilhos que compunham a calçada dos primeiros quarteirões da Rua 9 de Julho (deste Largo até a Avenida D. Pedro II), que foram fabricados pelo industrial italiano, radicado em Salto, Biággio Ferraro. Os ladrilhos são à base de cimento, cascalhos de granito vermelho de Salto e pedras de fundo de rio rachadas à força de marteladas. Datam de 1931, época em que era prefeito de Salto o major José Garrido, responsável também pelo calçamento dos primeiros quarteirões da Rua 9 de Julho com paralelepípedos.

7 de outubro de 2010

A rua que Salto perdeu

Quem hoje vê o portão principal do centro universitário que ocupa os prédios da antiga Brasital, ao lado de uma das torres, não se dá conta que ele é o marco da apropriação de um espaço público por particulares. Isso ocorreu há mais de um século, à época que a tecelagem instalada naquele espaço levava o nome de Societá per l’Esportazione e per l’Industria Italo-Americana, ou simplesmente, Sociedade Ítalo Americana. Era ela a sucessora das duas tecelagens pioneiras instaladas no último quarto do século XIX, adquiridas pelo ítalo-judeu José Weissohn e por ele repassadas a essa multinacional que já contava com diversos investimentos na América do Sul. Estamos falando da mítica Rua do Porto e do seu trecho que deixou de ser público e foi incorporado ao patrimônio da Ítalo Americana.

José Weissohn
A rua em questão – para situar nosso leitor – é a atual José Weissohn, que se inicia na Praça Antônio Vieira Tavares (Largo da Matriz) e termina na Rua 9 de Julho (antes denominada Rua de Campinas). O nome Rua do Porto, que vigorou na primeira década do século XX, foi dado pois a via pública se alongava até as margens do rio Tietê, terminando num trecho conhecido por Porto das Canoas, nas imediações da Ilha Grande, então chamada Ilha do Padre. Tratava-se de um caminho bastante utilizado pelos moradores de Salto – uma localidade que começava a crescer especialmente pela chegada de um grande contingente de italianos, atraídos pelo trabalho nas tecelagens locais, que abandonavam as fazendas das regiões de Itu e Campinas, após enfrentarem um primeiro momento de exploração por parte dos cafeicultores paulistas.

Rua do Porto no século XIX
A importância do referido trecho da Rua do Porto que ia do Largo da Matriz até as margens do rio se dava por dois motivos principais: era um acesso a um local com fartura de peixes e também local de retirada de areia, necessária para as construções de uma cidade que via sua população e o número de novas edificações crescerem num ritmo acelerado. A colocação de um muro pelos industriais, impedindo o acesso, agravou um desentendimento que não era novo. Por cerca de três décadas, desde a época da instalação das fábricas pioneiras, uma série de conflitos foram travados entre as fábricas que se instalaram na margem direita do rio Tietê e os pescadores de Salto. Há registros, inclusive, de tiroteios entre esses pescadores e os prepostos dos industriais, que encaravam as incursões dos pescadores como invasão de propriedade privada, mesmo oficialmente não sendo.

A paz ocorreu a partir de um acordo firmado entre a Câmara Municipal de Salto e a Societá Italo-Americana. Pelo acordo, de 1910, a Câmara cedeu à indústria o referido trecho da rua, que passou a fazer parte de seu patrimônio. E a indústria, em troca, se comprometeu a instalar uma ponte metálica que daria aos pescadores acesso ao Porto das Canoas – eis a Ponte Pênsil. Além disso, se comprometeu também a construir um mirante em local privilegiado, de onde se pudesse contemplar a cachoeira – o que de certa forma foi dificultado desde a instalação, junto à queda d’água, da fábrica Fortuna, de José Galvão.

Finalizada em 1913, a ponte em aço e madeira, com 75 metros de extensão, proibiu definitivamente o acesso ao Porto das Canoas por meio da Rua do Porto. Desse modo, pescadores, visitantes e demais moradores que desejassem ter acesso ao trecho do rio abaixo da cachoeira deveriam obrigatoriamente contornar os prédios das fábricas e passar pela Ponte Pênsil, balançando sobre a margem direita do rio Tietê. Durante muitos anos a manutenção da ponte coube à Brasital – que desde 1919 tornou-se a proprietária da Ítalo Americana. Hoje a ponte figura como atrativo turístico de Salto, prestes a completar seu centenário. Até bem pouco tempo atrás era possível ver uma placa, logo na entrada da ponte, que proibia a pesca a 200 metros, tanto abaixo como acima, da cachoeira – e avisava sobre uma multa aos infratores (vide imagem).

Placa que existia na Ponte Pênsil
Os terrenos da Sociedade Ítalo Americana se estendiam até a propriedade da família Arruda Castanho, que hoje vem a ser o Jardim Três Marias. Na época, boa parte dessa área era de mata virgem. E a divisão entre os terrenos era feita por meio de um valo profundo, por onde corria a enxurrada. Esse valo, encoberto e desapropriado aos Arruda Castanho pelo poder público municipal, corresponde à atual Rua 24 de Outubro – via pública que já se chamou Antônio Melchert, em referência ao industrial que instalou a Fábrica de Papel do Salto, em 1889. Apenas perdeu esse nome em 1985. Popularmente, a via ficou conhecida como Rua dos Pescadores, ou ainda, Rua São Pedro – em virtude de ser um novo acesso ao Porto das Canoas. Essa nomenclatura se aplicava apenas ao trecho compreendido entre a Rua Joaquim Nabuco e a margem direita do rio Tietê. Assim, a abertura desse novo caminho, somado à Ponte Pênsil, foi a maneira encontrada pela Câmara à época de resolver a questão e fazer cair no esquecimento, ou legalizar, a apropriação empreendida pelos industriais aqui instalados. A ponte instalada há poucos anos, denominada Ponte dos Pescadores, justifica seu batismo por esses fatos.

29 de setembro de 2010

Tancredo do Amaral, patrono de uma escola que completará seu centenário em 2013

Dada a proximidade do centenário da mais antiga escola em atividade em nossa cidade – o que se verificará em 2013 – talvez seja importante salientar algumas informações a respeito de seu patrono. Embora com passagem efêmera por nossa cidade, o professor Tancredo do Amaral marcou por ser o primeiro professor formalmente habilitado para tal ofício a lecionar aqui, numa época em que Salto ainda era politicamente ligada a Itu. Foi também, ao lado do Dr. Barros Júnior, o fundador do primeiro jornal que aqui circulou, o Correio do Salto, fundado em 1888. A seguir, apresentamos alguns dados gerais sobre a história da unidade de ensino mencionada e, ao final, um resumo biográfico do patrono.

Quem foi Tancredo do Amaral?

Pioneirismo – A atual Escola Estadual Professor Tancredo do Amaral foi criada por meio de decreto estadual em 20 de outubro de 1913, sob a denominação Grupo Escolar de Salto de Ytu, e iniciou suas atividades no dia 28. Em sua origem, reuniu oito escolas espalhadas pelo município e criou mais duas classes, totalizando 407 matrículas em seu primeiro ano. Contudo, a inauguração oficial, com a presença da diretoria de ensino à qual Salto estava sujeita à época, deu-se apenas em 13 de maio de 1914. A escola funcionou com apenas um período de aulas por dois anos. Em 29 de abril de 1915 passou ao regime de dois períodos, e de 21 de maio de 1934 em diante funcionou nos três períodos.

O projeto – O terreno em que escola foi construída, entre 1911 e 1913, era de propriedade de Domingos Fernandes da Silva. A Prefeitura o adquiriu e o doou ao Governo Estadual em 1910, ficando esse responsável pela obra. A instalação do Grupo Escolar de Salto foi acompanhada de mais outras nove iniciativas pelo Estado de São Paulo afora, em projetos que ficaram conhecidos como Tipo Faxina, em referência à atual cidade de Itapeva. Tratava-se da implantação de escolas a partir da mesma planta, com fachadas reelaboradas por diversos arquitetos. Em Salto, o projeto foi assinado por José Van Humbeeck e Manuel Sabater. E a construção foi iniciada sob o comando de Augusto do Amaral e concluída sob a supervisão de Lupércio Borges. As outras localidades contempladas foram: Faxina (atual Itapeva), Jardinópolis, Santa Cruz do Rio Pardo, Santa Rita do Passa Quatro, Dois Córregos, Serra Negra, Cruzeiro, Itararé e Bebedouro.

História – Em 1918, durante a epidemia de gripe espanhola, o prédio da escola abrigou doentes, servindo como uma espécie de hospital de emergência. No ano seguinte, foi desinfetado e pintado. Até 1936, quando se instalou na cidade o Colégio Sagrada Família, o Tancredo era a única escola primária de Salto. Desde 1950 abrigou o Ginásio Estadual, que em 1962 passou a funcionar em prédio próprio. Em 1960, Salto ganhou sua segunda escola pública – o 2º Grupo Escolar – que hoje recebe o nome de E. E. Prof. Cláudio Ribeiro da Silva.

Bem cultural – Sendo a mais antiga escola da cidade, a E. E. Prof. Tancredo do Amaral é vista hoje como um elo afetivo que une diversas gerações de saltenses que passaram por seus bancos. Em virtude disso, encarando-a como bem cultural, em 29 de julho de 2002 sua preservação foi legalmente assegurada por meio de tombamento pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico e Artístico do Estado – CONDEPHAAT, em conjunto com outras 123 escolas paulistas construídas na Primeira República (1889-1930).


Tancredo Leite do Amaral Coutinho, ou simplesmente Tancredo do Amaral – como ficaria conhecido – nasceu na cidade de São Paulo em 18 de fevereiro de 1866. Era filho do Comendador Manuel Leite do Amaral e de Dona Josefa Gaudie Leroy do Amaral. Um de seus tios, Dr. Aquilino do Amaral, foi Senador pelo Estado de Mato Grosso. Tancredo casou-se com D. Maria Luísa do Amaral, tendo com ela dois filhos: Floriano e Marina do Amaral Costa.

Depois de fazer o “curso de humanidades”, Tancredo matriculou-se na Escola Normal da Capital, onde se diplomou. Logo depois, em 1887, foi nomeado professor primário em Salto – ainda nos tempos do Império. Aqui fundou, no mesmo ano, o Partido Republicano, juntamente com o Dr. Francisco Fernando de Barros Júnior. E no ano seguinte, o jornal Correio do Salto – repetindo a parceria política, já que a publicação era uma folha de propaganda do partido. Foi redator-chefe do referido periódico e também fez parte da diretoria do Clube Republicano 14 de Julho, fundado em Salto também naqueles anos.

Ao se transferir para São Paulo, Tancredo exerceu de início o cargo de Oficial de Gabinete do presidente Bernardino de Campos. Organizadas as quatro secretarias de governo, em 1891, foi nomeado 1º Oficial da Secretaria do Interior. Quando o Dr. Carlos de Campos assumiu a pasta da Justiça, na administração Campos Salles, foi escolhido para ser seu Oficial de Gabinete. E ao ser criado o Almoxarifado da Justiça, foi nomeado subdiretor dessa repartição. Por ocasião da cisão do Partido Republicano nos anos seguintes, Tancredo do Amaral acompanhou o General Francisco Glicério e assumiu o posto de redator de A Nação, órgão do Partido Republicano Federal. Isso lhe custou a demissão do cargo que então exercia, devido à luta política em que fortemente se empenhou.

Afastado da política, não se acomodou. Escreveu diversos livros didáticos, entre os quais O Livro das Escolas, Geografia Elementar, História de São Paulo ensinada pela biografia de seus vultos mais notáveis e O Estado de São Paulo, todos aprovados oficialmente e adotados nas escolas públicas. Tancredo foi ainda nomeado Inspetor Escolar, chegando a ser interinamente Diretor Geral da Instrução Pública do Estado.

Deixando os cargos que exercia no magistério, Tancredo do Amaral, após se diplomar em 1906 pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco, entrou para o Ministério Público, tendo sido promotor das cidades de Capão Bonito, Batatais e Capivari. Entrando para a Magistratura, foi Juiz de Direito da Comarca de Santa Isabel, lugar em que se aposentou em 1923, indo residir em São Bernardo do Campo.

Tancredo foi por algum tempo redator, cronista teatral e secretário da redação do jornal Correio Paulistano. Também fazia parte de várias associações científicas e literárias, tendo sido membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Escritor, deixou várias obras esparsas, algumas inéditas, como uma coletânea dos melhores versos da língua portuguesa, várias conferências e discursos. Faleceu em 23 de julho de 1928, aos 62 anos.

Nota: Seria de suma importância, com a chegada do centenário, que a comunidade da Escola Estadual Tancredo do Amaral refletisse sobre a possível doação, ao Museu da Cidade de Salto, de toda a documentação que existe referente aos primeiros anos de seu funcionamento – a exemplo do que já ocorreu com os livros de matrículas da extinta Escola Anita Garibaldi (1931-1968). Trata-se do destino correto e esperado de toda a documentação que se refere à história local.

16 de setembro de 2010

“Saltenses distintos” na década de 1950

O jornal O Trabalhador, em 1952, publicou uma “Revista Ilustrada” em comemoração ao 257º aniversário da fundação de Salto e o terceiro de fundação do periódico. Nessa revista – que trazia na capa o primeiro brasão de Salto (o atual é o terceiro), instituído em 1931 pelo prefeito interventor Major José Garrido – uma das matérias levantava diversos nomes de saltenses que “se salientaram em nossa cidade, filhos desta terra ou vindos de outras plagas, que concorreram para o engrandecimento e o renome de Salto”. Trata-se de um interessante ponto de partida para percebermos como se dava, há mais de meio século, a seleção daqueles que eram considerados os bons filhos da terra, merecedores de admiração e elogios. A seguir, transcrevemos partes dessa matéria, complementando-as com alguns comentários de nossa autoria inseridos entre colchetes, bem como imagens:

"Citaremos em primeiro lugar o ilustre Dr. Francisco Fernando de Barros Júnior, que, embora capivariano de nascimento, mereceu o título honroso de ‘Pai dos Saltenses’. Formado em engenharia civil, era o Dr. Barros dotado de grande inteligência e sentimento altamente cristão [esse último comentário tentava associar a figura de Barros Júnior e a memória de abnegado defensor das causas locais aos princípios do jornal O Trabalhador, órgão fundado pela Igreja Católica]. Filho de Francisco Fernando de Barros e Angela Guilhermina de Mesquita Barros, nasceu a 17 de março de 1856 (...) [saliente-se que em uma propriedade rural escravocrata, pertencente ao seu pai, muito embora Barros Júnior, ao longo de sua carreira política, tenha assumido uma postura republicana e abolicionista]. Assinalados serviços prestou a Salto por ocasião da epidemia de varíola que assolou impiedosamente toda a província. Como Intendente [cargo equivalente ao de Prefeito] idealizou e dotou de iluminação a cidade, por meio de lampiões a gás [um dos acendedores desses lampiões, durante certo tempo, foi Henrique Castellari, que será mencionado a seguir].”

Barros Júnior, com cerca de 23 anos.
Imagem do Museu Republicano "Convenção de Itu"

O segundo nome citado na relação é José Weissohn, “homem abnegado, foi o propulsor e vanguardeiro do progresso industrial desta cidade. Como gratidão pelos trabalhos em prol deste torrão bendito, a Edilidade Saltense fez erigir em sua homenagem um marco, que até hoje existe no jardim público [Em que pese existir uma rua com o seu nome, do tal “marco” apenas resta a notícia de que um dia existiu]. Outro industrial citado, com passagem por Salto anterior à de Weissohn, é “José Galvão de França Pacheco [Júnior], abastado industrial e precursor da indústria de tecidos no Brasil, notadamente em Salto, onde foi o primeiro a instalar uma indústria têxtil (...).

José Weissohn

Menciona-se o “Dr. Henrique Viscardi, o ‘médico das flores’, como muito bem foi cognominado, era de nacionalidade italiana, mas residiu aqui por muitos anos [Foi trazido da Itália por José Weissohn para assumir a chefia do serviço sanitário das tecelagens aqui existentes. Na prática, Viscardi prestava toda a assistência médica necessária aos operários de Weissohn]. Dotado de coração caridoso ao extremo, Dr. Viscardi tratava dos pobres sem aceitar remuneração. Não media sacrifícios para socorrê-los, prontamente, altas horas da noite. Praticou muito bem seu dever de médico.”

Dr. Henrique Viscardi

Dois prefeitos da primeira metade do século XX são mencionados. O primeiro deles é “Luiz Dias da Silva, a quem Salto deve também muitos benefícios, tais como a construção do Matadouro Municipal [que se localizava no terreno que hoje serve de garagem à Prefeitura], o majestoso Grupo Escolar [atual Escola Estadual Tancredo do Amaral, prédio inaugurado em 1913], o saudoso coreto da Praça Paula Souza [que se localizava no espaço onde se instalou o Clube dos Trabalhadores na década de 1970, prédio hoje em obras] e o antigo Isolamento, hoje transformado em Asilo de Velhos [atual área da Sociedade São Vicente de Paulo]”. O segundo é “o Sr. João Batista Ferrari, que exerceu o cargo de Prefeito no tempo da ditadura e foi o primeiro Prefeito eleito no advento da democracia.” Sobre seus trabalhos enquanto homem público, a revista destaca: “Centro de Saúde, Posto de Puericultura, Escola Profissional (...) jardim da Praça Antonio Vieira Tavares [que antes era um descampado], (...) calçamento da cidade.” E salienta-se como uma de suas maiores conquistas “a majestosa ponte de cimento armado sobre o rio Tietê”.

No cenário artístico, três nomes ligados à música são destacados: os maestros Henrique Castellari, José Maria Marques de Oliveira e Odmar do Amaral Gurgel. Sobre o primeiro deles, de nacionalidade italiana, se diz que “regeu por longos anos a Banda Musical Saltense com brilho e dedicação”. Sobre o segundo, popularmente conhecido por Zequinha Marques, natural de Salto: “conduziu (...) por muitos anos a orquestra Itaguassu e dirigiu durante cerca de 40 anos o coro da Igreja Matriz, sendo compositor de músicas sacras.” E por último, cita-se o também saltense que, artisticamente, era conhecido por Gaó: “tendo estudado nos Estados Unidos, atua no momento nas Emissoras Associadas de S. Paulo”. Ainda no plano artístico, Anselmo Duarte e J. Silvestre também são mencionados. Sobre Anselmo, se diz: “Salto orgulha-se em possuir um filho seu na cinematografia nacional. Anselmo Duarte, o maior astro do cinema brasileiro, que atualmente tem contrato com a Vera Cruz de São Paulo.” Sobre Silvestre – então trabalhando na Rádio Tupi de São Paulo, se diz: “figura de grande destaque nos meios artísticos (...), moço idealista e cheio de entusiasmo, [que] está ganhando fama dia a dia, sendo considerado um dos melhores radialistas do Brasil”. O setor esportivo também foi destacado, citando-se dois “autênticos valores” saltenses: “Paulo Monari (Pauly) e Amadeu Mosca, ambos campeões paulistas de futebol pelo extinto São Bento da Capital, em 1925.


26 de agosto de 2010

A tradição dos andores da Padroeira

Desde tempos remotos, dada a antiguidade das festas setembrina saltenses, grupos de devotos se mobilizavam para confeccionar os andores que transportariam a imagem de Nossa Senhora do Monte Serrat nas procissões em seu louvor. Para se ter uma ideia da atmosfera que envolvia a nossa cidade nessas ocasiões, há mais de 50 anos, podemos ler um relato publicado em 1949 no jornal O Trabalhador, órgão ligado à Igreja, sobre a procissão daquele ano:

“(...) dia 8 de setembro, festa da Natividade da Virgem, festa de nossa excelsa padroeira Nossa Senhor do Monte Serrat. Vibram os corações de alegria, exultam as almas de contentamento. Cedo, a missa solene em louvor à Virgem. Cantou-a Monsenhor João Couto (...).

À tarde, as ruas da cidade quase não comportavam mais os transeuntes. Ia sair Nossa Senhora, ia percorrer as ruas da cidade em majestosa procissão.

Às cinco horas da tarde, começa a Virgem a percorrer a cidade, aclamada por uma multidão imensa, incalculável. Era uma onda que se movia acompanhando sua Mãe e Rainha. Todos queriam levar Nossa Senhora.

Começa a escurecer e a nossa Rainha e Mãe continua seu passeio pelas ruas todas iluminadas. A multidão, a cada rua, a cada esquina que passa, vai se avolumando. A massa humana que acompanha vai se comprimindo cada vez mais, pois as ruas da cidade se tornam pequenas.

Escurece. E Nossa Senhora continua a peregrinar abençoando o bom povo saltense. Acendem-se as luzes do andor. Espetáculo maravilhoso! Nossa Senhora por entre as dálias e luzes, sentada em trono de glória, com o Menino Deus em seus braços, parece sorrir ao seu povo, agradecendo a todos as homenagens prestadas em seu louvor.

Vibra o povo de júbilo, de alegria íntima. E nesse momento, não se sabe o que admirar: se Nossa Senhora nesse andor material, fabricado por mãos humanas, que tanto nos deslumbra, ou aquele outro, que vai no coração dos que tomam parte nesta apoteose, andor espiritual feito de amor à Virgem, gravado na alma desses milhares de fiéis devotos.

Aproxima-se Nossa Senhora de novo, sobe a escadaria da Igreja e, virada pra o povo, ela parece dizer seu adeus a todos. Nesta hora, por entre o estourar dos rojões, por entre as notas vibrantes das bandas, a alma e o coração não suportando mais a alegria que lhes vai no íntimo, começam a derrubar lágrimas que purificam mais ainda as almas e o coração de todos que assistem ao espetáculo.

E Nossa Senhora subiu a escadaria, abençoou mais uma vez o povo e entrou. Terminara a apoteose. Estava terminada a festa, e das festas setembrinas... Só a saudade ficou.”

E para levantar alguns detalhes sobre a criação desses andores tão elogiados naqueles tempos, entrevistei na última semana a senhora Justina Pisciguelli, conhecida em Salto como Justa, que aqui chegou com 5 anos de idade, quando seus pais vieram para trabalhar na Brasital. Nascida em 1914, essa senhora, que hoje conta com 96 anos, ficou localmente famosa por sua habilidade na criação de flores em tecido e arame. Esse talento se manifestava em particular quando da montagem do andor de Nossa Senhora do Monte Serrat nas tradicionais festas nos meses de setembro.

Justina Pisciguelli
O ponto alto das festas, em sua parte religiosa, era a procissão. Nela, o andor sobre o qual era carregada imagem da Padroeira saia às ruas sempre bastante enfeitado. Isso era o resultado do trabalho incansável de senhoras devotas, como Justa, que por várias semanas antes da Festa do Salto se empenhavam dia e noite na preparação desses adornos. Havia até mesmo certo segredo na exibição desses andores, que eram aguardados com grande expectativa por parte dos fiéis. A partir de 1959, os andores de Nossa Senhora, que eram carregados nos ombros dos devotos, deram lugar aos carros-andores – ainda mais bem elaborados.

Justa começou a fazer flores por volta dos 20 anos de idade. E seu talento foi aplicado na criação dos andores de Nossa Senhora do Monte Serrat ainda nos anos 1940. O primeiro convite partiu de Itália Manfredini, uma saltense muito ligada aos afazeres da Igreja. A partir daí, esse trabalho tornou-se um hábito de Justa que perdurou até 1970. E a cada festa da Padroeira, um novo andor com as belíssimas criações de Justa era esperado, tornando-se uma atração aguardada por muitos.


Carro-andor de 1960, com as flores de Justa. Ao fundo, um dos blocos da Brasital.
Segundo Justa relata, primeiro havia a necessidade de se tingir o tecido branco, geralmente cetim ou veludo. Na elaboração das folhas, para se criar nuances, três tingimentos eram necessários, empregando-se as cores verde, amarela e vermelha. Isso as deixava mais parecidas com as folhas de verdade. A seguir, era necessário engomar os tecidos. Alguns moldes metálicos eram utilizados, possibilitando o corte de várias folhas e pétalas ao mesmo tempo, com uso do martelo, sendo as texturas e curvaturas feitas posteriormente com um ferro aquecido. Já para criar caules e galhos, empregava-se arame revestido com papel verde.

Embora fossem mais frequentes e famosas, não apenas rosas eram criadas por Justa. Ao longo dos diversos em anos que elaborou os andores, crisântemos, orquídeas, lírios, amores-perfeitos, tulipas, flores de maçã, de cereja – dentre outras – surgiram das mãos de Justa. Houve vezes em que chegou a fazer imitações de cachos de uva. Para isso, utilizou grão-de-bico, ao qual aplicou sucessivas camadas de parafina tingida com pigmento roxo, além de talco. Até mesmo flor de trigo a artista criou para os andores, a partir de sisal, papel branco e spray de tinta dourada.

Texto do verso de uma fotografia do andor de 1960 presenteada pelo Mons. João Couto, guardada por Justa, com agradecimentos pelo trabalho realizado.
Embora com quase um século de vida, Justa ainda lembra de algumas pessoas que a auxiliavam na criação dos andores – frisando que não era um trabalho que fazia sozinha. E cita: Itália Manfredini, a principal incentivadora, responsável pela montagem dos andores a partir dos enfeites criados; Joaquim Cargnelutti, o “armador”, encarregado da iluminação, armações e ferros que serviam de suporte; Helena Stefani, Maria Vitale, Helena e Marta Teixeira, Iraídes Lammoglia, Terezinha Stoppa, Mathilde Salvadori, dentre outras.


CRONOLOGIA

Abaixo, seguem transcritos alguns comentários, ao longo dos últimos 50 anos, que a imprensa saltense (jornais O Trabalhador e Taperá) veiculou a respeito dos tradicionais andores:

1951 
“O comentário desta semana não poderia girar senão em torno do acontecimento máximo do ano em nossa cidade (...): a festa da Padroeira! (...) As procissões concorridíssimas, transportando andores artisticamente ornamentados, desfilaram sob admiração unânime, tal a ordem observada e o respeitoso silêncio.”

1952 

“Na Matriz, o corre-corre é contínuo: comissões de festeiros, em sucessivas reuniões, preocupam-se em dar solução aos mil e um problemas que lhe estão afetos... membros de associações religiosas esmeram-se na ornamentação dos altares, na iluminação do templo, na decoração dos andores... no coro, orquestra e cantoras ultimam os preparativos para o grande dia.”

“As procissões, especialmente a do dia 8, constituíram deslumbrante espetáculo onde se destacavam os andores artisticamente adornados, a profusão de luzes, e, sobretudo, a grande piedade do povo que devotamente desfilava.”

1953 

“(...) notava-se a piedade, o recolhimento dos católicos locais e visitantes, reveladores da grande devoção à excelsa Padroeira de Salto, cujo andor, singela e artisticamente enfeitado, era disputado por imensa multidão que se acotovelava num grande esforço para poder, embora por alguns segundos apenas, tê-lo em seus ombros.”

1954 

“Mais uma vez suscitou viva admiração e os mais francos elogios da nossa população e dos adventícios à nossa festa, a brilhante ornamentação dos andores que tomaram parte na procissão.

Entre estes, cumpre-nos destacar o da Padroeira. Maravilhoso é a expressão mais acertada. Geralmente a entrada das procissões é feita silenciosamente, aos sons dos sinos que precedem quase sempre o ‘Sermão da Despedida’. Mas desta vez algo diferente aconteceu. Aquelas milhares de pessoas que se aglomeravam nas adjacências da Matriz não se contiveram: ante o espetáculo de luzes e flores constituído pelo trono da Virgem, que subia as escadarias e adentrava o templo, prorromperam em aplausos. Constituiu isso a novidade da Festa da Padroeira, e um acontecimento, que por ser ímpar, deixou vivíssima impressão e espelhou fielmente os sentimentos do amor filial com que Maria Santíssima é venerada em nosso meio.”

1955 

“No desfile religioso do dia 8, o andor da Padroeira, caprichosamente ornamentado, foi conduzido por uma massa popular que de lado a lado da via pública estendia-se sobre seis quarteirões ou mais.”

1956 

“A iluminação e ornamentação dos andores e altares, graças ao trabalho paciente de alguns abnegados, estiveram impecáveis.”

1957

 “A ornamentação dos andores, nos quais foram transportadas as imagens, foi muito elogiada, por ter sido executada, mais uma vez, com arte e bom gosto.”

1958 

“A parte religiosa da festa terminou com a tradicional procissão de N. Senhora do Monte Serrat. (...) Podemos dizer que esteve bem organizada e concorridíssima, com andores ornamentados com arte e capricho.”

1959

 “Andores – Todos enfeitados com muito bom gosto. Aquele de Nossa Senhora, no entanto, constituiu-se num capítulo à parte nos festejos deste ano. Um verdadeiro mimo de perfeição e rara beleza. O carro-andor despertou invulgar interesse, plenamente justificado, aliás.”

1960
“Às 17,30hs realizou-se a majestosa procissão com a venerável Imagem de Nossa Senhora conduzida pelos fiéis em carro-andor artisticamente ornamentado.”

1964

 “A ornamentação do templo e dos andores – notadamente o da Padroeira – foi realizada com muito bom gosto e arte, compensando, por certo, o esforço e atenção das pessoas que se dedicaram a esse mister.”

1966
“Ao cair da tarde enorme multidão compareceu à Procissão da Padroeira, cuja venerável imagem, em carro-andor neste ano ainda mais artisticamente ornamentado, percorreu as ruas da cidade entre cânticos e orações do povo.”

1968

 “À tardinha, preparativos para a grande procissão da Padroeira: Banda de Clarins, à cavalo, mais quatro Corporações Musicais, coro de vozes, jovens com vestes especiais de “Damas de N. Senhora”, anjinhos, guardas de honra, e, finalmente, a Rainha, em seu trono-andor, artisticamente ornamentado e iluminado.”

1970
“A Missa solene e a procissão do dia 8, foram os pontos altos das festividades, com o andor de Nossa Senhora despertando muita atenção pela originalidade de sua ornamentação.”

1974 

“Na procissão, aquele esperado sucesso com uma imensa multidão participando da homenagem à Mãe de Deus, cuja imagem, em artístico e bem ornamentado carro-andor, foi festejada pelos milhares de saltenses e visitantes que acorreram de toda parte. Elogios os mais merecidos à apresentação do andor, que neste ano esteve mesmo belíssimo.”

“Como nos anos anteriores, milhares de pessoas acompanharam a procissão do dia 8, levando o andor de (...) pelas ruas da cidade. O andor da nossa Padroeira, aliás, provocou muitos comentários favoráveis, pois estava enfeitado com riqueza e bom gosto, maravilhando a todos.”

1975 

“Às dezoito horas, num imenso cortejo de estimadamente vinte mil pessoas que acorreram de todas as cidades vizinhas, além do povo da cidade, a imagem da Padroeira percorreu as ruas (...) em seu trono-andor lindamente ornamentado por pessoas da cidade, tendo sobre sua cabeça imensa coroa de flores cintilantes, e ladeada por anjos tocando trombetas e por arcos recobertos por três mil rosas.”

“À tarde, num majestoso carro-andor ricamente ornamentado e originalmente puxado por duas parelhas de bois, a Virgem do Monte Serrat saiu às ruas da cidade e abençoou os lares saltenses acompanhada por incalculável multidão Nas escadarias da Matriz, à entrada da procissão, essa mesma multidão ovacionava delirantemente a Padroeira.”

Carro-andor de 1975, puxado por bois
1979 
“Bem ao cair da tarde, realizou-se com esplendor a Procissão da Padroeira: carro-andor novo e funcional, enfeites artísticos e iluminação profusa destacaram ainda mais, aos olhos da multidão, a belíssima imagem da Virgem do Monte Serrat e do Menino Jesus, com suas coroas reluzentes, vendo-se ainda diante da mesma três imagens de anjos ali colocados neste ano, tornando ainda mais deslumbrante o conjunto.”

1991

 O ANDOR DE NOSSA SENHORA – Em contato que mantivemos com Carlos Pouza, responsável pela elaboração do Baldaquino e Andor, tomamos conhecimento que:

“Na intenção de resgatar uma antiga tradição, a de trazer a imagem da padroeira para seu andor no momento da procissão, resolveu-se neste ano preparar-lhe um local especial onde pudesse permanecer antes e depois da procissão com toda a pompa possível. Por esta razão construiu-se o Baldaquino em estilo barroco, que abriga a imagem desde uma semana antes da procissão.

Ao carro-andor de Nossa Senhora do Monte Serrat foi dado o mesmo estilo. Esta preocupação existiu para que houvesse harmonia entre um e outro, para que o visual proporcionado pelo Baldaquino até o momento da procissão, tivesse continuidade no carro que a conduziria pelas ruas da cidade e este visual marcado pela riqueza de significativos detalhes fosse encontrado em ambos.

A imagem passou pela cidade colocada em um pedestal dourado que a elevou a 1,80m do chão, considerando a altura do próprio carro, era guarnecida de quatro colunas feitas em tordilhões de mármore vinho, envoltos por folhas de louros dourados; dessas colunas, duas que ficaram ao lado da imagem eram suportes de candelabros dourados e outras duas à frente levavam arranjos florais. Atrás, acima de sua coroa, pairavam dois anjos que seguravam uma faixa na qual se lia a inscrição Regina Pacis (Rainha da Paz) e ainda mais acima, uma pomba branca, da qual se abriam raios dourados, lembrava a ação do Espírito Santo sobre a Virgem. Mil e duzentos botões de rosas champanhe naturais deram arremate ao carro, cujo ponto mais alto media 4,50m de altura e era simuladamente puxado por vinte meninos vestidos de franciscanos.

Tudo isso, inclusive o baldaquino, foi realizado num tempo recorde de vinte dias, o que só foi possível graças à ajuda e ao desprendimento de inúmeras pessoas que trabalharam diariamente até 1h00 da manhã. E, sem dúvida, graças às pessoas, estabelecimentos comerciais e empresas que custearam a obra.

Os materiais empregados foram os mais diversos possíveis: madeiras, ferros, arames, panos, espumas, cordas, metalóides, tintas, alforjes, isopor, etc.”

1992 

“O ANDOR – Um dos pontos altos da procissão foi, sem dúvida nenhuma, o andor com a imagem de Nossa Senhora do Monte Serrat, que neste ano, mais uma vez, foi maravilhosamente ornamentado pela equipe de Carlos Pouza, que conta com as seguintes pessoas: Rosely Cristina Ferrari, Rosi Mari Aparecida Ferrari, Vera Colaço, Maria Cristina Pouza Sontag, Amilcar Sontag, Alice Pouza, Maria Silvestrin, Elenice Terezinha Salvadori, Raquel Pacheco, Maria Laura Tomazini, Dalva Maria Gianetti, Eduardo Martins, Dinorah e Maria Augusta Mazza, Valdir (Arte Morena), Ana Carneiro, Antonia Micai, Fátima Costa, Angela Maria Bertolozzo Merlin, Virginia (artista plástica), Lolo, Priscila e Gisara Laghi, Irene Cargnelutti Scallet e os jovens Clemente, Rosano e Claudio.

Esta foi a equipe que durante 10 dias trabalho duro, das 14 às 23 horas, para deixar tudo pronto na hora certa. A reportagem manteve contato com Carlos Pouza, coordenador da equipe, e tomou conhecimento de todos os detalhes para se chegar a essa maravilha. Tudo foi cuidadosamente estudado e pesquisado, decidindo-se optar por vitrais. Assim, o trabalho começou a ser desenvolvido utilizando-se como armação o cangólio (tipo de tapete usado antigamente, feito à base de PVC); nos lugares dos vitrais usou-se gelatinas espanholas (importadas), próprias para colorir luzes em teatro. Além disso foi feita uma armação de ferro, com plataforma de madeira para que os vitrais sobressaíssem no carro; isopor para a moldura dos vitrais; brocado francês no fundo da cúpula de cada vitral e cerca de 120 metros de alfogre dourado, que faziam os raios que divergiam dos pés da imagem para as bordas do andor; flores desidratadas. Os desenhos dos vitrais das laterais formavam o Sagrado Coração de Maria, envolto em flores de lis, que são símbolo Mariano, e no de trás, o sol lembrando a visão apocalíptica de São João. A cúpula do andor, em estilo oriental, lembrou a influência árabe na arquitetura espanhola, região onde Nossa Senhora do Monte Serrat se originou. Na frente do andor, 20 garotos vestidos de franciscanos levaram tochas que foram feitas especialmente para a procissão. Realmente um trabalho de divina arte, que só essa equipe, comandada pelo especialista Carlos Pouza, poderia fazer.

Na procissão tivemos ainda o tradicional grupo de anjos comandados pela abnegada Mercedes Moro; estandartes com a Ladainha, destacando-se os 10 quadros pintados por Ana Carneiro e Virginia (...). Todos estão de parabéns por mais esse belíssimo trabalho, que através deste jornal, recebe os aplausos e os agradecimentos de todo povo saltense.”

1993 

“Apesar do tempo não estar muito firme, chegando até a chover com pouca intensidade, realizou-se no dia 8 de setembro à tarde, a tradicional procissão em honra à Padroeira, (...). Mais uma vez esse foi o ponto alto dos festejos religiosos, contando com cerca de 8 a 10 mil pessoas, segundo cálculos do Mons. Mário Negro. A procissão contou, além do andor, com cerca de 80 crianças e jovens carregando estandartes com invocação à ladainha de Nossa Senhora, 20 garotos vestidos de frades ilustrando o andor, e painéis enaltecendo o motivo religioso do evento. O andor mais uma vez foi maravilhosamente decorado por Carlos Pouza, Rosely Ferrari e equipe, com apoio técnico dos irmãos Cláudio e Clemente e o primo Rosano Andrietta.”

1995 

“A ornamentação do andor neste ano esteve singela, destacando a figura da Padroeira, num trabalho do Monsenhor Mário e uma equipe de colaboradores.”

1996

 “Por pouco o mau tempo não atrapalhou a data máxima da Padroeira da cidade, que é, sem dúvida, a procissão de Nossa Senhora do Monte Serrat. Por volta das 18 horas, o andor saiu da igreja, levado por cavaleiros especialmente preparados para a solenidade, percorrendo o trajeto de costume, sendo acompanhado por cerca de 4 mil pessoas. Depois de uma hora de percurso, a imagem teve uma chegada triunfal, sendo recebida com calorosos aplausos e uma espetacular queima de fogos.”

1998 

“(...) o andor de N. S. do Monte Serrat neste ano foi decorado com flores de maçã, feitas artesanalmente pelo artista plástico Tonino Chiavegatti, responsável pelo carro-andor.”

1999

 “Andor – O carro-andor que conduziu a imagem da virgem do Monte Serrat pelas ruas da cidade, como nos dois anos anteriores, foi ornamentado pelo artista Tonino Chiavegatti, que utilizou 423 galhos de orquídeas, “olho de boneca” nas cores branca, rosa, lilás, uva e palha, além de 100 metros de fios de nylon com botões de espelho. Para montar o andor, o artista demorou aproximadamente 3 dias, sendo que as flores, doadas por uma família saltense, serão vendidas aos fiéis.”

2000 

“A imagem original da Padroeira de Salto (...) voltou às ruas de nossa cidade no final da tarde de ontem, em um andor decorado com rosas e palmas brancas de cor-de-rosa. Anteriormente, ela havia percorrido as ruas da cidade, em procissões, até 1796, quando foi substituída pela imagem destruída no incêndio de 1935.”

2001 

“A procissão (...) encerrou as comemorações religiosas da Festa da Padroeira no final da tarde e início da noite de sábado, reunindo cerca de 8 mil pessoas (...). Após a missa, os fiéis acompanharam o andor que levou pelo segundo ano consecutivo a antiga imagem de Nossa Senhora do Monte Serrat, juntamente com grupos de orações e da banda Gomes-Verdi.”

2002 

“De acordo com representantes da comunidade Monte Serrat, mais de 15 mil pessoas acompanharam o andor da Padroeira durante o trajeto (...). A imagem de Nossa Senhora foi puxada por um carro com oito bois e, após a procissão, houve queima de fogos.”

12 de agosto de 2010

Colégio Estadual Professor Paula Santos

“E já se realizaram em nossa cidade os exames de admissão ao curso Ginasial. Muitos alunos da 1ª série, que haviam iniciado o curso na vizinha cidade de Itu, estão agora matriculados em sua própria casa, assim podemos dizer”. Era assim que começava a notícia, assinada por Joseano Costa Pinto, intitulada “Ginásio”, veiculada na primeira página do extinto jornal saltense O Liberal, edição de 4 de março de 1951.

Em janeiro de 1948 se anunciou que seria criado em Salto um ginásio estadual. Diante disso, algumas comissões se formaram visando apressar a sua construção. Mas foi somente no Diário Oficial do Estado de 2 de janeiro de 1950 que foi publicada a lei número 613, criando oficialmente o Ginásio Estadual de Salto. Em 30 de novembro seria emitida a autorização do Ministério da Educação para que o ginásio começasse a funcionar.

A história da instalação de um ginásio em Salto – ou seja, a instituição do ensino escolar com classes para além da quarta série primária – é marcada por uma reunião realizada na noite de 25 de fevereiro de 1950. Essa reunião ocorreu na sede da Sociedade Instrutiva e Recreativa Operária Saltense (SIROS), no espaço que hoje abriga o Museu da Cidade, mas não atraiu muitos participantes. A população em geral não se mobilizou, apesar do convite publicado na imprensa e do desfile de uma corporação musical pelas ruas da cidade, momentos antes, com o objetivo de chamar a atenção da população para o acontecimento.

Mesmo assim, o grupo batizado “Comissão Provisória Pró-Ginásio” conseguiu reunir os líderes locais, dando início aos trabalhos. Nesse momento, os membros dessa comissão eram acusados pelo jornal O Liberal de desejarem fazer uso político da conquista de um ginásio para Salto, alegando que a atribuição de um único padrinho para a conquista seria algo injusto, sendo o nome do deputado Martinho Di Ciero, como responsável pela iniciativa, aclamado por uns e questionado por outros.

Embora com reduzida participação do povo, a reunião foi bastante agitada, sendo que um dos membros de oposição ao governo municipal teve que ser contido pelo delegado de polícia para que “não subisse na mesa”. Ao final, uma comissão definitiva para os trabalhos foi escolhida, com o professor Cláudio Ribeiro da Silva à frente, como presidente. Esses primeiros passos em torno da luta pela criação de um ginásio estadual em Salto movimentaram algumas semanas de discussões na imprensa e nos bastidores políticos.

Em 11 de janeiro de 1951, o então Prefeito Municipal de Salto, João Baptista Ferrari, abriu concorrência pública para as “obras de construção do Ginásio de Salto” – que deveriam ser executadas de acordo com o projeto e especificações fornecidas pela própria Prefeitura – antes mesmo de se ter o terreno. Em 8 de fevereiro se anunciava que a proposta da Sociedade Construtura Celbe Ltda., única empresa que concorreu, fora a vencedora. Passado um ano da animada reunião de 25 de fevereiro, que definiu a comissão definitiva pró-ginásio, o que se conseguiu foi apenas a instalação do ginásio de forma provisória em salas do Grupo Escolar Tancredo do Amaral, um prédio de 1913. Essa ideia teria partido do Dr. Archimedes Lammoglia e sido lançada num encontro informal entre autoridades ocorrido no Clube Ideal.

Em dezembro de 1950 foram realizados os exames de admissão do primeiro grupo de alunos, que começou a frequentar as aulas no dia 1º de março de 1951, em duas salas do Grupo Escolar Tancredo do Amaral. Após algumas polêmicas em torno dessa forma de se iniciar o curso ginasial em Salto, em maio de 1952 da Prefeitura doou ao Estado um terreno de 8 mil metros quadrados para a construção de um prédio próprio para o ginásio.

A situação de improviso, apesar dos trâmites visando a construção de um prédio próprio, perduraria por alguns anos. Sobre o ginásio estadual, em 1959, o Dr. Adriano Randi dizia – em livro no qual traçou um panorama completo da cidade de Salto naqueles tempos – que “por falta de prédio próprio” o ginásio estava “funcionando provisoriamente há 8 anos no prédio do G. E. Tancredo do Amaral, em condições precárias e com prejuízo do curso primário do mesmo”, com um total de 138 alunos matriculados naquela data. Nesse mesmo ano, o Tancredo passou por uma reforma e o ginásio funcionou temporariamente em quatro salas do Externato Sagrada Família. Em 1960, por iniciativa do deputado Dr. Archimedes Lammoglia, foram iniciadas as obras de construção do prédio do ginásio, concluídas em 1962. No ano seguinte, as aulas começaram a ocorrer também no período noturno.

O Colégio Paula Santos no início da década de 1960.

Jubileu de Prata do "Paula Santos". Foto de Benito Begossi.

Curso de admissão ao ginásio, 1967. Foto de Jessia Sampaio.

Formatura de Araldo Bertani Jr., recebendo os cumprimentos do diretor Antônio Ferrari.


O PATRONO

Grande educador, José de Paula Santos – escolhido para nomear o primeiro ginásio estadual de Salto – nasceu na cidade de Guaratinguetá/SP, em 22 de janeiro de 1893, fazendo seus primeiros estudos naquela cidade, onde se formou professor em 1911. Lecionou nas cidades paulistas de Lorena, São Carlos, Rio das Pedras e Guaratinguetá, antes de se radicar em Salto em 12 de maio de 1915, passando desde logo a lecionar no então único grupo escolar de Salto, que mais tarde viria a se chamar Tancredo do Amaral. Em 1917, casou-se com dona Maria de Almeida, de Itu, conhecida em Salto como Dona Cotinha. Paula Santos saiu do Tancredo do Amaral em 1932 para lecionar matemática no Instituto Regente Feijó, em Itu, local onde se aposentou em 1941. Pequeno e franzino, era apelidado de “Baxixa”. Outros ainda o chamavam de “Anchieta de Salto”. Em Salto, participou ativamente da vida social, pertencendo à diretoria de algumas sociedades, como a Sociedade Instrutiva e Recreativa Ideal - SIRI. Faleceu em 1949.

6 de agosto de 2010

Salto já contava com duas usinas hidrelétricas instaladas antes da década de 1930

Primeira usina hidrelétrica instalada em Salto, a Usina de Lavras demorou cerca de dois anos para ser construída. A inscrição que se pode ver na entrada do prédio, ainda hoje, marca o ano de 1904. Contudo, ela foi inaugurada somente em 1906 pela Companhia Ituana de Força e Luz. Foi, portanto, a segunda usina hidrelétrica instalada às margens do rio Tietê, sendo a primeira em Santana de Parnaíba, em 1901. Nesses primeiros tempos, Lavras atendia ao núcleo urbano de Itu e alguns pontos de sua zona rural. Um ano e meio mais tarde foi a vez de Salto utilizar a eletricidade gerada por ela.

A usina de Lavras e o rio Tietê, em vista aérea, 1930.

Em 1929, Lavras foi vítima de uma grande inundação e ficou paralisada por sete anos devido aos graves danos causados nos equipamentos. Talvez essa tenha sido uma das maiores cheias do rio Tietê ocorridas no século XX. Quando Lavras voltou a operar, funcionou por vinte anos como unidade complementar da Usina de Porto Góes, localizada também em Salto, sobre a qual trataremos a seguir.

Obsoleta, Lavras foi colocada à venda em 1956. Nenhum negócio foi concluído e a usina ficou abandonada. Em 1971 a Prefeitura de Salto adquiriu a propriedade no entorno da usina. Somente em 1992, com a criação do Parque de Lavras, é que o prédio da usina e a área circundante foram, de fato, encarados como patrimônio histórico e natural da cidade. Durante as primeiras décadas do século XX várias empresas geradoras de eletricidade se instalaram no interior paulista. As usinas instaladas às margens rio Tietê, nesse momento, serviam aos grandes empreendimentos fabris e às áreas urbanas próximas.

A origem da denominação Lavras se perdeu, não havendo documentos que a expliquem, tratando-se de nome aplicado ao local há muito tempo. Uma possibilidade é que, nos arredores, tenha ocorrido atividade de garimpo, da chamada mineração de faisqueira, ou seja, a busca de ouro superficial no leito e nas margens de rios, como ocorreu em várias localidades paulistas. Outra hipótese é que o nome venha do verbo lavrar, vinculado ao trabalho de corte de pedra – o granito que existe em grande quantidade na região.

Ilustração do funcionamento da Usina de Lavras.
Desenho de Luiz V. Keating, 1991

Já a construção da barragem e usina hidrelétrica de Porto Góes teve início em 1924, pela indústria Brasital S/A – que visava abastecer seu complexo fabril instalado nas proximidades. A concessão estadual para a construção de uma usina próxima à cachoeira fora obtida pelo grupo industrial antecessor, a Società Italo-Americana, nos primeiros anos da década de 1910. Mas a Brasital não concluiu a obra. Em 1927 a concessão foi repassada para a Companhia Ituana de Força e Luz – que no mesmo ano teve seu controle acionário transferido para a The São Paulo Tramway Light & Power Co. Ltd. – conhecida simplesmente por Light. Nas obras, concluídas pela Light em 1928, cerca de 1500 homens trabalharam.

Trabalhadores responsáveis pela abertura do canal da usina de Porto Góes, 1924.

Todo o aparato necessário para que a usina de Porto Góes entrasse em funcionamento alterou significativamente a paisagem dos arredores da cachoeira que dá nome a nossa cidade. O volume de água que hoje se observa na cachoeira foi bastante reduzido em virtude da abertura do canal de descarga, que também resultou numa ilha artificial na margem esquerda, na qual a vegetação se preservou desde então.

Ao lado dos prédios remanescentes da antiga Brasital formou-se um conjunto que é símbolo da arquitetura industrial paulista das primeiras décadas do século XX. Hoje, a usina de Porto Góes apresenta duas unidades geradoras dotadas de turbinas tipo Francis, de eixo vertical, com capacidade instalada de geração de 11 MW, vazão turbinável de 56 m³/s e desnível nominal de 25 metros. Atualmente, está sob o controle da Empresa Metropolitana de Águas e Energia S. A., a EMAE, tendo sido a primeira usina dessa empresa a se tornar automatizada.

29 de julho de 2010

Sociedade Italiana Giuseppe Verdi


Fachada do Cine Verdi velho com a
diretoria da Sociedade Italiana à frente, 1931.
A atual Sociedade Italiana Giuseppe Verdi, com sede no início da Rua Floriano Peixoto, em salas anexas ao Museu da Cidade de Salto, é herdeira da sociedade de socorro mútuo formada pelos italianos que chegaram a Salto entre o final do século XIX e início do XX, a Società Italiana di Mutua Assistenza Giuseppe Verdi. As sociedades de mútua assistência existentes no Brasil no início do século passado funcionavam de maneira semelhante: uma contribuição mensal de cada sócio possibilitava que qualquer participante, vítima de desemprego ou doença, não perecesse por falta de meios de subsistência. Isso ocorria numa época em que não existia previdência social, e não se trabalhando devido a uma enfermidade, por exemplo, não se recebia.

Pela documentação existente, sabe-se que em 9 de abril de 1916 os associados da Giuseppe Verdi aprovaram o “estatuto social”. Mas a fundação dessa sociedade, embora não haja exatidão na data, teria ocorrido anos antes, entre 1902 e 1903. Infelizmente não existem registros de seu primeiro período de existência. Os acontecimentos de 1916 seriam referentes à reconstituição da sociedade que ficara inativa por algum tempo, em virtude, principalmente, dos reflexos da Grande Guerra iniciada em 1914.

O primeiro bloco do conjunto arquitetônico que abrigou as diversas atividades promovidas por essa sociedade ao longo do século XX foi concluído em 1903 para servir de local de ensaios e sede da Corporação Musical Giuseppe Verdi, também conhecida por Banda Italiana, cuja fundação é de 1901. Essa construção pode ser vista na foto que ilustra esta coluna. Mas, depois de pouco tempo, o uso do prédio não ficou mais restrito à banda. A Sociedade Italiana, que ao surgir já tinha a banda a ela vinculada, decidiu instalar no mesmo espaço o Cine Verdi, que passou a projetar filmes – ainda nos tempos do cinema mudo. Assim, não restava muito espaço, existindo apenas uma pequena sala de reuniões além do salão principal, que convivia com o arrastar de cadeiras constante, em virtude de, ora ser espaço de ensaio da banda, ora espaço de exibição de filmes. Nas tardes de domingo ocorriam bailes frequentados não apenas pelos membros da colônia italiana, mas também pela população brasileira identificada com os peninsulares.

As demais atividades da Sociedade Italiana eram desenvolvidas numa ampla casa ao lado da sede, na Rua José Galvão, atual número 134 – então alugada da família Roncoletta. Ali estavam sediadas a Escola Italiana, mantida pelo professor Francisco Salerno, que depois seria denominada Escola Anita Garibaldi e subsidiada pela indústria Brasital; a Sociedade dos Ex-Combatentes da Primeira Guerra Mundial; o Círculo de Leitura Dante Alighieri e o Partido Fascista de Salto. Nos fundos, viviam os zeladores Pascoalina Gonela e Emílio Baldim. Portanto, faltava espaço à Sociedade. Em virtude disso, em maio de 1934 a diretoria decidiu contrair um empréstimo para edificar – no terreno de 1700 m² que já dispunha, existente entre a referida casa alugada e a construção pioneira de 1903 – a Casa D’Italia. Para essa ampliação ocorrer foi necessária a remoção de uma grande quantidade de granito que existia no terreno, uma característica dessa região da cidade mais próxima ao rio Tietê.

As obras, iniciadas em 1934, se estenderam até fins de 1936. E em 15 de fevereiro de 1937 uma grande inauguração foi promovida, contando com a presença de um representante da Embaixada Italiana, do cônsul da Itália em Campinas e de dois representantes do Consulado de São Paulo. A seguir, a biblioteca do Círculo de Leitura e a Escola Anita Garibaldi saíram da casa alugada e foram ocupar o edifício antigo da Sociedade, ficando o recém-inaugurado salão destinado às atividades de projeção cinematográfica, peças teatrais e apresentações musicais. Pouco tempo depois, em 1939, a Banda Italiana, o Círculo de Leitura e o Partido Fascista deixariam de existir. E em 1941, com o rompimento de relações entre Brasil e Itália, em virtude da Segunda Guerra Mundial, a Sociedade Italiana cessou todas as suas atividades, ficando apenas o então presidente, Leone Camerra, encarregado de receber o aluguel do salão de cinema – cedido a uma empresa de Sorocaba desde 1938 – com o intuito de promover a manutenção do prédio.

As atividades da Sociedade apenas seriam retomadas 10 anos mais tarde, em abril de 1951. Sua sede, cedida à Sociedade Instrutiva e Recreativa Operária Saltense (SIROS) desde 1945, foi devolvida em estado precário. O quadro social foi reestruturado e a mesma diretoria que encerrara as atividades em 1941 foi reempossada. A sede passou por reformas e, na prática, a Sociedade só retomou suas atividades em 1955. Nesse mesmo ano uma nova empresa foi autorizada a administrar o salão de cinema, desta vez uma originária da cidade de Itu.

Apesar de seu quadro social estar cada vez mais reduzido e envelhecido, foi apenas no final da década de 1960 que a Sociedade Italiana admitiu a entrada de sócios não-italianos, sendo os primeiros brasileiros a fazer parte dela, os senhores: Pedro Rudine Tonelo, Rubens Milioni, Vitório Isolani, Alberto Telesi, Adélio Milioni e Geraldo Sontag. Ao longo de sua história, estiveram à frente da Sociedade, como presidentes: João Scarano, Gino Biffi, João Vassali, Leone Camerra, Lino Tabarin, Vicenzo Bifano, Adélio Milioni, Rubens Milioni, Geraldo Hernandez, Ayr Galafassi, João Antonio da Rós e, no cargo desde 1994, José Odair Peron.

Uma mudança no estatuto fez com que a Sociedade simplificasse seu nome para Sociedade Italiana Giuseppe Verdi, retirando a expressão “de Mútua Assistência” – já que não mais correspondia aos seus fins. Uma ação de desapropriação dos bens imóveis da Sociedade foi movida pela Prefeitura em 1986, a qual não foi adiante e acabou encerrada com o acordo de 1994 que cedeu, em regime comodato, por 30 anos, o conjunto situado numa das esquinas das ruas Floriano Peixoto e José Galvão à municipalidade. Esse comodato renovado por mais três décadas em 2006. Atualmente, a Sociedade tem como principal atividade o ensino da língua italiana.

22 de julho de 2010

A Estação Ferroviária de Salto

O prédio que ainda hoje pode ser visto na Praça Álvaro Guião – e que em breve será mais um dos pontos com vocação turística nesta cidade – foi construído em 1898, sob a direção do mestre de obras João Garcia, e serviu por muitos anos como estação ferroviária. Os trilhos da Companhia Ytuana de Estradas de Ferro chegaram a Salto em 26 de novembro de 1870, mas nessa ocasião apenas foi instalado um marco no local onde seria construída a estação. A instalação oficial da Estação Ferroviária de Salto ocorreu em 2 de abril de 1873. Curiosamente a Estação de Itu foi inaugurada depois, no dia 17 do mesmo mês.

Quando a ferrovia chegou, Salto não era mais que uma povoação com duzentas casas e menos de mil habitantes. Mas o crescimento não tardou a vir nos anos seguintes, já que a chegada da ferrovia foi um dos pontos decisivos para as primeiras tecelagens aqui se fixarem, nas imediações da cachoeira. E isso acabou atraindo grande quantidade de trabalhadores.

As Festas do Salto – existentes desde os primeiros anos do século XVIII – motivaram, a partir de 1876, uma iniciativa que se tornou praxe das empresas que operavam a ferrovia: fazer correr trens entre Salto e Itu, nos dias 7 e 8 de setembro de cada ano, a curtos intervalos de tempo. Isso se mostrava interessante já que havia um numeroso contingente de ituanos interessados em vir para cá, justamente para participar dos tradicionais festejos na data da Padroeira do Salto. O aviso extraído do jornal Imprensa Ytuana, de 4 de setembro de 1881, dá o tom do movimento nesses dias: “No dia 8 de Setembro p. futuro correrão os trens extraordinarios como de costume. Na vespera 7 de Setembro haverá um trem especial que partindo de Ytu as 5 horas da tarde, regressando do Salto de noite, 15 minutos depois de um prolongado apito da machina.”

Nos anos imediatamente após a instalação da Estação de Salto, andar de trem – fosse para sair de Salto ou na chegada – significava também ter que atravessar o rio Jundiaí, no trecho que hoje é o final da Rua Monsenhor Couto, a bordo de uma balsa. Apenas em agosto de 1888 foi instalada uma ponte de madeira sobre o rio – pouco acima da que existe hoje – projetada e custeada por um dos industriais pioneiros de Salto, o Dr. Barros Júnior, que era engenheiro civil.

Até a década de 1950, tanto para transporte de cargas como de passageiros, a ferrovia reinou absoluta em nossa região. Nessa época, Salto chegou a ter seis ligações diárias com a capital paulista, sendo três via Jundiaí – com baldeação pela São Paulo Railway (saindo daqui às 5h00, 11h00 e 18h00) – e outras três via Mairinque, que saíam 30 minutos após as primeiras via Jundiaí, nos mesmos intervalos. Por essa época, a ferrovia em Salto atendia a uma demanda muito grande das indústrias, especialmente da Eucatex e da EMAS, aqui instaladas no início da década citada.

Em 1959 a Estação de Salto tinha cinco desvios particulares: da pedreira da Ponte; da pedreira de João Dias; da Brasital – com quase 2 km de extensão; da Eucatex e da EMAS, que consumia bauxita. Outras indústrias – tais como a Têxtil Assad Abdala e a Fábrica Picchi – e o comércio em geral se valiam das mercadorias e matérias-primas que chegavam à estação: celulose, fardos de algodão, cimento, madeira, soda cáustica, bobinas de aço, botijões de gás etc. Pela Estação de Salto também se exportava. Na década de 1950, daqui saíam: café em grãos, pedra britada, paralelepípedos, areia dos rios Jundiaí e Tietê, vinho das vinícolas Milioni e Donalísio, óxido de alumínio da EMAS, em média 10 vagões por dia de chapas da Eucatex, artigos de couro do Cortume Telesi, dentre outros.

Em 1976 cessou o transporte de passageiros. As rodovias já haviam melhorado bastante e o número de linhas de ônibus já havia aumentado – fruto de uma política pública que não se interessava pela ampliação da rede ferroviária e direcionava os investimentos em outra direção. Ao longo de sua existência, a Estação de Salto pertenceu às seguintes companhias, numa sucessão de vendas e fusões que ocorreram: Cia. Ytuana de Estradas de Ferro (1873-1892), Cia. União Sorocabana e Ytuana (1892-1907), The Sorocabana Railway Company (1907-1919), Estrada de Ferro Sorocabana (1919-1971) e, por último, FEPASA – Ferrovia Paulista SA (1971-1987). Nossa estação foi desativada em 1987, com a construção do novo traçado de linha e nova estação para além da Eucatex.

Locomotiva na estação, ca. 1948.

Eloy Rigolin, Terezinha Rigolin da Rós Tecchio e Luiza Cazarine Rigolin na estação, ca. 1950.
Acervo de Ana Cláudia R. Ferreira. (Grupo Fotos Antigas de Salto/SP)
Enchente do Rio Jundiaí em 1983, com a estação ao fundo, ainda em operação.
Acervo de Paulo Conti (Grupo Fotos Antigas de Salto/SP)

Construção da ponte de madeira sobre o Rio Jundiaí, 1939. Ao fundo, a estação.

Estação de Salto, 1920. Vê-se a retirada de fardos de algodão que à época eram transportados até as tecelagens em carroças puxadas por burros.
Desembarque, década de 1930.


As fotos a seguir foram tiradas por Anicleide Zequini em abril de 1988:












Cronologia:

1870 – Organização da Companhia Ituana de Estrada de Ferro por comerciantes, industriais e fazendeiros de Itu e vizinhanças.

1873 – Inauguração oficial do ramal ligando as cidades de Itu e Jundiaí, passando por Salto.

1892 – Fusão das Companhias Sorocabana e ituana de Estrada de Ferro.

1903 – Falência e liquidação da União Sorocabana e Ituana.

1905 – Aquisição das instalações e equipamentos ferroviários pelo governo do Estado de São Paulo, com a denominação de Estrada de Ferro Sorocabana.

1971 – Criação da FEPASA – Ferrovia Paulista S/A, que incorporou a Estrada de Ferro Sorocabana, juntamente com outras quatro Companhias.

1985 – Inauguração do novo ramal, com a desativação do antigo traçado.

Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966