3 de maio de 2010

Outra versão para o caso Alfredo Rosa

Caso Alfredo Rosa: a morte de um mulato suspeito de ser ladrão de cavalos. De passagem por Salto – então uma pequena cidade operária com cerca de cinco mil habitantes em 1911 –, esse sujeito chamara a atenção de alguns moradores por seu comportamento inquieto. Suspeitando tratar-se do criminoso que há tempos era procurado na região, alguns saltenses o perseguiram e acabaram matando-o nas imediações do córrego do Ajudante, já que ele se pôs a correr logo que foi vítima dos olhares inquisidores de transeuntes. Após algum tempo, soube-se que esse sujeito não tinha envolvimento com o desaparecimento de animais na região, pois os verdadeiros ladrões foram capturados noutra localidade. Então, talvez na tentativa de suavizar a injustiça, foi construída uma capela no local da morte daquele sujeito que foi então nomeado Alfredo Rosa. Essa construção resistiu por várias décadas. Passados alguns anos, surgiram inclusive pessoas que diziam ter recebido alguma graça ou alcançado um milagre por intermédio de Rosa.

O inquérito policial referente ao caso soma mais de 70 páginas e está sob guarda do Museu Republicano de Itu, como tudo o que é referente a Salto e é anterior a 1966. Consultando-o, descobrimos algumas informações inéditas em publicações locais. Inicialmente, lê-se que três testemunhas foram ouvidas no dia do assassinato: 19 de julho de 1911. O relato do escrivão da delegacia de Salto aponta para o recebimento de um telegrama remetido pelo Delegado de Polícia de Itu, com o seguinte teor: “Roubaram em Porto Feliz um burro pampa, arreado com lombilho chapeado. O ladrão é um indivíduo moreno, baixo, usa cabeleira, tem falta de um dedo médio em uma das mãos e chama-se José de tal. Consta que o ladrão seguiu para aí. Saudações”.

Ao receber o comunicado, imediatamente o delegado de Salto tomou providências para a captura do sujeito descrito, caso ele se encontrasse em território saltense. Para isso, incumbiu da tarefa duas praças de destacamento e mais dois paisanos, que se encarregaram da sindicância. Por volta das cinco horas da tarde, um dos paisanos informou ao delegado que recebera notícia que estava hospedado no Hotel Central um “desconhecido que desconfiava ser ladrão de animais”. Sabendo disso, o delegado, em companhia de mais três pessoas, foi até o Hotel Central – onde de fato encontrou duas pessoas desconhecidas. Perguntou então ao dono do hotel se aquelas duas pessoas tinham se hospedado juntas em seu estabelecimento, recebendo resposta negativa. E suspeitando que uma delas estivesse envolvida com os roubos de animais, convidou o indivíduo suspeito, “que tinha cor parda, estatura mediana, cheio de corpo, de trinta anos presumíveis, trajando roupa escura”, para ir até a delegacia para averiguações. O sujeito concordou em acompanhar o delegado, mas chegando à rua, repentinamente sacou uma arma e disparou dois tiros contra a autoridade policial, não atingindo ninguém. E como naquele momento havia na rua certa “aglomeração de populares, saíram diversos em perseguição do criminoso, que evadindo-se [sic] pela praça Quinze de Novembro foi disparando sua arma contra os seus perseguidores, e, mesmo correndo, (...) carregava a arma, desfechando para mais de quinze tiros, [e] por fim tomou, depois de saltar uma cerca, a rua Joaquim Nabuco (...)”.

Em meio a essa perseguição, que se prolongou pela “estrada de rodagem de Capivari”, um dos populares foi atingido na coxa por um tiro disparado pelo fugitivo. A partir desse momento vários perseguidores que estavam armados “também dispararam vários tiros contra o fugitivo, que ao chegar ao ribeirão do Ajudante recebeu um tiro de frente, disparado por um dos populares, que o prostrou por terra, falecendo momentos depois”. O delegado, embora estivesse no grupo daqueles que perseguiam o suspeito, não soube apontar o responsável pelo tiro fatal. Em seguida, o cadáver foi conduzido à delegacia de polícia, onde foi revistado. Com ele encontraram um revólver – imitação de Smith & Wesson, de calibre nove milímetros –, uma faca, vinte mil e quatrocentos réis, e uma carta dirigida a Maria Vieira, à Rua Sete de Setembro, Itu – assinada “Arfredo Rosa”, com R. Outros bens do morto foram localizados no Hotel Central e listados, assim como dois cavalos com os quais chegou a Salto.

Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966