9 de junho de 2009

Circuito da Memória

Veja o vídeo sobre o Circuito:




Percorrer o interior de um cemitério mais que centenário pode despertar o interesse por uma série de temas envolvendo a história de uma cidade. O Circuito da Memória, a ser instalado no Cemitério da Saudade, com inauguração prevista para as 16h30 da próxima terça-feira, será formado por diversos painéis que trarão breves informações sobre a vida de personalidades significativas para a memória de Salto, além de fatos de destaque e peculiaridades locais. Os painéis estarão situados em frente a cada sepultura que remete ao tema ou personagem abordado. Trata-se de mais um caminho possível para se conhecer um pouco do passado de Salto, a exemplo dos painéis do Museu de Rua dispersos pelo centro velho. Inclusive mais um será acrescido à série, na Praça da Saudade, contando a história dos cemitérios em nossa cidade. O Circuito da Memória será um núcleo externo do Museu da Cidade de Salto. Foi um projeto implementado pela Prefeitura da Estância Turística de Salto, através da Secretaria da Cultura e Turismo, em conjunto com a Associação Cultural de Salto. A seguir, segue uma lista com as personalidades e temas contemplados, com breves dizeres sobre cada um deles.

Dr. Barros Júnior: Industrial e político do final do século XIX e início do XX. Foi o responsável pela instalação da segunda tecelagem em Salto, às margens do rio Tietê, em 1882. Republicano e abolicionista, ocupou os cargos de vereador, deputado estadual e prefeito de Salto. Foi o principal nome envolvido na luta pela criação do município de Salto, desmembrado de Itu, em 1890. Alcunhado “Pai dos Saltenses”, sua sepultura foi alvo de uma recente intervenção, com o objetivo de se recuperar as características originais.

Monsenhor Couto: Vigário em Salto entre 1926 e 1970, João da Silva Couto foi o religioso que mais presença marcou na cidade ao longo do século XX. É de sua época a construção da atual Igreja Matriz de Nossa Senhora do Monte Serrat.

Dr. Lammoglia: O saltense José Francisco Archimedes Lammoglia foi médico, advogado e político de destaque. Clinicou por longos anos no Hospital Matarazzo, na capital. Ocupou o posto de deputado estadual por sete mandatos consecutivos, conseguindo inúmeros benefícios para sua terra natal.

Casal Segabinazzi: A cidade de Salto foi palco de uma forma específica de tratamento da dor ciática durante mais de 100 anos. E o casal de italianos Doralice e Giuseppe Segabinazzi são considerados os pioneiros nessa prática, que fazia uso de uma erva específica trazida da Europa. Para Salto se dirigiam, a fim de se tratar do mal, gente de diversas regiões do Brasil, de alguns países do continente americano e até mesmo do Oriente Médio.

Dr. Henrique Viscardi: O italiano Enrico Viscardi formou-se em medicina pela Universidade de Pavia, na Itália, em 1883. Em 1902 Viscardi chegou ao Brasil, instalando-se em Salto, pois fora chamado pelo industrial José Weissohn para assumir a chefia do serviço sanitário das tecelagens aqui existentes. Bem quisto por toda a população saltense daqueles tempos, era chamado de “médico dos pobres”, ou ainda, “médico das flores”. Em seu túmulo, que ainda hoje recebe flores, lê-se o seguinte epitáfio em língua italiana: “Nesta sepultura que é a expressão da dor e da admiração de todos, está mudo e frio o coração do doutor Henrique Viscardi, médico insigne, que era todo caridade e que cessou de palpitar no dia 13 de dezembro de 1913”.

Filhas de São José: Religiosas denominadas Filhas de São José chegaram a Salto em novembro de 1936, por intermédio do padre João da Silva Couto, com o objetivo de dirigir a então Escola Paroquial, que mais tarde se transformaria no Externato Sagrada Família, popularmente conhecido por Coleginho, instituição de ensino ainda hoje em atividade. No jazigo do Instituto existente no Cemitério da Saudade estão sepultadas quatro freiras com atuação em Salto.

Maestros saltenses: Importantes maestros saltenses foram sepultados no Cemitério da Saudade, concentrando-se por mero acaso numa mesma rua. Um deles é Henrique Castellari, que dá nome ao Conservatório Municipal. Outros três, pertencentes a gerações distintas de uma mesma família, estão sepultados na perpétua 43: Antônio, Silvestre e Agostinho Pereira de Oliveira. Nessa que poderia ser batizada de rua dos maestros, se encontram ainda as sepulturas de João Tatangelo e Mário Baldi.

Prof. Dalla Vecchia: João Baptista Dalla Vecchia foi diretor e professor da saudosa Escola Anita Garibaldi por 37 anos. Filho de italianos, ingressou na indústria Brasital, ali trabalhando até 1931. Nesse ano recebeu um convite para dirigir e lecionar na escola que era mantida pela empresa. Maestro, esteve à frente da União Musical Gomes-Verdi por longos anos. Foi vereador e vice-prefeito.

Alfredo Rosa: Trata-se de um lavrador que, de passagem por Salto em 1911, foi tido por ladrão de cavalos. Perseguido por uma multidão enfurecida, foi assassinado. Em seguida soube-se que Alfredo Rosa era inocente. Construída uma capela no local de sua morte, pouco tempo depois surgiram pessoas que atribuíam a ele a ocorrência de milagres. Já os restos mortais de Alfredo Rosa constituem um capítulo à parte, pois foram transferidos de local por diversas vezes, estando hoje numa sepultura no Cemitério da Saudade.

Irmãos Begossi: Não se trata de uma sepultura, mas de um monumento erigido pela colônia italiana, em 1917, em homenagem a dois irmãos ítalo-saltenses, Nerone e Raoul Begossi, que morreram nos campos de batalha da Primeira Guerra Mundial.

A presença italiana: A perpétua de Caetano Liberatore foi a escolhida para referenciar a existência em grande quantidade de antigos túmulos que trazem inscrições em língua italiana, atestando a forte presença da colônia nesta cidade, especialmente no início do século XX.

Prof. Cláudio Ribeiro: Cláudio Ribeiro da Silva foi um professor com passagem marcante pela cidade entre as décadas de 1910 e 1930. Foi também diretor da Escola Tancredo do Amaral. Passagens significativas dos anos em que o professor Cláudio Ribeiro esteve em Salto foram seus trabalhos quando das Revoluções de 1924 e 1932, ocasiões em que capitaneou esforços da localidade em benefício dos combatentes que por aqui transitavam.

Luiz Castellari: Pioneiro da pesquisa histórica em Salto, Luiz Castellari foi, sem dúvida, o maior responsável pela descoberta e divulgação de muitos documentos importantes para a história local, especialmente os do final do século XVII e do início do século XVIII, envolvendo a figura do fundador Antonio Vieira Tavares.

Prof.ª Benedita de Rezende: Considerada uma das educadoras de maior erudição em Salto na primeira metade do século XX, Benedita de Rezende nasceu em Taubaté, e nas décadas 1920 e 1930 lecionou nesta cidade. Aposentada, voltou para Salto, e aqui fixou residência até seu falecimento. Poetisa de rara sensibilidade, escreveu hinos comemorativos, colaborou na imprensa da cidade e ministrou aulas de música e línguas até seus últimos dias de vida.


Parte do folder que produzi para o projeto.

O Circuito da Memória, que será inaugurado quando Salto completar 311 anos de fundação, ao referenciar personalidades e fatos que compõem a história e formação desta terra, materializa mais uma vez uma prática muito prezada por esta comunidade, que é a valorização da memória local.

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Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966