6 de novembro de 2008

Uma imagem, um casamento, um incêndio

Nas últimas décadas do século XVIII, o açúcar constituía a base econômica da região de Itu. Grande parte da população tinha suas atividades ligadas à produção e ao comércio desse produto. Nas ocasiões de grandes secas, que tantos prejuízos causavam com incêndios nos canaviais e demais lavouras, a imagem da Nossa Senhora do Monte Serrat era conduzida em procissão até a Igreja Matriz de Itu, onde ficava até que viessem as primeiras chuvas. Quando isso ocorria, a imagem era reconduzida à capela de onde havia saído, no povoado de Salto de Ytu.

Em fins do século XVIII, o padre ituano João Leite Ferraz, senhor muito rico e devotado a Nossa Senhora do Monte Serrat, encarregou-se de restaurar a capela original a ela dedicada, construída em 1698. Achava ele que a imagem primitiva que ali se encontrava era “pequena e sem estética”, e por isso desejava substituí-la por outra “majestosa e digna de admiração”.

Passava-se o ano de 1797 quanto o moço de nome Francisco de Paula Leite de Barros se apresentou ao padre solicitando sua intercessão, já que era seu desejo casar-se com Maria Joaquina de Campos, da qual o padre era tutor e amigo da família.

Por esse favor, o padre Ferraz achou que o pretendente deveria pagar-lhe em penitências, e para isso disse ao jovem que fosse até a beira do tanque do Sítio Grande, no bairro do Piraí, e de lá trouxesse um tronco de cedro “de muito boas águas”. Assim o jovem pretendente fez, entregando o tronco no largo da Matriz de Itu, após enormes esforços.

Não contente, o padre solicitou ao jovem que buscasse na vila de Parnaíba, atual cidade de Santana de Parnaíba, um santeiro de fama na época, o mulato cativo de nome Guilherme. Dias depois o jovem Paula Leite trouxe o santeiro para que esculpisse a imagem de Nossa Senhora do Monte Serrat. Daquele tronco sairiam ainda, pelas mãos do mesmo artista, duas outras imagens: São Miguel Arcanjo e Nossa Senhora do Rosário, ambas ainda hoje existentes na Matriz da Candelária, em Itu. Estas três imagens podem ser chamadas de “imagens irmãs”, já que foram esculpidas da mesma tora e pelo mesmo artista.

Mais de um século depois, na noite de 18 de janeiro de 1935, um curto-circuito na instalação elétrica da Igreja em reformas, na cidade de Salto, na parte que funcionou como Matriz provisória, provocou o incêndio que destruiu a imagem de Nossa Senhora do Monte Serrat entronizada em 1797. Naquela trágica noite, as chamas já tomavam conta do altar-mor quando populares tentaram salvar a imagem, sem contudo obter sucesso. Na manhã seguinte, após exame pericial da polícia, foi encontrado entre os escombros um pedaço de madeira carbonizada: era a cabeça da imagem incendiada.


Três imagens esculpidas pelo santeiro Guilherme: N.S. do Rosário, N.S. do Monte Serrat e São Miguel Arcanjo.

Nenhum comentário:

Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966