21 de novembro de 2007

Agenda 1944

“Agenda Siqueira para 1944 – a mais completa”. Eis o slogan presente no suporte escolhido por Luiz Castellari [1901-1948] para coligir – palavra hoje fora de moda – uma série de pequenas informações sobre o passado da cidade de Salto. O autor de História de Salto, livro publicado postumamente em 1971, no que suspeito ter sido um trabalho de não mais de 3 anos, reuniu e organizou, por dia de ocorrência, seguramente mais de mil acontecimentos de alguma forma relacionados à sua terra, e que ele julgou relevantes, representativos ou meramente curiosos.

Ao rechear de dados a referida agenda, estou seguro de que Luiz não tinha a pretensão de tecer, naquele momento, qualquer análise envolvente sobre o passado local. Queria mesmo era coletar o maior número de informações sobre sua Salto, com um critério não muito bem definido. Encontrou numa agenda comercial, num volume longilíneo, no qual ele procurou escrever com letra miúda, a forma mais adequada para se organizar. No papel amarelado que a envolvia, e dele só nos resta uma parte, ainda se lê manuscrito: “Efemérides da cidade de Salto coligidas por Luiz Castellari”. Nos papéis avulsos encontrados em meio às páginas, algumas pistas sobre a forma e os fins da coleta de dados, que devia ser não mais que um passatempo daquele saltense. Um compulsivo passatempo, talvez...

Temos a informação de que os dados compilados e o texto presente no livro História de Salto são de abril 1942. Apresentação, biografia e conclusão presentes na edição de 1971 atestam isso. Contudo, alguns dos papéis avulsos em meio ao volume – a parte mais instigante – trazem anotações do tipo “na História alterar a data de fundação [por Barros Júnior] do Clube 14 de Julho para 1889”. No conhecido livro de Castellari, página 76, se encontra a data de 1887 para a tal fundação. Na página correspondente da agenda, há rasura: um nove sobre um sete. Pode-se afirmar com segurança, portanto, que a peculiar agenda era ao menos parte de um trabalho de revisão de sua obra então já completa, mas não editada em vida.

Um dos pecados cometidos por Luiz é o de não citar a fonte dos dados que arrola. Pode-se inferir, em alguns casos, através da natureza da informação, o possível local de saída da mesma. Isso não diminui o valor de seu trabalho, de raro senso. O retorno aos arquivos, tão em voga na academia, parece ter sido sua principal diretriz. Cito a seguir, mantendo a forma, dois fragmentos da Agenda de 1944, sendo o primeiro proveniente de um papel avulso nele encontrado e o segundo de uma de suas páginas:

“Diário Popular de 16 Setembro 1889
A fábrica do Galvão iniciada em 1871
funcionou em 1875 com 126 teares, 180 operários
5 a 6000 metros de pano diário
do Barros [Júnior] 77 teares 120 operários 4 a 5000 m pano dia
Pereira Mendes e Cia. funcionou em 1886 97 teares 100 operários
fábrica papel 40 operários
total população operária de 4 fábricas em 1889 inclusive avulsos 470 operarios”

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“27 de julho
1829
A Câmara de Itu aprova a seguinte tabela de preços, sobre as passagens na Ponte do Salto ‘o pedrestre, o animal descarregado, a tropa carregada de 10 pª cima, e a tropa bravia, e boiada de 20 para cima pagassem dez rs. p. cada indivíduo; o cavaleiro, e o animal carregado 20 rs.; a tropa mansa de 10 para cima, sendo descarregada, 5rs. cada animal; que pagassem os carros 640 rs. e sem carga 200 rs., exigir que os carros fossem conduzidos só p. 4 bois, pagando-se a 40 rs. cada junta excedente; proibindo o trânsito das madeiras arrastadas para carretões podendo somente passarem levantadas pelo preço dos carros com carga, pagando os carretões descarregados 120 rs., é exigido chave no dito Portão da Ponte, e no qual se escreverá os preços, eleger-se um cobrador dando-se-lhe quartel, 320 rs. diários, e dois soldados milicianos com o soldo costumado no destacamento da Capital, e que suspenda a cobrança dos que passam por tábuas na parte incompleta’.”


Uma das páginas da Agenda 1944
Acervo do Museu da Cidade de Salto

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Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966