19 de fevereiro de 2009

No carnaval de 1970, um festival de música

A primeira edição do Festival de Música Popular de Salto – o FEMPS – foi considerada a novidade do carnaval de 1970 em nossa cidade. Organizado pelo casal Dr. Clineu de Mello Almada e D. Giselda, foram quarenta e oito as músicas inscritas, atraindo inclusive participantes de cidades vizinhas. A partir desse montante, realizou-se uma seleção preliminar a cargo de professores de música e de língua portuguesa. Mediante audição de todas as gravações que compunham o conjunto inicial saíram vinte finalistas. Essas, por sua vez, foram submetidas a um júri, cuja presidência coube a Odmar do Amaral Gurgel, o maestro Gaó [1909-1992].

Um caderno especial sobre o festival circulou junto à edição de 21 de fevereiro da Revista Taperá. Nele, as letras das vinte composições pré-selecionadas eram veiculadas. Dava-se, também, a notícia sobre a premiação. O primeiro colocado receberia, oferecido pela Sociedade Instrutiva Recreativa Ideal (SIRI), o “Troféu Zequinha Marques” – em referência ao músico saltense José Maria Marques de Oliveira [1890-1981]. Ainda, a verba de NCr$ 1.000,00 – repassada pela Prefeitura Municipal – seria utilizada pela comissão organizadora para premiação dos outros participantes. Os equipamentos utilizados no festival foram cedidos pela “firma Tranquilo Giannini, por intermédio de seu diretor comercial, Edmar Mesquita”, que forneceu “caixas de som, microfones e outros aparelhos”.

Na apresentação do dia 21, comandada por Terezinha Effori e Edmur Sala, “tudo funcionou perfeitamente, tanto no que tange à organização, quanto no que se refere à efetivação do espetáculo, propriamente dita”. Um pequeno atraso – nota pitoresca – ocorreu por conta de “um desarranjo mecânico no carro que transportava um dos membros do júri, vindo de Itapetininga”. O articulista da mencionada revista ressaltou ainda o respeito e o bom comportamento do público presente, “o que serviu para revelar que o povo saltense tem noção de que o papel da platéia é de saber receber com palmas, com silêncio ou com apupos uma ou outra canção, sem, porém, agredir ou desrespeitar os autores ou apresentadores”.

As músicas concorrentes levavam os seguintes títulos: Pedido; Muié veiaca; Prece ao sol; Canto; Giro ou circunvolução; Luaréu; Modinha; Abra a porta, Maria; A espera; Amor triste; Antifuga n.º 1; Balada para o soldado desconhecido; Samba tropical; Seca; Se você voltar; Serenata vazia; Terra querida, Salto; Sozinho; Rosa, poesia, poema; Consolo.

Nem o júri, nem o público sabiam quem eram os autores das músicas e letras interpretadas, pois os inscritos deveriam utilizar pseudônimos, sendo os nomes dos mesmos depositados à parte, em envelopes lacrados que seriam abertos naquela noite. O critério adotado no julgamento foi a atribuição de notas de 1 a 5 (associadas aos adjetivos ótima, boa, regular, má e péssima) nos seguintes quesitos: qualidade da música, originalidade da música, qualidade da letra, originalidade da letra, comunicação e interpretação. Assim, a classificação final se deu pela média das notas.

Dentre os saltenses participantes do festival, seja como autor de letra ou de música, figuram os nomes de Manoel Paiva, Maria Cristina Lobo, Archimedes Lammoglia, Salem Varella, Hilário Alfredo Gonzáles, Aparecido Rangel, Matilde Camargo, Egydio Miguel, Marcelo Culatre, Sérgio Carvalho e Waldomiro Tavernari – estes dois últimos autores de "Terra querida, Salto", cuja letra era:

Viver numa terra feliz
Dizer com orgulho e bem alto
Com o prazer de quem diz
Nasci nesta linda terra, Salto

A natureza é linda
Pra nós também foi gentil:
Sua alegria é infinda
Porque Salto é um rincão do Brasil

Terra de trabalho e beleza
Seu filho presta homenagem
Guardando em sua riqueza
Mantendo a sua paisagem

Ouvindo a sua cascata
Um hino de fé e de amor
Mantendo em sua riqueza
A bênção do Senhor


Na capa da edição de 28 de fevereiro da Revista Taperá figurava uma fotografia do autor da letra e composição vencedora ao lado dos interpretes da mesma. Tratava-se do saltense Manoel Paiva, premiado por "Giro ou circunvolução", e de Cristina Lobo, Matilde, Speroni, Terezinha, Victor, Zé e Sandra – intérpretes. Abaixo, segue a letra vencedora:

Gira que esta gente gira
Que esta gente gira a mão
Gira que o mundo gira
E vocês não mudam não

Gira a máquina do tempo
Que vocês precisam mudar
Gira que sonhando sempre
Tudo irá ficar

Pois a roda gira, gira
Pela avenida na central da vida...
(BIS)

Giramos todos, pois somos um giro
Quem gira na roda
Não pára não

Girem pela evolução
Pois é uma questão
De opinião

Girem pelo espaço afora
Pra mudar agora é uma questão de hora

Pois a roda gira, gira
Pela avenida na central da vida...
(BIS)

Girou no espaço sideral
O pião da vida na rosa da mão
Girou o filho gerado do giro espacial
O tiro girando não parou não

Girou o moinho
Girado pelo vento
Minha vida é um giro sem amor e paz

Girou o mundo sem um lamento
Que gire agora quem for capaz

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Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966