17 de janeiro de 2008

Relatório do prefeito

Tomar isoladamente um documento e, a partir dele, tecer comentários sem relacioná-los com outras fontes, pode parecer trabalho inocente. Contudo, a partir de um texto de síntese, como um relatório de final de ano, podemos relacionar outros temas que nos proporcionariam um razoável panorama de época. Paralelos, mesmo que anacrônicos, nos surgem à mente. O Relatório apresentado à Câmara Municipal pelo Prefeito Luiz Dias da Silva, para o “exercício de 1913”, é transcrito abaixo. Para veiculá-lo aqui, por considerá-lo sui generis entre os documentos do Museu de nossa cidade, optei pela manutenção da pontuação original, bem como das iniciais maiúsculas – que por vezes aparecem como ênfases – e minúsculas das palavras ou expressões abreviadas. Os ajustes foram tão somente de ortografia. Eis o que manuscreveu o então prefeito sobre sua administração de seu “torrão natal”:

Câmara Municipal de Salto de Itu

Exercício de 1913

Relatório apresentado à Câmara Municipal pelo Prefeito Luiz Dias da Silva.

Snrs. Vereadores:


Em obediência ao preceito legal, venho dar-vos conta no presente relatório do primeiro ano da minha administração.

Com verdadeira satisfação cumpro esse dever, pois, tenho convicção de ter correspondido nas medidas de minhas forças a distinção com que fui por vós honrado, escolhendo-me para desempenhar o cargo de prefeito municipal deste florescente município, em cujo exercício fui sempre por vós satisfatoriamente auxiliado.

O sentimento do dever e o desejo ardoroso de cooperar eficazmente para o desenvolvimento do meu torrão natal, foram os móveis de todos os meus atos, no desempenho da missão que me confiastes.

A leitura deste breve relatório vos patenteará o bom estado financeiro do município, a sua renda progressiva e a aplicação exata dos dinheiros do erário municipal.

Não obstante a escassez monetária com que lutamos atualmente, embora a necessidade de recursos extraordinários, de pequenas operações de crédito, para esta prefeitura poder, sem prejuízo de sua ação, enfrentar os grandes melhoramentos iniciados e concluídos na vigência de nossa administração, são lisonjeiras as condições das finanças do município.

O plano geral de obras adotado pela municipalidade para a rápida transformação da cidade, reclamaram medidas prontas e eficazes para não haver embaraços prejudiciais à economia municipal e, por isso, fui por vós autorizado a contrair empréstimos a curto prazo, enquanto não fossem emitidas todas as letras do empréstimo feito de acordo com a lei número quatro (4) de 25 de Abril de 1912.

Ainda que tenha havido dificuldades na arrecadação das rendas municipais, as letras da terra, aceitas por mim, tem sido resgatadas com a precisa regularidade.

Assim, pois, tendo como certo o devotado zelo desta Câmara pelos interesses que acham-se-lhes confiados, é para mim motivo de sincero prazer, embora não possa corresponder ao rigor desse zelo o modesto resultado dos meus esforços na administração municipal.

É assim que, sem pretender ter feito um administração extreme [sic] de defeitos e condigna do progresso deste futuroso município, tenho fé, entretanto, que conscienciosamente cumpri com o meu dever.


Melhoramentos


De acordo com o plano traçado pela municipalidade e autorização constante da lei número quatro (4), de 25 de Abril de 1912, foram iniciados pelos meus antecessores e concluídos na minha administração os serviços da construção do matadouro modelo e do hospital de isolamento, sob a competente direção do engenheiro civil dr. Arthur G. Krug.

Essas construções têm merecido a admiração e elogios de todos que as visitam; obedecem a todas as regras da engenharia sanitária, são confortáveis e sólidas, porém, sem luxo.
Pela discriminação abaixo, vereis o quantum com que elas foi dispendido.
[...]

O estado lastimável em que se achavam as ruas, praças e estradas públicas do município, exigiam, de pronto, urgentes e dispendiosos reparos.

Tais serviços foram confiados à direta administração desta prefeitura e foram feitos com a máxima economia possível.

Assim, foram comprados terrenos para a abertura de ruas bem como colocadas guias e necessário sarjetamento em seis quarteirões da cidade, cerca de 700 metros de extensão, apedregulhadas todas as ruas e praças e aterrado o logradouro público denominado Areião, que era um lugar pantanoso e insalubre, um verdadeiro foco de miasmas, servindo só para depósito de lixo, e que constituía, também, um contraste com a beleza natural da catadupa denominada “Salto de Itu”. Esse local depois de drenado foi ajardinado e é hoje passeio preferido dos saltenses e de todos que nos honram com suas visitas.

Foi esse um melhoramento valioso e que melhor tem elevado o conceito desta Câmara, na opinião pública.
[...]

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Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966