10 de janeiro de 2008

O livro de 1858

Quando faleceu o Monsenhor Mario Negro (1922-2006), que por tantos anos viveu em Salto, estive em visita técnica à casa paroquial da Matriz de Monte Serrat, na qual residia o icônico religioso, natural de Leme/SP. Em meio aos seus guardados, deparei-me com um livro sui generis, o qual foi integrado de imediato ao acervo do Museu da Cidade de Salto.

Com exceção das dez primeiras páginas, as demais do Livro de Lançamento dos Irmãos de Nossa Senhora do Monte Serrat, documento de 15 de agosto de 1859 [data em que foi selado], estão em branco. Dentre essa dezena, seis páginas e meia estão preenchidas por assinaturas dos ditos irmãos – gente reconhecidamente de Itu, em sua maioria.

A abertura do volume, bem como as rubricas em cada folha, são de Manoel Soares Ferraz Guimarães, então 3º suplente do juiz municipal de Itu. Um levantamento minucioso dos nomes arrolados – a começar por um trabalho de decifração das assinaturas – nos forneceria um fabuloso mapeamento de quem transitava nas terras hoje ocupadas por nossa cidade. Há alguns nomes ali registrados que facilmente se reconhecem, casos de José de Almeida Prado e José Tibiriçá Piratininga, ituanos de meados do século XIX, comumente mencionados em outras fontes sobre a história ituana.

Transcrevo abaixo a página de abertura do Livro. Atualizo apenas a ortografia, preservando a pontuação original. Trata-se de documento de importância mais social que religiosa, para a história local:
"Aos oito dias do mês de Setembro de mil oitocentos e cinquenta e oito nesta Povoação do Salto e Sacristia da Capela de Nossa Senhora do Monte Serrat do Salto onde se reuniram diversas pessoas com o intuito de erigir-se uma Irmandade intitulada – Restauradora do Culto e Capela da Virgem Nossa Senhora do Monte Serrat – e sendo assim foi proposto por aclamação para Presidente o Sr. Joaquim Leme de Oliveira Cézar e para Secretário o sr. Tenente Luciano Francisco de Lima que foram aprovados. Acordou-se nomear uma comissão de três membros para examinarem o compromisso oferecido e para darem seu parecer foram eleitos o Sr. Tristão de Abreu Rangel o Sr. Alferes Antonio José Pinto e Agostinho de Souza e Neves e ficou a cargo do Secretário e Presidente promover a assinatura dos sócios, e convocar os Irmãos seja aqui ou na cidade de Itu para a aprovação do compromisso e deliberação tendentes ao progresso da Irmandade, e para constar se lavrou a presente em que assina o Presidente e Secretário eleito comigo Secretário interino que o escrevi eu Agostinho de Souza Neves."
A Irmandade Restauradora tinha por intuito não somente reavivar o culto, como também restaurar a capela em si, que então se encontrava em estado de completo abandono e deterioração. Os irmãos, ao assinar tal livro, trocando em miúdos, comprometiam-se espiritual e materialmente com a iniciativa.

A seguir, reproduzo as páginas do Livro de Lançamento dos Irmãos de Nossa Senhora do Monte Serrat, de 1858.









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