23 de janeiro de 2009

A doação do Sítio Cachoeira

Segue, na grafia original, o documento do ano de 1700 que trata da doação do Sítio Cachoeira, núcleo de origem de Salto, por Antonio Vieira Tavares e sua mulher, Maria Leite. As medidas citadas no texto, as léguas de sesmaria, perfaziam 6600 metros lineares. Sendo assim, a área doada corresponderia a 2.178.000 metros quadrados, o mesmo que 90 alqueires paulistas. Do documento abaixo é interessante destacar que sua escrita ocorreu na própria casa de Tavares, cuja exata localização talvez permaneça para sempre desconhecida. É interessante também uma das condições da doação: a obrigação de se “mandar dizer uma missa ao mês pela alma dos doadores”, já que a doação só se consumaria com o falecimento de ambos, marido e mulher. Maria Leite faleceu em 1704 e Tavares – que se casou ainda uma segunda vez – em 1712.

Escriptura de doação a Capella de nossa Senhora do Monserrate

Saibão quantos este publico instrumento de doação entre marido e molher, Antonio Vieyra Tavares e Maria Leite, virem que no ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil esete centos annos, nesta Villa de Nossa Senhora da Candellaria de Itú-Guassú, Capitania de São Vicente, partes do Brazil, etc. n'esta dita Villa aos onze dias do mez de Dezembro do dito anno em posadas e moradas do dito Antonio Vieyra Tavares, onde eu publico Taballião eleito pelo Senado desta Villa, em falta, e impedimento do Capitão Francisco de Barros Freire fui chamado, e sendo lá me appareceram odito Antonio Vieira Tavares e bem assim sua molher Maria Leite, epor elles ambos juntos mefoi dito a mim tabalião abaixo assinado, que elles ambos juntos faziam a doação da Capella de Nossa Senhora do Monteserrate, sita no Sitio delles doadores, o dito sitio com todas terras que possuem por duas Escrituras de carta de data Sismaria e confirmação que começa na barra do Rio, e Jundiahy acima do Salto correndo Rio abaixo me ia legoa da testada, e de sertão húa legoa, donde acaba ameia legoa dahi para baixo quinhentos e cincoenta braças de testada de que tem escriptura, e de sertão athé sair aos campos tudo pertencente ao dito Sitio, e todo ogado que se achar por fallecimento de ambos, etodas as pessoas de gentios da terra, e escravos que se acharem, e as casas de moradas delles ditos escravos que se acharem, e as casa de moradas delles ditos doadores sitas nesta dita Villa, as que são de dous lanços com seus corredores, e quintal etudo o mais que se achar por fallecimento de ambos, excepto dinheiro, ouro, prata emais fardas,como cavallos, espingardas, roupa branca; para maior clareza ficam exceptuadas todas as esmollas, que cada hum dos ditos doador deixarem, e mandos que em testamentos codicillos mandarem. e toda esta dita doação disseram eles doadores que faziam por morte e fallecimento de ambos; e que enquantos a vida de hum, ede outro lograrião todos os usos e frutos da dita doação; eque por morte e fallecimento de hum lograria o outro que ficasse; e falecendo o derradeiro ficaria a dita doação a Capella de Nossa Senhora do Montserrat, e ficaria com poder de nomear administrador a dita Capella, os quaes admnistradores ficarão com obrigações de mandar dizer húa missa cada mez pela alma dos ditos doadores, e serão obrigados a fazer a festa do dia do orago da dita Capella, e tambem disserão elles doadores, que era vontade de ambos se conservasse a dita Capella para sempre no mesmo logar a paragem em que está sita, com todos os bens pertencentes a dita Capella, conforme o thêor da dita obrigação digo doação; e desta sorte disseram elles doadoresera sua vontade, q se nesta escriptura de doação faltassem algumas clauzulas, o solemnidades emdireito necessarios os havião aqui por postas ezpressas, e declaradas, como se de cada huma dellas sefisesse clara, edistinta menção; em fé e testemunho de verdade assim o mandarão lhe fizesse esta Escriptura de doação neste livro de notas; estanto presente por testemunhas Antonio Bicudo Leme, Cosme de Sylva Gil, João Pires, moradores desta Villa, pessoas de mim Tabaleião reconhecidas e mandarão dar os traslados necessarios e as ditas testemunhas assignarão com os ditos doadores; epela doadora Maria Leite não se saber assignar pedio a mim Taballião por ela assignasse.

Eu, Antonio Machado do Passo Tabalião por comissão a escrevi.”

“Declaro e certifico que o dito traslado de escriptura tirei bem e fielmente do traslado da escriptura de doação, que anda em papel avulso efica em poder do dito Administrador Braz Carvalho Paes; Em fé doque me assignoaqui: Ovigario Miguel Dias Ferreira: A pessoa, que por hora serve d'Administrador da dita Capella com obrigação de ornalla hé o dito Capitão Braz Carvalho Paes por nomeação de seu irmão Capitão Manoel Antunes de Carvalho auzente, oqual hé olegitimo ad'ministrador da dita Capella, por ser ofilho mais velho dos doadores e fundadores. Tem a obrigação de mandar dizer húa missa cada mez pela alma dos ditos doadores, efazer afestado dia do Orago da dita Capella.”


Assinatura de Antônio Vieira Tavares

(Fonte: 2º livro-tombo da Matriz de Itu. Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo. Arm. 2, Prat. 3, nº 24, folha 15v. "Escriptura de doação a Capella de nossa Senhora do Monserrate". Citado em: CASTELLARI, Luiz. História de Salto. Gráfica Taperá, 1971, pp. 26-28.)

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