Anselmo Duarte (1920-2009)

Anselmo Duarte em 1962, com a Palma de Ouro do Festival de Cannes.

Ator e diretor cinematográfico de grande fama, Anselmo Duarte nasceu em Salto, em 21 de abril de 1920, numa esquina da atual Rua Monsenhor Couto, em frente à Igreja Matriz de Nossa Senhora do Monte Serrat, onde seu pai tinha um comércio, conhecido por Venda da Capivara. De origem humilde, era o oitavo filho de Olympia Duarte, senhora que, abandonada pelo marido poucos meses após dar a luz ao caçula Anselmo, muito se esforçava no ofício de costureira para sustentar toda a família.


Anselmo Duarte em sua fotografia mais antiga: dezembro de 1920. 


Olympia Duarte, a mãe de Anselmo: atuação como costureira, em Salto.

Em Salto, Anselmo estudou no Primeiro Grupo Escolar, hoje Escola Estadual Tancredo do Amaral, na mesma classe de Archimedes Lammoglia e Jota Silvestre. Ainda criança, trabalhou como engraxate, aprendiz de barbeiro e molhador de tela no antigo Cine Pavilhão, onde seu irmão Alfredo era projecionista.


A turma de Anselmo Duarte em 1933: o futuro cineasta é o segundo, da esquerda para a direita, na fileira mais ao alto.


O jovem Anselmo na adolescência, em recorte de jornal que abordava sua trajetória desde a infância.
Cine Pavilhão: o espaço saltense no qual Anselmo viu seus primeiros filmes.

Em sua cidade natal, Anselmo viveu até os 14 anos, quando foi para São Paulo, onde trabalhou como datilógrafo, contabilista e dançarino. Mudou-se para o Rio de Janeiro, e lá atuou como figurante em filmes e redator e repórter de uma revista.

Seu primeiro trabalho como ator foi no filme inacabado do diretor norte-americano Orson Welles, It's all true, em 1942. Maior galã do cinema brasileiro nos anos 1940 e 1950, participou de produções dos estúdios Cinédia, Atlântida e Vera Cruz. Estreou como ator principal no filme Querida Suzana, de 1946, e seu primeiro trabalho como diretor, coroado de muito sucesso, foi em Absolutamente Certo, de 1957.


Recorte de jornal que abordava a trajetória inicial na vida artística: primeiros tempos de muitas dificuldades.

De suas atuações como ator na Cinédia, destaca-se Pinguinho de Gente, de 1949. Na Atlântida, Anselmo Duarte atuou, dentre outros, em Carnaval no Fogo e Aviso aos Navegantes, ambos do diretor Watson Macedo.


Anselmo Duarte aos 26 anos.
Tens feito alguns filmes, Anselmo era figura recorrente nas revistas de circulação nacional, a partir dos anos 1950.

Uma das mais destacadas atuações de Anselmo foi em Sinhá Moça, do diretor Tom Payne, que ganhou o Prêmio Especial do Júri, em Veneza. No papel do compositor Zequinha de Abreu, em Tico-Tico no Fubá, também foi muito elogiado pela crítica. São essas produções da Vera Cruz que fizeram crescer a imagem de Anselmo como galã do cinema nacional.






O ápice de sua carreira deu-se em 1962, quando dirigiu O Pagador de Promessas – único filme brasileiro a receber o maior prêmio mundial do cinema, a Palma de Ouro no Festival de Cannes. O então jovem diretor venceu concorrentes que pertencem à história cinematográfica mundial, como Luis Buñuel, Michelangelo Antonioni e Robert Bresson.


Anselmo e parte do elenco em Cannes, 1962.

Recebendo o diploma e o troféu.




Cartaz do filme "O Pagador de Promessas" (1962).

Com parte da equipe de "O Pagador de Promessas".

Com a premiação, Anselmo Duarte ganhou uma série de desafetos, principalmente entre os jovens diretores do Cinema Novo. A carreira de Anselmo Duarte como diretor seguiu até o final da década de 1970. Outros de seus filmes ainda esperam uma reavaliação, tais como Vereda da Salvação, Quelé do Pajeú, Um Certo Capitão Rodrigo e O Crime do Zé Bigorna.





É, portanto, impossível pensar o cinema brasileiro omitindo a contribuição do ator e diretor saltense Anselmo Duarte. Sua carreira confunde-se com a própria história da arte cinematográfica nacional. Somando-se suas atuações como ator e diretor, são mais de quarenta filmes. Seu trabalho ao longo várias décadas, reconhecido internacionalmente, permite afirmarmos se tratar de um dos mais ilustres filhos da cidade de Salto.


Recepção em Salto após sua conquista em Cannes.


Inauguração em clube saltense nos anos 1960.

Filmagens em Salto nos anos 1970.

Foto tirada em Salto em 1990.

Em 31 de julho de 2009, na inauguração do Centro de Educação e Cultura (CEC),  que agora leva seu nome, Anselmo foi homenageado pela administração pública de sua cidade natal. Nessa ocasião Anselmo leu seu último discurso público A sala de espetáculos desse Centro, a Sala Palma de Ouro, é uma alusão ao prêmio mais importante recebido pelo cineasta. Falecido em 7 de novembro de 2009, foi sepultado em Salto, no Cemitério da Saudade. Como era seu desejo, expresso muito antes de falecer, em seu túmulo foi gravada a seguinte frase: "Eis aqui a última história de um contador de histórias".


Em 2009, no dia da inauguração do espaço cultural que leva seu nome, em Salto. Foto: W. Prata.

Veja também:

Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966