27 de janeiro de 2016

Movimento grevista e a colônia espanhola

A história tradicional contada em Salto normalmente exalta as indústrias pioneiras, descrevendo um mundo perfeito no qual haveria plena harmonia, esquecendo-se dos enfrentamentos que existiam entre patrões e empregados. Naturalizou-se um discurso da "mãe Brasital", mesmo sendo evidente que esta não acolhia e agradava a todos os seus "filhos", especialmente os que não eram de origem italiana.

O historiador Ettore Liberalesso, em entrevista concedida em 2010 para o documentário "O homem e a cidade", declarou: "A Brasital fazia discriminação... Ela deu para Salto muito, muito, muito. Mas havia sempre alguma discriminação." Vale citar que a Brasital S/A chegou a Salto em fins de 1919, assumindo as indústrias que se formaram às margens do rio Tietê desde 1875.

Indícios da discriminação estão em alguns jornais da época, basta investigar com um olhar mais atento. Reproduzo parte de uma matéria de um jornal destinado à colônia espanhola publicado na cidade de São Paulo. Embora não aborde o enfrentamento direto entre patrões e empregados, vê-se a autoridade policial atuar com energia para evitar qualquer problema futuro aos industriais.

Reproduzo no original e traduzo livremente, a seguir, o fragmento de "Las huelgas y sus causas" [As greves e suas causas], Diario Español, 29/03/1920.

Acesse o original clicando aqui

"No caso de Salto de Ytu é uma nova manifestação de que a violência gera a violência.
Naquela povoação, reuniram-se na última quinta-feira os tecelões para determinar se iriam solidarizar-se com a atitude dos tecelões de S. Paulo e com os ferroviários do Rio de Janeiro.
Apareceu o delegado de política, Dr. Juan [João] Rodrigues de Salles Junior, e lhes intimou a se dispersarem.
Responderam-lhe os operários dizendo que não patricavam nenhuma desordem, nem cometiam nenhum delito, posto que somente tratavam de assuntos de próprio interesse, em atitude corretíssima.
Irritou-se o policial, sacou seu revólver e disparou várias vezes contra os operários, ferindo gravemente a Joaquín Moreno, e levemente a Antonio de Oliveira Bueno.
Então Juan Moreno, vendo o crime cometido contra seu irmão e a falta de razão para proceder de modo tão arbitrário, disparou um tiro contra o delegado, ferindo-o gravemente."

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Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966