13 de fevereiro de 2009

Alfredo Rosa

Na tarde de 27 de julho de 1911, uma quinta-feira, ocorreu em Salto um episódio que transformaria um simples matuto – como muitos o definiram – em uma figura venerada por muitos saltenses da primeira metade do século XX, que o tinham por milagreiro. Embora não se tenha segurança sobre sua verdadeira identidade, a memória popular acabou por nomear Alfredo Rosa o sujeito que fora assassinado em Salto na data mencionada.


A única foto de Alfredo Rosa existente, tirada quando já estava morto.

A então Salto de Ytu contava com não mais de cinco mil habitantes, muitos deles vivendo na zona rural. Assim, era comum que muitos sitiantes viessem para cá, normalmente aos sábados, para realizar suas compras nos vários armazéns de secos e molhados que existiam na região que hoje chamamos de centro velho. Um deles, o de Marcos Milani, situava-se no Largo da Matriz, na esquina em que se instalou a Creche da Brasital em 1948. O espaço era zona de trânsito dos muitos trabalhadores da Società Italo-Americana, que desde 1904 era a proprietária do complexo têxtil instalado à margem direita do rio Tietê.

Naqueles meses de 1911 a cidade vivia atemorizada, em alerta diante dos freqüentes furtos de animais que vinham ocorrendo. Há certo tempo, o sujeito a quem chamaram Alfredo Rosa – que supostamente vivia em algum sítio na divisa entre Salto e Elias Fausto, para além do Buru – não era visto por aqui. Embora fosse figura já conhecida por alguns saltenses que o viam regularmente fazendo pequenas compras e tomando sua cachaça, naquela quinta-feira ele pareceu, para muitos, suspeito: estivera durante certo tempo parado ao lado do armazém-pensão de Marco Milani. E isso, possivelmente, foi um indício para que os trabalhadores que saíam da Italo-Americana e outros moradores das imediações passassem a observá-lo.

Enquanto subia em seu cavalo, e notando ser vítima dos olhares desconfiados de várias pessoas, Alfredo Rosa, assustado, largou tudo e se pôs a correr. Foi o que bastou para que os homens que o observavam, muitos deles operários, saíssem no seu encalço aos gritos de “pega-ladrão!”. Dava-se, naquele instante, a associação entre os recentes furtos de animais e a figura de Alfredo Rosa.

A perseguição ocorreu por cerca de dois quilômetros em direção ao Cemitério Velho – atual Praça XV – e descendo rumo ao córrego do Ajudante, onde havia uma ponte. Se conseguisse atravessá-la, provavelmente Alfredo Rosa não seria alcançado, pois se embrenharia no meio do mato. Diante da iminência de ver o sujeito que tinham por ladrão fugir, os perseguidores de Alfredo Rosa começaram a disparar tiros. Assustado, o matuto parou diante de todos e se disse inocente. Contudo, não houve perdão e o pobre matuto foi morto a tiros. Algumas fontes mencionam que houve linchamento. Em seguida, alguns populares arrastaram o corpo pelas ruas de Salto, desde o local do assassinato até a casa que funcionava como delegacia e cadeia, na então Rua de Campinas, atual 9 de Julho.

Tempos depois, restabelecida a calma, foram descobertos os verdadeiros ladrões de cavalos. Então a cidade viu que trucidara um inocente. Talvez numa tentativa inconsciente de compensar o erro, muitos saltenses passaram a venerar a memória de Alfredo Rosa. Inclusive uma capela foi erigida no local de sua morte (foto abaixo) – construção que existiu até 1973, na antiga chácara Vendramini, precisamente onde hoje funciona a APAE. Já os restos mortais de Alfredo Rosa constituem um capítulo à parte, pois foram transferidos de local três ou quadro vezes num período de menos de 70 anos, estando hoje na perpétua 3038 do Cemitério da Saudade.

A capela de Alfredo Rosa na chácara Vendramini.

Um comentário:

Cláudia, Silvano e Luan disse...

Nossa... que história chocante!!! Vou falar com meu pai... meu avô deve ter contado à ele....

Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966