4 de setembro de 2008

A Festa do Salto no final do século XIX

Por volta de 1880, a povoação do Salto contava com não mais de 1500 habitantes. Todos os anos, no final do século XIX, normalmente entre os dias 7 e 10 de setembro, os trens da Estrada de Ferro Ytuana trabalhavam com horários e preços especiais: tudo motivado pelas Festas do Salto. Nessas ocasiões, a povoação se enchia de gente vinda de toda a região. Além das atividades religiosas, esse era o momento do ano para a prática de uma série de brincadeiras e divertimentos: mastro cocagne, corridas em sacos, tug-of-war, cabra-cega e boizinho bahiano. Era essa a parte profana da Festa. Não faltavam também as touradas, para as quais se cobravam entradas de um mil-réis. As ruas e casas da povoação eram enfeitadas nessas ocasiões festivas. À noite, grandes fogueiras eram acesas. Gente de todas as classes e de diversos lugares se aglomerava nas ruas de terra batida. A localidade se tornava colorida e ruidosa. Nas barracas montadas pelos “beduínos da roleta” a jogatina tinha lugar. O encerramento da festa, no dia 10, era marcado com os fogos de artifício tradicionalmente preparados pelo Joaquim Corneta, pirotécnico local.

Veja abaixo o que noticiava o jornal Imprensa Ytuana sobre a Festa, em 27.08.1882. Manteve-se, na transcrição, a grafia e a pontuação originais:

"EXPLENDIDAS FESTAS DO SALTO

Desde o dia 7 de Setembro começarão as festas que serão feitas com toda a pompa, terminando no dia 10 com um lindo e variado fogo de arteficio do muito conhecido e apreciado artista pyrotechinico, o nosso Joaquim Corneta. Para intelligencia dos devotos, abaixo damos o programa das festas.

Dia 7. Alem das demais festas costumadas na véspera haverá um trem de recreio que partirá de Ytu com uma banda de muzica as 5 horas da tarde conforme esta annunciado, e a noite haverá retreita e ladainha.
Dia 8. Missa cantada, sermão e procissão a tarde.
Dia 9. Este é o dia dos divertimentos para a rapaziada temos o Mastro Cocagne, corridas em saccos, jogo da cabra cega e o novo divertimento Tug of War da corda, cada um destes jogos dar-se-ha um premio ao vencedor.
Dia 10. Alem dos muitos divertimentos reservados especialmente para este dia, a noite queimar-se-ha os fogos que por si só tornão-se recomendaveis - visto serem caprichosamente feitos para esta festa.

Durante estes dias haverão trens especiaes - para conduzir a Rapaziada e a Estrada de ferro desta vez faz uma redução no preço da passagem, dando bilhetes de primeira classe de ida e volta por 3 patacas e dois vinténs. Chega Rapaziada o gammado la estará."

Segundo o historiador saltense Luiz Castellari (1901-1948), durante as Festas do Salto no final do século XIX, as ruas eram especialmente capinadas e enfeitadas com arcos de bambus e palmas. Ainda, bandeirinhas multicores eram colocadas em ziguezague pelas ruas, lanternas venezianas eram penduradas nos portais e fogueiras enormes iluminavam a povoação nos dias festivos.

José Maria Marques de Oliveira (1890-1981), em depoimento gravado em 1979, sobre as Festas do Salto diz: “No [meu] tempo de criança formava festa dia 8 de setembro em louvor a Nossa Senhora do Monte Serrat e tinha muitas irmandades [que] faziam procissão no dia 8, Dia da Padroeira, até hoje. E as barracas eram feitas de pau-a-pique, de pita, de cambuí... onde vendiam pastéis, quentão, coisas de noite de São João usavam na Festa de Setembro. Cuscuz etc. Doce de batata, de abóbora e... coisas mais e a Festa... [ocorria na praça] Paula Souza... ali eram feitas as festas profanas. [Tinha ainda] um cavalinho de pau que vinha de Tietê, de um homem; dois senhores tocavam realejo...”


A corrida de sacos em desenho do artista saltense Rodrigo Schiavon.

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Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966