O texto que segue é a transcrição de um fragmento da série de textos (sob o título "A origem da Brasital S/A e seu desenvolvimento") escritos por João M. Bombana no periódico saltense O Trabalhador, entre 06.11.1976 e 15.01.1977. Foram mantidas as iniciais maiúsculas originais e os grifos do autor.
No então Salto de Ytu, existiam duas fábricas: uma de fiação de algodão, inaugurada em 1876, precisamente há um século, de propriedade do sr. José Galvão de França Pacheco Júnior, e uma tecelagem, de propriedade do dr. Francisco Fernando de Barros Júnior, esta última inaugurada em 1882. Cada uma dessas duas fábricas possuía a sua Usina Elétrica, denominadas Júpiter e Fortuna, respectivamente. Para isso, aproveitavam as águas da Cachoeira do rio Tietê, que tinha uma vazão em potencial fabulosa. As duas fábricas acima referidas foram adquiridas pelo dr. José Weissohn, que juntou-as numa só. Da gestão do dr. José Weissohn sabe-se que foi muito profícua e ele muito generoso e humano. Basta dizer que ao passar a propriedade para a Empresa sucessora, deixou convencionado que a carne bovina, que era vendida aos seus operários no açougue por ele montado, não poderia ser vendida por mais de $500 (quinhentos réis) o quilo. Além disso, deixou também estipulado que a sua cozinheira, d. Lúcia, enquanto vivesse, deveria receber seus vencimentos, além do direito de residir na casa onde morava, a qual estava localizada ao lado do chalet da Diretoria.
No então Salto de Ytu, existiam duas fábricas: uma de fiação de algodão, inaugurada em 1876, precisamente há um século, de propriedade do sr. José Galvão de França Pacheco Júnior, e uma tecelagem, de propriedade do dr. Francisco Fernando de Barros Júnior, esta última inaugurada em 1882. Cada uma dessas duas fábricas possuía a sua Usina Elétrica, denominadas Júpiter e Fortuna, respectivamente. Para isso, aproveitavam as águas da Cachoeira do rio Tietê, que tinha uma vazão em potencial fabulosa. As duas fábricas acima referidas foram adquiridas pelo dr. José Weissohn, que juntou-as numa só. Da gestão do dr. José Weissohn sabe-se que foi muito profícua e ele muito generoso e humano. Basta dizer que ao passar a propriedade para a Empresa sucessora, deixou convencionado que a carne bovina, que era vendida aos seus operários no açougue por ele montado, não poderia ser vendida por mais de $500 (quinhentos réis) o quilo. Além disso, deixou também estipulado que a sua cozinheira, d. Lúcia, enquanto vivesse, deveria receber seus vencimentos, além do direito de residir na casa onde morava, a qual estava localizada ao lado do chalet da Diretoria.
A empresa sucessora, ou seja a Società Italo-Americana, cujo emblema apresentava S.I.A., estava localizada na Itália, em Milão, também possuía fábricas na Argentina e no Chile, com a denominação de Vedetta. Como primeiro Presidente da SIA fora nomeado o sr. Ermano Mosterts. Conselheiro delegado o sr. Carlos Castiglioni e Conselheiros o dr. José Weissohn e outros. O primeiro procurador foi o sr. Cav. Giuseppe Revel e Gerente o sr. David Picchetti, que mais tarde foi substituído pelo sr. Celli e este pelo sr. Ciriani, vindos da Itália, devidamente contratados e como Diretor Técnico veio o sr. Seminatti. Tanto o sr. Celli como o sr. Picchetti eram apaixonados pela equitação, tanto é que possuíam belíssimos cavalos para montaria. A Mestrança era composta de elementos vindos da Itália, também contratados. Assim vieram os srs. Beltramo (pai, filho e filha), Goffi, Gronda, Biffi, MOndone, Paglia, Boggio, Conterno, Aliata, Stussi, Vasco, Visetti, Gardini, Chilento, Girelli, Bianchi, Eng. Preti, Cassani, Primazzi, Rafaele Bianco e outros.
Em 1890 foi instalada em São Roque , pelo industrial Eng. Enrico Dall’Acqua, uma Tecelagem, a qual mais tarde também foi adquirida pela Società Italo-Americana, cujos Diretores Técnicos também vieram da Itália, a saber: srs. Vistarini, Suigo e Ale e os Mestres, srs. Cereda e Colombo. Assim, o patrimônio da S.I.A. era constituído do Cotonifício em Salto e da Tecelagem em São Roque. A fábrica de São Roque possuía a Usina Elétrica, que era gerada [sic] nos tanques denominados Vedetta e Enrico Dell’Acqua, que eram suficientes para movimentar os teares e demais máquinas auxiliares. Na Tecelagem de São Roque existem os famosos teares Grossemnhainer, para a fabricação de Colchas Isabel, as quais eram tecidas com tramas próprias produzidas nos sel facigs (miulas – em Salto, exclusivamente para esse artigo). Possuía também os teares Jacquada, de onde saíam os famosos atoalhados e guardanapos. Para estes, como para as colchas, não havia produção que chegasse para o atendimento da freguesia que era selecionada. Existiam teares onde eram fabricadas as faixasCapo Sala para o Mestre de Tecelagem, Maestrinas para as Inspetoras, Espularinas para as Boninadeiras e Ortidoi para as Urdideiras e outros mais. para crianças recém-nascidas. Interessante, que nessa fábrica foram introduzidos os princípios italianos daquela época, até há pouco tempo ainda ouviam-se termos daquele país, como Capo Sala para o Mestre de Tecelagem, Maestrinas para as Inspetoras, Espularinas para as Boninadeiras e Ortidoi para as Urdideiras e outros mais.
O vapor era produzido por caldeiras a lenha, a qual era retirada das matas adquiridas para essa finalidade e transportada por carroças puxadas por muares selecionados, pois os locais onde retiravam a lenha eram montanhosos e de difícil acesso. A matéria-prima (fios de algodão) para o abastecimento da Tecelagem, era remetida pela fábrica de Salto, através da Estrada de Ferro Ituana, hoje Fepasa. Pela Società Italo-Americana foi adquirida a Fábrica de Papel, que foi inaugurada em 19.9.1889, pelo Engenheiro Antonio Melchert. A razão social Merlchert & Cia. E a fábrica é a mais antiga do Brasil, conforme consta dos anais. Quando ela foi inaugurada, estiveram presentes, dentre outros, os srs. Otaviano Pereira Mendes, Padre Miguel Corrêa Pacheco, Francisco Glicério, Bento Quirino dos Santos, Bernardino de Campos, Marquês de Três Rios, Barão de Tatuhy, Barão de Araraquara, dr. Ignácio de Mesquita, Coronel Rodovalho, Coronel Anhaia, Carlos Paes de Barros, Ramos de Azevedo, Alfredo Maia, José Vicente de Azevedo, José Pereira de Queiroz, Correa Dias, dr. Charles Bally, Alfredo Faria, representando a Gazeta e o Diário de Campinas, João Batista Jordão, Fontes Júnior, Tancredo do Amara e o representante da Liga Ituana, dr. José Maria Lisboa.
A fábrica, que ainda está situada na margem esquerda do rio Tietê, contava com energia própria e para isso utilizava a água que era conduzida pelo canal, cujo nível do ponto inicial até o terminal era de 55 pés , produzindo 800 HP; os canos para a turbina tinham 15 m de diâmetro e 76,5 m de extensão. No início da gestão da Italo-Americana, na Fábrica de Papel, esta foi convencionada com diversos empregadores, sendo o último o sr. Nicolino Matarazzo. Terminado o prazo convencionado e como não entregaram a Fábrica, foi preciso embargar seu funcionamento e em seguida dinamitar o canal d’água que abastecia a turbina geradora de energia elétrica. Só assim deixou de funcionar e foi entregue a S.I.A.
Com mais essa aquisição, tornou-se a Società Italo-Americana proprietária de 3 fábricas, Cotonifício Salto, Fábrica de Papel de Salto e Fábrica de Tecidos de S. Roque. Por razões de medrança, a empresa passou para a razão social de Società per L’Importazione e Exportazione Italo-Americana, deixando de ser SIA, mas continuando com as fábricas na Argentina e no Chile. Na ocasião da Guerra Européia, diversos mestres que eram italianos, deixaram a empresa e partiram para a Guerra, na qualidade de reservistas do Exército Italiano e não mais voltaram.
Com a transformação da Guerra Européia em Mundial (a primeira), havia pouca possibilidade de virem técnicos estrangeiros para o Brasil, nessa ocasião foi constituída a Brasital S/A, resultante da fusão das Empresas Società per L’Importazione e Exportazione Italo-Americana e Belli & Cia., sendo esta consorciada daquela.
Com o advento da Brasital S/A, isto em 01/11/1919, funcionou como advogado o Dr. Adolpho Nardy Filho, contratado para elaborar os Estatutos Sociais da mesma.
Uma vez tudo legalizado, começaram as reformas, ampliações e expansões das três Fábricas.
A nova Razão Social, constituída de Capital Nacional, passou também a aproveitar a Prata da Casa, contratando pessoal aqui no Brasil.
Para Procurador Geral da Brasital S/A foi nomeado o Sr. Cav. Caldirola e em virtude do mesmo não ter tomado posse do cargo foi nomeado para esse cargo o Sr. Bruto Belli.
A primeira Diretoria da Brasital S/A foi eleita em 1/11/1919, sendo composta dos seguintes senhores: Presidente Cav. Rag. Guido Sacchi, Vice-Pres. Conde Com. Alessandro Seciliano; Membros do Conselho, Cav. Reg. Guido Sacchi, Com. Arrido Stoffel, Bruto Belli; Diretor Geral: Bruno Belli. Membros efetivos do Conselho Fiscal: Dr. Cav. Antonio Rossi, Cav. Humberto Lambrosso e Dr. Arthur Krug. Suplentes do Conselho Fiscal: Ricardo Arrigoni, Giovanni Ballarini e Lyder Sandal.
O Capital Social era formado entre acionistas brasileiros e italianos. O resultado do primeiro exercício apresentado pela Brasital S/A, referente ao período de 1/11/1919 a 31/10/1920, foi o seguinte:
[...]
Com a sede em São Paulo , Filiais em Santos, Rio de Janeiro, Osasco, Salto e São Roque, a Brasital S/A desenvolvia-se em todos os seus setores.
A Fábrica de Papel foi reformada completamente, tanto os prédios como as máquinas, principalmente a contínua nº 1 (a mais antiga do Brasil) e quando concluída a reforma, posta em serviço, produzia cerca de 100.000 quilos de papéis por mês.
Nenhum comentário:
Postar um comentário