28 de julho de 2021

Memória dos antigos professores

Compartilho texto e fotos que postei há 5 anos, os quais trazem memórias pessoais agradecidas. Na iminência do retorno às aulas, na próxima semana, somos chamados à reflexão sobre a importância da escola em nossas vidas. A pandemia forçosamente aguçou essa percepção. Que possamos recuperar parte do que, contra a vontade de todos, foi prejudicado neste tempo ainda muito desafiador. E um VIVA a todos os nossos educadores, de ontem e de hoje!

Docentes e outros colaboradores do Externato Sagrada Família no início dos anos 1990.

Talvez seja por eu ter me tornado professor... O fato é que tenho uma memória muito viva de quase todos os professores que passaram por minha vida de estudante, em especial os do ensino infantil, fundamental e médio. Das minhas primeiras mestras, Anna Cristina Ambrózio e Rosana Merlin, guardo memória aguçada e reelaborada no presente por gravações em VHS de quase três décadas atrás, que documentaram de modo muito sensível a trajetória escolar dos anos de 1987 e 1988. Nessas imagens, vê-se a luz da juventude e do empenho de profissionais com as quais ainda hoje tenho contato pela internet, com carreiras consolidadas.

Como não lembrar das professoras Liliane Imperatto e Rosana Canzano, tão intimamente ligadas à consolidação de minha alfabetização e primeiras incursões no universo das letras? Mudando de área, tenho comigo que os alicerces para a Matemática foram garantidos pela professora Idalci, com que tive aulas na antiga 4ª série. Lembro-me que ela residia no final da mesma avenida do colégio. Creio que se aposentou logo após ministrar aulas para nossa turma, pois nunca mais a reencontrei.

No percurso escolar, o ingresso na 5ª série, marcando o início do que hoje se chama Fundamental II, representou o contato com um leque vasto de docentes igualmente memoráveis: Enedino de Moraes, de Ciências; Fernando, de Marcenaria e Artes; Marly Fabbri, de Língua Portuguesa; Valéria Malimpensa e Jacinta, de Inglês; Henrique Orlandini e Gláucia Ruy, de Geografia; Mary Leme do Prado, de Matemática; Irmã Rosa (in memorian), de Ensino Religioso; César Vecina, de Educação Física... No Ensino Médio, alguns continuaram conosco e outros se inseriram e nos brindaram com seu trabalho dedicado e, por isso mesmo, memorável. Faço questão de lembrar de Jeferson Santos, de Química; e de Carlos Cabiró, de Espanhol. Ambos se tornaram amigos bem próximos quando eu já havia ingressado na universidade. Em nome deles, agradeço a todos que fizeram parte de minha vida de estudante. Todos, ao seu modo, seguem me inspirando.

Ao citar alguns nomes, corro o risco de esquecer gente muito importante em minha trajetória escolar e, de antemão, peço desculpas. Mas não fazer memória seria um erro maior ainda! A vocês, neste 15 de outubro, meu muito obrigado recheado de saudade, alegria e desejo de revê-los e abraçá-los, assim que possível.

Prof. Elton Frias Zanoni
Texto publicado originalmente em 14/10/2016. 

15 de junho de 2021

Por que 16 de junho?

Salto comemora mais um aniversário de fundação nesta quarta-feira. Trata-se do seu 323º aniversário. Data simbólica, guarda suas razões históricas que merecem ser conhecidas por todos seus munícipes.


TAVARES E A FUNDAÇÃO DE SALTO

Considera-se como a data da fundação de Salto o dia da bênção da capela dedicada a Nossa Senhora do Monte Serrat, ocorrida em 16 de junho de 1698. E o fundador, o capitão Antonio Vieira Tavares - então proprietário do sítio Cachoeira, cujas terras correspondem hoje a parte da cidade de Salto. Antes de falecer, Tavares fez a doação do sítio Cachoeira à capela por ele construída. E na escritura de doação, datada de 1700, fez constar que era vontade dele e de sua mulher, Maria Leite, que a capela permanecesse para sempre naquele local, onde hoje está a Igreja Matriz. À época, quem observasse o horizonte a partir daquele ponto teria vista privilegiada para a cachoeira.

O trabalho de recuperação da memória do fundador de Salto coube a Luiz Castellari [1901-1948], autodidata, autor de "História de Salto", que empreendeu competente pesquisa, decifrando manuscritos do final do século XVII e início do século XVIII. Antes disso, pouco se sabia sobre a ocupação pioneira das terras à direita do Ytu Guaçu, como diziam os índios.

Nascido em meados do século XVII, Tavares vivia no sítio Cachoeira desde aproximadamente 1690, com sua mulher, alguns familiares e escravos. A propriedade fora obtida por duas escrituras de datas de cartas de sesmarias – uma forma existente, no Brasil colonial, para se tornar proprietário de terras. Para assistir missa aos domingos, na vila de Itu, Tavares e seus familiares tinham que atravessar o rio Tietê – e não há registro da existência de uma ponte ligando as duas margens nessa época. Além disso, nosso fundador alegava sofrer de grande moléstia – o que dificultava ainda mais seu deslocamento.

Com base nesses argumentos, somados à sua devoção religiosa, solicitou formalmente às autoridades católicas que o autorizassem a construir em seu sítio uma capela dedicada à Senhora do Monte Serrat. Para tanto, pediu autorização também para usar os bens móveis de uma capela fundada por seu pai, Diogo da Costa Tavares, localizada em Cotia, hoje cidade da Grande São Paulo. A licença para construir a capela no sítio Cachoeira foi concedida em fins de 1696 e, em 16 de junho de 1698, o padre Felipe de Campos a benzeu.

Passados dois anos e meio da bênção da capela, Tavares e sua mulher, Maria Leite, firmaram uma escritura de doação do sítio Cachoeira à capela de Nossa Senhora do Monte Serrat recém fundada, mas impunham algumas condições. Além da já mencionada localização da capela, que não poderia ser alterarada, especificaram que a doação só seria consumada por falecimento de ambos, marido e mulher. Doariam ainda as peças de gentio da terra – como eram chamados os escravos índios – e demais escravos de origem africana. A casa na qual residiam também estaria entre os bens doados, excetuando-se apenas dinheiro, ouro, prata, cavalos, armas e roupa branca. E é sobre a localização dessa casa que paira um grande mistério. Em que ponto do sítio Cachoeira ela estaria localizada? Possivelmente próxima de onde se construiu a capela, embora não exista hoje nenhum vestígio material nem documento escrito que nos dê qualquer indicação.

Maria Leite faleceu em 1704, não tendo nenhum filho com Tavares, que cerca de um ano depois do falecimento dessa primeira esposa se casaria novamente. A segunda esposa, Josepha de Almeida, lhe deu cinco filhos – dois dos quais se tornaram religiosos. Tavares faleceu em 4 de dezembro de 1712, sendo sepultado na capela-mor da Igreja dos Franciscanos, em Itu. Seus restos mortais foram transferidos para Salto em 1981, estando hoje depositados na capela do Monumento à Padroeira.



Transcrição da imagem:

"Título da Erecção e Instituição da Capella de Nossa Senhora do Monserrate Sita no termo desta Villa no Sitio chamado Salto, e Cachueyra.

Traslado da Provisão da Erecção

Muito Reverendo Senhor Doutor Vizitador Geral. Dis Antonio Vieyra Tavary morador em a Villa de Itu, que elle Suppte. tem o Sitio de Sua habitação na paragem chamada Cachueyra, o qual fica dystante da villa hua legua, e tem hua passagem de Rio, com que Sua família não pode acudir a villa para ouvir Missa aos Domingos, e dias Santos, e elle Suppte. o faz com grande modéstia; e por estas razoens, com tão bem por sua devoção quer erigir no dito Seu Sitio hua Igreja com seu Adão. Com a invocação de Nossa Senhora do Monserrate, para cuja família aplicar os bens moveis da Capella da (Acutia), que por ordem delle. Se lhe entregarão por Ser elle o Suppte. Sucessor legítimo do Fundador. Pello que pode [...] lhe faça mercê Conceder Licença para erigir a dita Igreja na sobredita paragem com seu Adão: afirmar de Com Missão do Reverendo Vigário para a benzer Como estiver feita. E receberá a mercê. Despacho. Passe Provisão na forma do estilo Villa de São Paulo: vinte e hum de outubro de mil seiscentos e noventa e sinco annos. Costa. Provisão! O Doutor Manoel da Costa Cordeiro Vizitador Geral das Villas, e Capitanias da Provinça do Sul, Juiz das Presidença e Casamentos pello Illustrissimo Reverendissimo Senhor Dom Joseph de Barros de Alonço por mercê de Deos, e da Santa Sé Apostólica Bispo do Bispado de São Sebastião do Rio de Janeiro, do Concelho de Sua Magestade Ma. Aos que Apresente Nossa Provisão Vierem donde e Paz para sempre em Jesus Cristo Nosso Salvador, que de todos he Verdadeyro Remedio e Salvação. Faremos saber, que hera descrito ao que o Suppte. nos Representou em Sua petição e havermos por bem lhe coceder, licença Como por esta presente lhe concedemos para que possa fazer a Igreja, que pela Invocação de Nossa Sra. do Monserrate; e depois de feita lavantar a Ata para de poder dizer Missa na forma que Se constara fazer nas mais Igreja, a qual Será Situada em lugar livre fora de toda a Constribuição, e serviço das casas de vivenda; codito Suppte."

(2º livro tombo da Paróquia de Nossa Senhora da Candelária)

26 de maio de 2021

Praça XV de Novembro

Bem antes de uma praça...

Até a década de 1950, o espaço hoje ocupado pela Praça XV de Novembro e a Escola Estadual Prof. Cláudio Ribeiro da Silva compunha um cemitério. No ano de 1890, meses após Salto ser elevada a vila independente, teve início uma campanha junto à população para a construção de um cemitério no terreno doado por Antônio da Silva Teixeira. Antes disso, os cemitérios aqui existentes eram construídos emergencialmente, por ocasião de epidemias, como as de varíola. Nos demais casos, as pessoas que faleciam em Salto eram enterradas em Itu.


O cemitério velho em desenho de Gileno do Carmo, com os portões voltados
para a atual Av. Dom Pedro II. Jornal Taperá, 10/10/1998.


Este espaço (imagem acima) foi chamado durante muito tempo de cemitério velho, em oposição ao cemitério novo, que começou a funcionar em outra região da cidade, a Vila Nova, por volta de 1903 (atual Cemitério da Saudade). Em 1952, uma lei municipal proibiu sepultamentos no cemitério velho e, seis anos mais tarde, metade de seu terreno foi doada ao governo estadual para a construção do 2º Grupo Escolar de Salto, atual Escola Estadual Professor Cláudio Ribeiro da Silva. A outra metade do terreno, correspondente à frente do antigo cemitério, foi transformada na Praça XV de Novembro, inaugurada em 1968.

Vista aérea da Praça XV antes de ser inaugurada. Gazeta Esportiva, 16/06/1968.

O prefeito que criou a Praça XV

Prefeito de Salto entre 1º/01/1964 e 31/01/1969, Joseano Costa Pinto nasceu nesta cidade em 1930. Também foi vereador por três vezes, sendo presidente do Legislativo entre 1953 e 1955. Em seu mandato como prefeito, Salto viu diversas praças surgirem: XV de Novembro, da Saudade, São Benedito, Santa Lúcia e Ângelo Telesi. A Praça XV de Novembro foi inaugurada em 16/06/1968, quando a cidade completava 270 anos. Naquela ocasião, foi considerada a vedete da festa de aniversário.

Joseano Costa Pinto [1930-1981], ex-prefeito de Salto.


Trecho do suplemento sobre Salto veiculado no jornal Gazeta Esportiva, 16/06/1968.


A Escola Estadual Cláudio Ribeiro da Silva, sem a Praça XV no terreno à frente.


Panorama da Praça XV em seus primeiros tempos.
Em primeiro plano, a Av. Dom Pedro II. Foto de 1974.



Vista noturna da antiga fonte luminosa.



23 de abril de 2021

Preservando vozes do passado

Há 15 anos, quando comecei formalmente a trabalhar com a história e a memória de Salto, tive como primeira preocupação digitalizar o acervo de história oral que estava sob guarda do Museu da Cidade. Eram 34 fitas cassete, algumas já desmagnetizando-se, que foram convertidas para CDs. O trabalho era quase que artesanal, envolvendo uma busca por técnicas que não se aprendem na universidade.

Ao final de alguns meses, nos idos de 2006, o acervo estava plenamente digitalizado. Eram gravações dos anos 1990, em sua maioria, com algumas fitas alheias ao processo principal de coleta de depoimentos que ocorreu logo após o início do trabalhos de implantação do Museu. Dessa forma, tínhamos 32 fitas dos anos 1990, uma dos anos 1980 e uma de 1979! Preciosidades, a se considerar a raridade de registros desse tipo no âmbito memorialístico saltense.

Antes de 2010, os CDs foram convertidos em trilhas de MP3, que já vinham substituindo a tecnologia em declínio dos discos compactos. 

Eis que agora, no contexto de popularização dos serviços de streaming de áudio e da ampla aceitação e consumo dos podcasts, surge-nos a possibilidade de perpetuar essas vozes do passado saltense na "nuvem", ampliando as chances desses documentos não se perderem. Fui fazendo a tarefa aos poucos, desde o ano passado. Temos, agora, os 34 depoimentos acumulados postados no podcast "História de Salto/SP", que nasce com essa primeira temporada. 

São ao todo 22h46min de gravações. A escuta, a depender do episódio, exige paciência com os chiados, barulhos externos e oscilações existentes em capturas não profissionais. Talvez incomode aos ouvidos, mas certamente tocará o coração de muitos a audição de testemunhos de pessoas de grata memória a tantos saltenses.

Fica o convite!


O podcast "História de Salto/SP" está disponível nas seguintes plataformas:


Spotify

https://open.spotify.com/show/50wHjgRp0UMhvFF1lb6REZ


Google Podcasts

https://www.google.com/podcasts?feed=aHR0cHM6Ly9hbmNob3IuZm0vcy8zOTVmODM4NC9wb2RjYXN0L3Jzcw==


Anchor

https://anchor.fm/historiasalto


Breaker

https://www.breaker.audio/historia-de-salto-slash-sp


Overcast

https://overcast.fm/itunes1534251645/hist-ria-de-salto-sp


Pocket Casts

https://pca.st/1rgozhgc


RadioPublic

https://radiopublic.com/histria-de-saltosp-6LlZm9


21 de fevereiro de 2021

O teleférico da Brasital

As duas fábricas de tecido pioneiras em Salto, instaladas nesta margem do rio Tietê, bem como a fábrica de papel situada na margem oposta – todas surgidas no último quarto do século XIX – passaram, em 1904, a pertencer a uma única proprietária: a Società per l’Esportazione e per l’Industria Italo-Americana. Esta se tornou, ao mesmo tempo, produtora de tecidos e de papel.

Em 1919, a Italo-Americana passou para as mãos da Brasital S/A, que incorporou todo o patrimônio de sua antecessora. Apenas em 1976 a fábrica de papel foi desmembrada da fábrica de tecidos, passando a ter um proprietário distinto.

O vínculo entre essas fábricas, naquela época, se dava em virtude da matéria-prima para a produção do papel – fibras de celulose – vir das sobras das fábricas de tecidos. Era comum, inclusive, a fábrica de papel anunciar em jornais da época o seu interesse em adquirir roupas velhas e trapos de linho ou de algodão.

O teleférico da Brasital ligava as fábricas de tecido e de papel, uma em cada margem do rio. Por meio de uma barqueta, pessoas – inclusive gerentes – e materiais de pequeno porte eram transportados com a agilidade necessária, constituindo a linha mais curta entre as duas fábricas.

Teleférico, próximo à torre de sustentação, que ligava a Fábrica de Tecido da Brasital à Fábrica de Papel. Desativado nos anos 60.

Ponte Pênsil e Rio Tietê, 1945.

Rio Tietê, a partir da Ponte Pênsil, tendo ao fundo o teleférico da Brasital que ligava à Fábrica de Papel.


Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966