15 de junho de 2021

Por que 16 de junho?

Salto comemora mais um aniversário de fundação nesta quarta-feira. Trata-se do seu 323º aniversário. Data simbólica, guarda suas razões históricas que merecem ser conhecidas por todos seus munícipes.


TAVARES E A FUNDAÇÃO DE SALTO

Considera-se como a data da fundação de Salto o dia da bênção da capela dedicada a Nossa Senhora do Monte Serrat, ocorrida em 16 de junho de 1698. E o fundador, o capitão Antonio Vieira Tavares - então proprietário do sítio Cachoeira, cujas terras correspondem hoje a parte da cidade de Salto. Antes de falecer, Tavares fez a doação do sítio Cachoeira à capela por ele construída. E na escritura de doação, datada de 1700, fez constar que era vontade dele e de sua mulher, Maria Leite, que a capela permanecesse para sempre naquele local, onde hoje está a Igreja Matriz. À época, quem observasse o horizonte a partir daquele ponto teria vista privilegiada para a cachoeira.

O trabalho de recuperação da memória do fundador de Salto coube a Luiz Castellari [1901-1948], autodidata, autor de "História de Salto", que empreendeu competente pesquisa, decifrando manuscritos do final do século XVII e início do século XVIII. Antes disso, pouco se sabia sobre a ocupação pioneira das terras à direita do Ytu Guaçu, como diziam os índios.

Nascido em meados do século XVII, Tavares vivia no sítio Cachoeira desde aproximadamente 1690, com sua mulher, alguns familiares e escravos. A propriedade fora obtida por duas escrituras de datas de cartas de sesmarias – uma forma existente, no Brasil colonial, para se tornar proprietário de terras. Para assistir missa aos domingos, na vila de Itu, Tavares e seus familiares tinham que atravessar o rio Tietê – e não há registro da existência de uma ponte ligando as duas margens nessa época. Além disso, nosso fundador alegava sofrer de grande moléstia – o que dificultava ainda mais seu deslocamento.

Com base nesses argumentos, somados à sua devoção religiosa, solicitou formalmente às autoridades católicas que o autorizassem a construir em seu sítio uma capela dedicada à Senhora do Monte Serrat. Para tanto, pediu autorização também para usar os bens móveis de uma capela fundada por seu pai, Diogo da Costa Tavares, localizada em Cotia, hoje cidade da Grande São Paulo. A licença para construir a capela no sítio Cachoeira foi concedida em fins de 1696 e, em 16 de junho de 1698, o padre Felipe de Campos a benzeu.

Passados dois anos e meio da bênção da capela, Tavares e sua mulher, Maria Leite, firmaram uma escritura de doação do sítio Cachoeira à capela de Nossa Senhora do Monte Serrat recém fundada, mas impunham algumas condições. Além da já mencionada localização da capela, que não poderia ser alterarada, especificaram que a doação só seria consumada por falecimento de ambos, marido e mulher. Doariam ainda as peças de gentio da terra – como eram chamados os escravos índios – e demais escravos de origem africana. A casa na qual residiam também estaria entre os bens doados, excetuando-se apenas dinheiro, ouro, prata, cavalos, armas e roupa branca. E é sobre a localização dessa casa que paira um grande mistério. Em que ponto do sítio Cachoeira ela estaria localizada? Possivelmente próxima de onde se construiu a capela, embora não exista hoje nenhum vestígio material nem documento escrito que nos dê qualquer indicação.

Maria Leite faleceu em 1704, não tendo nenhum filho com Tavares, que cerca de um ano depois do falecimento dessa primeira esposa se casaria novamente. A segunda esposa, Josepha de Almeida, lhe deu cinco filhos – dois dos quais se tornaram religiosos. Tavares faleceu em 4 de dezembro de 1712, sendo sepultado na capela-mor da Igreja dos Franciscanos, em Itu. Seus restos mortais foram transferidos para Salto em 1981, estando hoje depositados na capela do Monumento à Padroeira.



Transcrição da imagem:

"Título da Erecção e Instituição da Capella de Nossa Senhora do Monserrate Sita no termo desta Villa no Sitio chamado Salto, e Cachueyra.

Traslado da Provisão da Erecção

Muito Reverendo Senhor Doutor Vizitador Geral. Dis Antonio Vieyra Tavary morador em a Villa de Itu, que elle Suppte. tem o Sitio de Sua habitação na paragem chamada Cachueyra, o qual fica dystante da villa hua legua, e tem hua passagem de Rio, com que Sua família não pode acudir a villa para ouvir Missa aos Domingos, e dias Santos, e elle Suppte. o faz com grande modéstia; e por estas razoens, com tão bem por sua devoção quer erigir no dito Seu Sitio hua Igreja com seu Adão. Com a invocação de Nossa Senhora do Monserrate, para cuja família aplicar os bens moveis da Capella da (Acutia), que por ordem delle. Se lhe entregarão por Ser elle o Suppte. Sucessor legítimo do Fundador. Pello que pode [...] lhe faça mercê Conceder Licença para erigir a dita Igreja na sobredita paragem com seu Adão: afirmar de Com Missão do Reverendo Vigário para a benzer Como estiver feita. E receberá a mercê. Despacho. Passe Provisão na forma do estilo Villa de São Paulo: vinte e hum de outubro de mil seiscentos e noventa e sinco annos. Costa. Provisão! O Doutor Manoel da Costa Cordeiro Vizitador Geral das Villas, e Capitanias da Provinça do Sul, Juiz das Presidença e Casamentos pello Illustrissimo Reverendissimo Senhor Dom Joseph de Barros de Alonço por mercê de Deos, e da Santa Sé Apostólica Bispo do Bispado de São Sebastião do Rio de Janeiro, do Concelho de Sua Magestade Ma. Aos que Apresente Nossa Provisão Vierem donde e Paz para sempre em Jesus Cristo Nosso Salvador, que de todos he Verdadeyro Remedio e Salvação. Faremos saber, que hera descrito ao que o Suppte. nos Representou em Sua petição e havermos por bem lhe coceder, licença Como por esta presente lhe concedemos para que possa fazer a Igreja, que pela Invocação de Nossa Sra. do Monserrate; e depois de feita lavantar a Ata para de poder dizer Missa na forma que Se constara fazer nas mais Igreja, a qual Será Situada em lugar livre fora de toda a Constribuição, e serviço das casas de vivenda; codito Suppte."

(2º livro tombo da Paróquia de Nossa Senhora da Candelária)

Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966