18 de junho de 2008

O saltense Ettore




Na noite de segunda-feira passada, foi exibido um vídeo que produzi e que tentava contar um pouco da vida de Ettore Liberalesso, homenageado naquela ocasião com a entrega da Medalha Municipal do Mérito. As linhas que seguem, em grande medida, correspondem ao texto que escrevi para aquele momento.


Nascido em 31 de março de 1920, o saltense Ettore Liberalesso é nome emblemático em nossa comunidade. Pertencente a uma geração que tem como conterrâneos Anselmo Duarte, Archimedes Lammoglia e Jota Silvestre (todos nascidos em 1920), Ettore é casado com Virgínia Soares Liberalesso – sendo pai de dois filhos. É avô e bisavô. Na infância, cursou, entre 1928 e 1931, o então Grupo Escolar de Salto – hoje Escola Estadual Tancredo do Amaral. Foi aluno de Benedita de Rezende, Alice Barbeito, Antonio Berreta e José de Paula Santos.

Entre 1933 e 1934, Ettore trabalhou para um senhor cego, Jorge de Souza, lendo jornais por 4 horas diárias. Em agosto de 1934, ingressou na Têxtil Assad Abdala, atual York. Meses mais tarde, transferiu-se para a Brasital, onde permaneceu até 1966, quando se aposentou. Nesse período de mais de 32 anos, Ettore foi pesador da fiação cascame, contínuo de escritório, esteve responsável pelo economato, trabalhou no escritório de pessoal, no departamento de contabilidade administrativa, foi correntista, datilógrafo, arquivista e correspondente. De 1967 a 1971, dirigiu a Auto Salto Administradora de Veículos. E entre 1973 e 1988, foi corretor de imóveis. Foi também vereador da Câmara Municipal de Salto, pela União Democrática Nacional, entre 1952 e 1959.

Ettore sempre foi figura atuante em clubes, comunidades religiosas, comissões e sociedades locais. São exemplos dessa atuação seu envolvimento com a Sociedade São Vicente de Paulo, o Círculo Católico, a Sociedade Instrutiva e Recreativa Ideal, a Associação Atlética Saltense, a Assistência Vicentina Frederico Ozanam, as comissões de construção da Igreja de São Benedito, da Festa da Padroeira além do Conselho Administrativo da Paróquia de Nossa Senhora do Monte Serrat. Desde 1979 é membro da Comissão de Nomenclatura de Ruas da Cidade, tornando-se o presidente desta em 1990.

Sua mais importante publicação, Salto: história, vida e tradição – é seguida de outras significativas contribuições, com destaque para a coluna semanal no Jornal Taperá, denominada “Arquivo”, mantida há 18 anos.

O envolvimento de Ettore com a implantação do Museu da Cidade de Salto foi decisivo. Como consultor da equipe de implantação, no início da década de 1990, não mediu esforços em sua atuação. Além da orientação histórica, sua participação foi decisiva na interface com os doadores das peças mais significativas hoje expostas. Assim sendo, o Museu é a própria materialização da paixão que Ettore nutre por Salto e sua história.

Nesse sentido, seu incansável trabalho como historiador merece a consideração de toda a comunidade saltense. Documentando fragmentos do passado local em seus escritos, Ettore Liberalesso lega às gerações futuras a possibilidade de compreensão de uma Salto que não mais existe – compreensão esta indispensável para se entender e, especialmente, valorizar nossa cidade no tempo em que vivemos. A noite de 16 de junho de 2008, quando nossa cidade completou seus 310 anos de fundação, foi uma oportunidade que todos nós tivemos de lhe dizer muito obrigado!

3 de junho de 2008

A inauguração da Fábrica de Papel

O jornal Imprensa Ytuana, em sua edição de 19 de setembro de 1889, noticiava em sua primeira página a inauguração da “1ª fábrica de papel, na vila do Salto de Ytu, pelos srs. Melchert & Cia.”. Pelo trem que partiu da capital da Província de São Paulo, às 6h20 da manhã, vieram mais de cem convidados. Outros – de Jundiaí, Campinas, Santos e Rio de Janeiro – também compareceram na inauguração.



Dentre os presentes, sabe-se que aqui estiveram sujeitos de grande influência à época, muitos dos quais iriam adquirir maior relevância nos anos seguintes. São mencionados pelo jornalista os nomes de Francisco Glicério, dr. Vieira Bueno, Bento Quirino dos Santos, Bernardino de Campos, dr. Ignacio de Mesquita, os coronéis Rodovalho e Anhaia, Carlos Paes de Barros, Ramos de Azevedo, Garcia Redondo, Alfredo Maia, Paulo Egydio, José Vicente de Azevedo, José Pereira de Queiroz, José Felix Monteiro, Victorino Carmillo e Urbano Machado. As folhas da capital paulista também enviaram seus representantes, além da Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro. O Diário da Manhã, de Santos, e os periódicos campineiros Gazeta e Diário de Campinas igualmente marcaram presença.

Os que vieram de Itu – casos de José Innocêncio, Paulino Pacheco, Carlos Pereira, João Baptista Pacheco Jordão, Octaviano Pereira, José Corrêa, Fontes Junior, o vigário Miguel Corrêa Pacheco, Francisco Pereira e o tenente-coronel José Feliciano Mendes – chegaram às dez horas “na estação do Salto, onde os esperavam os proprietários e parentes do sr. Adolpho Melchert”. Em seguida, “a banda saltense (...) tocou e foram queimados muitos foguetes”.

Meia hora mais tarde, “chegaram todos os convidados à fábrica, que está situada a um quilômetro mais ou menos da estação, e a essa hora começaram a funcionar as máquinas, erguendo nessa ocasião o sr. Rodovalho um viva ao distinto engenheiro paulista dr. Antonio Melchert, que foi quem projetou e construiu todo o edifício e presidiu ao assentamento dos mecanismos”. Em seguida, os convidados tiveram a oportunidade de conhecer todas as etapas “do fabrico do papel”.

“Às 11 horas serviu-se um lauto almoço, e à uma hora um abundante lunch, durante o qual foram calorosamente saudados os srs. Manoel Lopes de Oliveira, dr. Antonio Melchert e Carlos Melchert, que são os proprietários da fábrica, sendo também brindado o sr. Adolpho Melchert, pai dos dois últimos”. Tancredo do Amaral, representando o Correio do Salto na ocasião, foi um dos nomes que o articulista de Imprensa Ytuana cita por terem “utilizado da palavra” após os brindes, além do “chefe da Liga Italiana”; às 3 horas da tarde, todos os convidados já haviam se retirado.

Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966