Primeira usina hidrelétrica instalada em Salto, a Usina de Lavras demorou cerca de dois anos para ser construída. A inscrição que se pode ver na entrada do prédio, ainda hoje, marca o ano de 1904. Contudo, ela foi inaugurada somente em 1906 pela Companhia Ituana de Força e Luz. Foi, portanto, a segunda usina hidrelétrica instalada às margens do rio Tietê, sendo a primeira em Santana de Parnaíba, em 1901. Nesses primeiros tempos, Lavras atendia ao núcleo urbano de Itu e alguns pontos de sua zona rural. Um ano e meio mais tarde foi a vez de Salto utilizar a eletricidade gerada por ela.
A usina de Lavras e o rio Tietê, em vista aérea, 1930. |
Em 1929, Lavras foi vítima de uma grande inundação e ficou paralisada por sete anos devido aos graves danos causados nos equipamentos. Talvez essa tenha sido uma das maiores cheias do rio Tietê ocorridas no século XX. Quando Lavras voltou a operar, funcionou por vinte anos como unidade complementar da Usina de Porto Góes, localizada também em Salto, sobre a qual trataremos a seguir.
Obsoleta, Lavras foi colocada à venda em 1956. Nenhum negócio foi concluído e a usina ficou abandonada. Em 1971 a Prefeitura de Salto adquiriu a propriedade no entorno da usina. Somente em 1992, com a criação do Parque de Lavras, é que o prédio da usina e a área circundante foram, de fato, encarados como patrimônio histórico e natural da cidade. Durante as primeiras décadas do século XX várias empresas geradoras de eletricidade se instalaram no interior paulista. As usinas instaladas às margens rio Tietê, nesse momento, serviam aos grandes empreendimentos fabris e às áreas urbanas próximas.
A origem da denominação Lavras se perdeu, não havendo documentos que a expliquem, tratando-se de nome aplicado ao local há muito tempo. Uma possibilidade é que, nos arredores, tenha ocorrido atividade de garimpo, da chamada mineração de faisqueira, ou seja, a busca de ouro superficial no leito e nas margens de rios, como ocorreu em várias localidades paulistas. Outra hipótese é que o nome venha do verbo lavrar, vinculado ao trabalho de corte de pedra – o granito que existe em grande quantidade na região.
Ilustração do funcionamento da Usina de Lavras. Desenho de Luiz V. Keating, 1991 |
Já a construção da barragem e usina hidrelétrica de Porto Góes teve início em 1924, pela indústria Brasital S/A – que visava abastecer seu complexo fabril instalado nas proximidades. A concessão estadual para a construção de uma usina próxima à cachoeira fora obtida pelo grupo industrial antecessor, a Società Italo-Americana, nos primeiros anos da década de 1910. Mas a Brasital não concluiu a obra. Em 1927 a concessão foi repassada para a Companhia Ituana de Força e Luz – que no mesmo ano teve seu controle acionário transferido para a The São Paulo Tramway Light & Power Co. Ltd. – conhecida simplesmente por Light. Nas obras, concluídas pela Light em 1928, cerca de 1500 homens trabalharam.
Trabalhadores responsáveis pela abertura do canal da usina de Porto Góes, 1924. |
Todo o aparato necessário para que a usina de Porto Góes entrasse em funcionamento alterou significativamente a paisagem dos arredores da cachoeira que dá nome a nossa cidade. O volume de água que hoje se observa na cachoeira foi bastante reduzido em virtude da abertura do canal de descarga, que também resultou numa ilha artificial na margem esquerda, na qual a vegetação se preservou desde então.
Ao lado dos prédios remanescentes da antiga Brasital formou-se um conjunto que é símbolo da arquitetura industrial paulista das primeiras décadas do século XX. Hoje, a usina de Porto Góes apresenta duas unidades geradoras dotadas de turbinas tipo Francis, de eixo vertical, com capacidade instalada de geração de 11 MW, vazão turbinável de 56 m³/s e desnível nominal de 25 metros. Atualmente, está sob o controle da Empresa Metropolitana de Águas e Energia S. A., a EMAE, tendo sido a primeira usina dessa empresa a se tornar automatizada.
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