Nessa semana foi notável a elevação do nível das águas nos dois maiores rios que cortam a nossa cidade, o Tietê e o Jundiaí. Muitos foram os saltenses que se dirigiram aos pontos de observação mais privilegiados, como a Praça Archimedes Lammoglia – em específico ao mirante sobre o Memorial do Rio Tietê – e aos arredores da Ilha Grande e da Ponte dos Pescadores. Houve aqueles que foram ao Parque do Lago e viram o lago confundir-se com o próprio rio Tietê. Contudo, o volume observado nos últimos dias é bem menor se comparado ao que se viu em Salto nos anos de 1929 e 1983. Abaixo, um vídeo da cachoeira com volume anormal de água, na noite de 08/12/2009:
1929
Embora existam referências de meados do século XIX a respeito de uma grande enchente que destruiu a ponte que ligava as margens do rio Tietê, na altura do atual bairro da Barra, passando por uma ilha (conhecida antigamente por Ilha da Santa Feia, pouco acima da atual ponte Salto-Itu), os relatos de antigos moradores de Salto informavam que a enchente de 1929 havia sido realmente extraordinária. Uma das fotos que se tem desse episódio, de autoria de Biágio Ferraro, mostra as águas cobrindo a Ilha dos Amores, onde existia um coreto. Naquele instante captado pela câmera, as águas ainda não haviam atingido seu ponto máximo, já que, horas mais tarde, elas levariam o telhado do coreto mencionado, visto que chegaram até a calçada da Rua José Weissohn.
Vista da Ilha dos Amores, ao centro, na enchente de 1929. Foto tirada de uma das torres da Brasital. |
A Usina de Lavras – inaugurada em 1906, junto à margem direita do rio Tietê, à montante do salto – sofreu grandes danos com a enchente de 1929. A elevação do nível das águas atingiu a casa das máquinas e comprometeu os equipamentos. Após essa enchente, Lavras foi desativada. Quando voltou a operar, em 1935, algumas medidas foram tomadas com o intuito de se evitar estragos semelhantes: os geradores foram colocados sobre cavaletes e nas janelas ao lado do rio foram levantadas muretas. Lavras seria paralisada definitivamente em 1956, já estando, então, bastante obsoleta.
1983
Nos primeiros dias de fevereiro de 1983, a cidade de Salto foi assolada por aquela que, segundo muitos, foi a maior das enchentes já vista pelos saltenses. No dia 2, as notícias vindas da capital e de outras cidades rio acima anunciavam os estragos possíveis de ocorrerem em Salto com a chegada do grande volume de águas. As autoridades locais, empossadas no dia anterior, trataram de tomar providências visando minorar os estragos e riscos. Cerca de duzentas famílias, moradoras de áreas de baixada, como uma parte do Jardim Três Marias, foram transferidas às pressas.
No dia 5, sábado, o jornal Taperá trazia o seguinte título em sua primeira página: “A cidade invadida pelas águas de 2 rios”. E detalhava o drama: “O nível das águas superou, na última 3ª feira, as marcas existentes na usina da Eletropaulo, no Porto Góes e numa das dependências da Brasital S.A., em cerca de um metro [comparação feita com a enchente de 1929]. Locais jamais atingidos anteriormente, nas proximidades dos rios Jundiaí e Tietê, desta feita foram invadidos pelas águas, como parte da avenida Vicente Scivittaro, Jardim das Nações, Largo S. João, rua Mal. Deodoro, rua Coelho Neto e outras do Jardim 3 Marias, final das ruas Rui Barbosa e Joaquim Nabuco. Diversas indústrias também sofreram grandes prejuízos, sendo que algumas chegaram a paralisar suas atividades. Dezenas de famílias ficaram desabrigadas, sendo amparadas por familiares, amigos, Poder Público, clubes de serviço e por outras pessoas (...).”
A cobertura jornalística da enchente, no mesmo Taperá, trazia ainda episódios notáveis ocorridos nos dias anteriores. Ao abordar o drama das famílias atingidas, em “Ato de heroísmo”, conta-se como uma família foi salva: “A maioria dos saltenses deram mostras de seu espírito de solidariedade, mas houve alguns casos expressivos, (...). Foi o que aconteceu com Celso Andreotti e Euclides Rocco, que ao tomarem conhecimento que a família Arpis, com 8 pessoas, estava presa na casa em que residem no estádio ‘Luiz Milanez’, na Ilha Grande, imediatamente conseguiram um bote a motor, de propriedade de João Rocco e realizaram diversas viagens até o local, da meia-noite até as 4 e meia da manhã. Trouxeram todas as pessoas que se encontravam na casa, enfrentando o perigo da correnteza, salvando ainda diversos objetos de sua propriedade. Quando Celso e Euclides chegaram à casa, seus moradores já estavam com água pela cintura e desesperados com a possibilidade de serem levados pela correnteza, o que, felizmente, não ocorreu. Parte da casa, além do bar, vestiários, alambrado e arquibancada do estádio da A. A. Avenida foi destruída, mas não se verificou nenhuma vítima fatal.”
Outro episódio refere-se ao salvamento dos animais do mini-zoológico então existente na Ilha dos Amores: "[A Ilha] foi quase inteiramente coberta pelas águas, fazendo com que diversos animais viessem a morrer afogados ou sendo levados pelas águas. Os que conseguiram sobreviver começaram a ser retirados ontem, pela Polícia Florestal, a partir das 9 horas da manhã. Foram utilizadas, inicialmente, escadas fornecidas pela Brasital, pois a ponte que dá acesso à ilha foi derrubada pela correnteza. Como não foi possível chegar à ilha através desse meio, foi solicitada a vinda de helicóptero da Votec, de Sorocaba, que transportou os componentes da Polícia Florestal e Militar até a ilha. Eles conseguiram retirar o veado, dois macacos, um quati, a onça e outros animais. Dois macacos e a capivara fugiram assustados com o barulho do helicóptero e caíram nas águas, não podendo ser salvos.”
A seguir, veja 21 fotos da enchente de 1983 postada por colaboradores do grupo Fotos Antigas de Salto/SP no Facebook, administrado pelo autor deste blog:
3 comentários:
Sempre que ocorrem chuvas fortes, me desloco até os locais para observação. É impressionante ver a força das águas e ainda mais impressionante, depois, ver quanto lixo se acumulam nas margens do Tietê.
Muito interessante e bem articulado o blog sobre a história de Salto. Em relação as enchentes, muito bem detalhado os episódios sobre enchente em Salto.
Parabéns prof. Elton.
Lembro da enchente de 83 eu Valter Sirtori, tinha 20 anos, trabalhava na Eucatex, morava no bairro da estação, as águas chegaram até o bar da ponte e também nos barrações do proprietário zé gaúcho, que ficam próximo as margem do rio Jundiai, o fato curioso que relato e que as pessoas ficavam posicionada sobre a ponte, pescando botijões de gás que desciam da empresa picchi, pois a empresa ficou totalmente alagada.
obs. Os botijões de gás por estarem vazio(novos), flutuavam na correnteza, com um ferro, as pessoas tentavam encaixar na aça do mesmo.
Tambèm desciam correnteza abaixo muitos tambores de óleo.
Postar um comentário