A escola mais antiga de Salto, ainda hoje em atividade, é a Escola Estadual Professor Tancredo do Amaral. Ela foi criada por meio de decreto estadual de 20/10/1913, sob a denominação Grupo Escolar de Salto de Ytu, e iniciou suas atividades no dia 28 daquele mês. Em sua origem, reuniu 8 escolas espalhadas pelo município e criou mais duas classes, totalizando 407 matrículas em seu primeiro ano de funcionamento.
O Grupo Escolar de Salto recebeu o nome de Tancredo do Amaral apenas em 21 de abril de 1932. Tratava-se de uma homenagem ao primeiro professor formado a lecionar em Salto. O paulistano Tancredo Leite do Amaral Coutinho diplomou-se pela Escola Normal da Capital em 1887. Lecionou por 2 anos em Salto, logo que se formou. Em 1906, formado em Direito, passou a integrar o quadro de funcionários do Ministério Público. Anos depois foi nomeado Juiz de Direito da Comarca de Santa Isabel, onde se aposentou em 1923. Faleceu em Santo Bernardo do Campo, em 1928.
Ao longo da vida Tancredo foi crítico teatral, fez parte da redação do jornal Correio Paulistano e publicou livros didáticos, como História de São Paulo ensinada pela biografia de seus vultos mais notáveis. Esta é sua obra de maior relevo. Tal publicação é de 1895 e foi editada por Alves & Cia. Destinava-se “aos estabelecimentos de instrução popular”, enquadrando-se no segmento de “educação cívica”. No primeiro capítulo, Tancredo versa sobre “Como deve ser estudada a história”, num texto bastante peculiar, carregado de conceitos caros a ele e aos seus contemporâneos, que podem até nos parecer inocentes, hoje: “As nações, meus jovens estudantes, que são grandes agrupamentos de famílias que habitam um território determinado, com certa denominação, e que possuem um governo que dirige, tem a sua história, que é o conjunto dos fatos mais ou menos notáveis, que se ligam ao seu desenvolvimento e ao seu progresso, desde o começo de sua organização. A história de um povo, porém, que é, senão a história dos seus grandes homens, dos seus vultos mais notáveis, que têm trabalhado pelo ideal humano, que é o aperfeiçoamento sempre crescente, o progresso em uma palavra? Que é a história de um país, senão a história de cada um, empregando a sua inteligência e o seu labor nos diversos ramos da atividade humana para elevar o seu torrão natal, a sua Pátria, para honrar a Humanidade?”
O livro divide-se em quatro partes. Na Parte Primeira, “Preliminares”, trata-se de como se deve estudar a história, da origem do povo paulista, e se faz, ainda, uma descrição física de São Paulo, tratando-se também de sua fauna e flora. Na Parte Segunda, nomeada “São Paulo no domínio da metrópole”, alguns aspectos da história colonial paulista, bem como biografias associadas a esse período, dão o tom da narrativa. É a seção mais bem trabalhada e interessante do livro, na qual a figura dos bandeirantes é posta em destaque, sendo vários deles biografados sucintamente. Na Parte Terceira, “São Paulo no regime do Império”, sujeitos como Libero Badaró, o padre Diogo Antonio Feijó, o pintor Almeida Júnior e o músico Carlos Gomes são lembrados. A Parte Quarta e última trata, fundamentalmente, da história recente à época da publicação, e exalta figuras, muitas das quais com grande destaque no cenário político daquele final de século, como Rangel Pestana, Bernardino de Campos, Cerqueira César e Cesário Motta Júnior – este, inclusive, é a quem Tancredo dedica o livro. A seguir, transcrevo uma das biografias, a título de exemplo:
BARTOLOMEU BUENO DA SILVA, O ANHANGUERA
Nasceu na vila de Paranaíba e era filho de Francisco Bueno, sobrinho de Amador Bueno da Ribeira e de D. Filippa Vaz. Em 1682 este notável sertanista, à frente de numerosa bandeira, invadiu os sertões onde se achava a famosa tribo Goyá que habitava as terras mais ocidentais de Minas e São Paulo, descobrindo que havia ouro ali, por ter observado que as mulheres indígenas ornavam a cabeça com folhetas daquele metal. Antes de Bartolomeu Bueno, já diversos bandeirantes paulistas haviam explorado quase todo o sertão dos hoje estados de Goiás e Mato Grosso, porém sem resultado. Bueno com facilidade sujeitou a tribo que acabava de encontrar, por ser pouco bravia, e regressou a São Paulo com grande número de índios e muito ouro. Nessa excursão levou consigo um seu filho menor, que mais tarde descobriu as minas achadas por seu pai. Convém aqui narrar o estratagema de que se serviu Bueno para arrancar dos índios a declaração do lugar onde existia ouro. Lançou fogo a um vaso de aguardente, que fez explosão; e os índios aterrados foram compelidos a satisfazer os seus desejos, recebendo então Bueno dos mesmos o nome de Anhanguera, que quer dizer Diabo Velho. Pedro Taques, escritor conceituado, também refere que Bueno tinha um olho furado e que foi daí que lhe veio tal denominação. Foi casado em primeiras núpcias com D. Isabel Cardoso e em segunda com D. Maria de Moraes, deixando do primeiro consórcio nove filhos. Faleceu no lugar que foi seu berço, em fins do século XVII.
Folha de rosto da referida publicação de Tancredo, de 1895.
O Grupo Escolar de Salto recebeu o nome de Tancredo do Amaral apenas em 21 de abril de 1932. Tratava-se de uma homenagem ao primeiro professor formado a lecionar em Salto. O paulistano Tancredo Leite do Amaral Coutinho diplomou-se pela Escola Normal da Capital em 1887. Lecionou por 2 anos em Salto, logo que se formou. Em 1906, formado em Direito, passou a integrar o quadro de funcionários do Ministério Público. Anos depois foi nomeado Juiz de Direito da Comarca de Santa Isabel, onde se aposentou em 1923. Faleceu em Santo Bernardo do Campo, em 1928.
Ao longo da vida Tancredo foi crítico teatral, fez parte da redação do jornal Correio Paulistano e publicou livros didáticos, como História de São Paulo ensinada pela biografia de seus vultos mais notáveis. Esta é sua obra de maior relevo. Tal publicação é de 1895 e foi editada por Alves & Cia. Destinava-se “aos estabelecimentos de instrução popular”, enquadrando-se no segmento de “educação cívica”. No primeiro capítulo, Tancredo versa sobre “Como deve ser estudada a história”, num texto bastante peculiar, carregado de conceitos caros a ele e aos seus contemporâneos, que podem até nos parecer inocentes, hoje: “As nações, meus jovens estudantes, que são grandes agrupamentos de famílias que habitam um território determinado, com certa denominação, e que possuem um governo que dirige, tem a sua história, que é o conjunto dos fatos mais ou menos notáveis, que se ligam ao seu desenvolvimento e ao seu progresso, desde o começo de sua organização. A história de um povo, porém, que é, senão a história dos seus grandes homens, dos seus vultos mais notáveis, que têm trabalhado pelo ideal humano, que é o aperfeiçoamento sempre crescente, o progresso em uma palavra? Que é a história de um país, senão a história de cada um, empregando a sua inteligência e o seu labor nos diversos ramos da atividade humana para elevar o seu torrão natal, a sua Pátria, para honrar a Humanidade?”
O livro divide-se em quatro partes. Na Parte Primeira, “Preliminares”, trata-se de como se deve estudar a história, da origem do povo paulista, e se faz, ainda, uma descrição física de São Paulo, tratando-se também de sua fauna e flora. Na Parte Segunda, nomeada “São Paulo no domínio da metrópole”, alguns aspectos da história colonial paulista, bem como biografias associadas a esse período, dão o tom da narrativa. É a seção mais bem trabalhada e interessante do livro, na qual a figura dos bandeirantes é posta em destaque, sendo vários deles biografados sucintamente. Na Parte Terceira, “São Paulo no regime do Império”, sujeitos como Libero Badaró, o padre Diogo Antonio Feijó, o pintor Almeida Júnior e o músico Carlos Gomes são lembrados. A Parte Quarta e última trata, fundamentalmente, da história recente à época da publicação, e exalta figuras, muitas das quais com grande destaque no cenário político daquele final de século, como Rangel Pestana, Bernardino de Campos, Cerqueira César e Cesário Motta Júnior – este, inclusive, é a quem Tancredo dedica o livro. A seguir, transcrevo uma das biografias, a título de exemplo:
BARTOLOMEU BUENO DA SILVA, O ANHANGUERA
Nasceu na vila de Paranaíba e era filho de Francisco Bueno, sobrinho de Amador Bueno da Ribeira e de D. Filippa Vaz. Em 1682 este notável sertanista, à frente de numerosa bandeira, invadiu os sertões onde se achava a famosa tribo Goyá que habitava as terras mais ocidentais de Minas e São Paulo, descobrindo que havia ouro ali, por ter observado que as mulheres indígenas ornavam a cabeça com folhetas daquele metal. Antes de Bartolomeu Bueno, já diversos bandeirantes paulistas haviam explorado quase todo o sertão dos hoje estados de Goiás e Mato Grosso, porém sem resultado. Bueno com facilidade sujeitou a tribo que acabava de encontrar, por ser pouco bravia, e regressou a São Paulo com grande número de índios e muito ouro. Nessa excursão levou consigo um seu filho menor, que mais tarde descobriu as minas achadas por seu pai. Convém aqui narrar o estratagema de que se serviu Bueno para arrancar dos índios a declaração do lugar onde existia ouro. Lançou fogo a um vaso de aguardente, que fez explosão; e os índios aterrados foram compelidos a satisfazer os seus desejos, recebendo então Bueno dos mesmos o nome de Anhanguera, que quer dizer Diabo Velho. Pedro Taques, escritor conceituado, também refere que Bueno tinha um olho furado e que foi daí que lhe veio tal denominação. Foi casado em primeiras núpcias com D. Isabel Cardoso e em segunda com D. Maria de Moraes, deixando do primeiro consórcio nove filhos. Faleceu no lugar que foi seu berço, em fins do século XVII.
Folha de rosto da referida publicação de Tancredo, de 1895.
Nenhum comentário:
Postar um comentário