22 de julho de 2010

A Estação Ferroviária de Salto

O prédio que ainda hoje pode ser visto na Praça Álvaro Guião – e que em breve será mais um dos pontos com vocação turística nesta cidade – foi construído em 1898, sob a direção do mestre de obras João Garcia, e serviu por muitos anos como estação ferroviária. Os trilhos da Companhia Ytuana de Estradas de Ferro chegaram a Salto em 26 de novembro de 1870, mas nessa ocasião apenas foi instalado um marco no local onde seria construída a estação. A instalação oficial da Estação Ferroviária de Salto ocorreu em 2 de abril de 1873. Curiosamente a Estação de Itu foi inaugurada depois, no dia 17 do mesmo mês.

Quando a ferrovia chegou, Salto não era mais que uma povoação com duzentas casas e menos de mil habitantes. Mas o crescimento não tardou a vir nos anos seguintes, já que a chegada da ferrovia foi um dos pontos decisivos para as primeiras tecelagens aqui se fixarem, nas imediações da cachoeira. E isso acabou atraindo grande quantidade de trabalhadores.

As Festas do Salto – existentes desde os primeiros anos do século XVIII – motivaram, a partir de 1876, uma iniciativa que se tornou praxe das empresas que operavam a ferrovia: fazer correr trens entre Salto e Itu, nos dias 7 e 8 de setembro de cada ano, a curtos intervalos de tempo. Isso se mostrava interessante já que havia um numeroso contingente de ituanos interessados em vir para cá, justamente para participar dos tradicionais festejos na data da Padroeira do Salto. O aviso extraído do jornal Imprensa Ytuana, de 4 de setembro de 1881, dá o tom do movimento nesses dias: “No dia 8 de Setembro p. futuro correrão os trens extraordinarios como de costume. Na vespera 7 de Setembro haverá um trem especial que partindo de Ytu as 5 horas da tarde, regressando do Salto de noite, 15 minutos depois de um prolongado apito da machina.”

Nos anos imediatamente após a instalação da Estação de Salto, andar de trem – fosse para sair de Salto ou na chegada – significava também ter que atravessar o rio Jundiaí, no trecho que hoje é o final da Rua Monsenhor Couto, a bordo de uma balsa. Apenas em agosto de 1888 foi instalada uma ponte de madeira sobre o rio – pouco acima da que existe hoje – projetada e custeada por um dos industriais pioneiros de Salto, o Dr. Barros Júnior, que era engenheiro civil.

Até a década de 1950, tanto para transporte de cargas como de passageiros, a ferrovia reinou absoluta em nossa região. Nessa época, Salto chegou a ter seis ligações diárias com a capital paulista, sendo três via Jundiaí – com baldeação pela São Paulo Railway (saindo daqui às 5h00, 11h00 e 18h00) – e outras três via Mairinque, que saíam 30 minutos após as primeiras via Jundiaí, nos mesmos intervalos. Por essa época, a ferrovia em Salto atendia a uma demanda muito grande das indústrias, especialmente da Eucatex e da EMAS, aqui instaladas no início da década citada.

Em 1959 a Estação de Salto tinha cinco desvios particulares: da pedreira da Ponte; da pedreira de João Dias; da Brasital – com quase 2 km de extensão; da Eucatex e da EMAS, que consumia bauxita. Outras indústrias – tais como a Têxtil Assad Abdala e a Fábrica Picchi – e o comércio em geral se valiam das mercadorias e matérias-primas que chegavam à estação: celulose, fardos de algodão, cimento, madeira, soda cáustica, bobinas de aço, botijões de gás etc. Pela Estação de Salto também se exportava. Na década de 1950, daqui saíam: café em grãos, pedra britada, paralelepípedos, areia dos rios Jundiaí e Tietê, vinho das vinícolas Milioni e Donalísio, óxido de alumínio da EMAS, em média 10 vagões por dia de chapas da Eucatex, artigos de couro do Cortume Telesi, dentre outros.

Em 1976 cessou o transporte de passageiros. As rodovias já haviam melhorado bastante e o número de linhas de ônibus já havia aumentado – fruto de uma política pública que não se interessava pela ampliação da rede ferroviária e direcionava os investimentos em outra direção. Ao longo de sua existência, a Estação de Salto pertenceu às seguintes companhias, numa sucessão de vendas e fusões que ocorreram: Cia. Ytuana de Estradas de Ferro (1873-1892), Cia. União Sorocabana e Ytuana (1892-1907), The Sorocabana Railway Company (1907-1919), Estrada de Ferro Sorocabana (1919-1971) e, por último, FEPASA – Ferrovia Paulista SA (1971-1987). Nossa estação foi desativada em 1987, com a construção do novo traçado de linha e nova estação para além da Eucatex.

Locomotiva na estação, ca. 1948.

Eloy Rigolin, Terezinha Rigolin da Rós Tecchio e Luiza Cazarine Rigolin na estação, ca. 1950.
Acervo de Ana Cláudia R. Ferreira. (Grupo Fotos Antigas de Salto/SP)
Enchente do Rio Jundiaí em 1983, com a estação ao fundo, ainda em operação.
Acervo de Paulo Conti (Grupo Fotos Antigas de Salto/SP)

Construção da ponte de madeira sobre o Rio Jundiaí, 1939. Ao fundo, a estação.

Estação de Salto, 1920. Vê-se a retirada de fardos de algodão que à época eram transportados até as tecelagens em carroças puxadas por burros.
Desembarque, década de 1930.


As fotos a seguir foram tiradas por Anicleide Zequini em abril de 1988:












Cronologia:

1870 – Organização da Companhia Ituana de Estrada de Ferro por comerciantes, industriais e fazendeiros de Itu e vizinhanças.

1873 – Inauguração oficial do ramal ligando as cidades de Itu e Jundiaí, passando por Salto.

1892 – Fusão das Companhias Sorocabana e ituana de Estrada de Ferro.

1903 – Falência e liquidação da União Sorocabana e Ituana.

1905 – Aquisição das instalações e equipamentos ferroviários pelo governo do Estado de São Paulo, com a denominação de Estrada de Ferro Sorocabana.

1971 – Criação da FEPASA – Ferrovia Paulista S/A, que incorporou a Estrada de Ferro Sorocabana, juntamente com outras quatro Companhias.

1985 – Inauguração do novo ramal, com a desativação do antigo traçado.

Um comentário:

Silmar Oliveira disse...

O (des)interesse público nacional pelo crescimento e expansão ferroviários denotam a falta de visão - ou teria outro motivo? - no que tange ao investimento coerente em infrestrutura, ponto inicial para o desenvolvimento sócio-comercial de nossa nação-continente.
Símbolo da união, do turismo (moderna atividade econômica), da história de uma cidade eis "A Estação Ferroviária de Salto/SP".

Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966