O livro O município de Salto, escrito em 1959 pelo então médico sanitarista do Centro de Saúde de Salto, Dr. Adriano Randi – paulistano nascido em 1921, que viveu muitos anos em Salto e atualmente reside em Campinas – é um precioso levantamento sobre nossa cidade no final da década de cinquenta. Suas 125 páginas, impressas no Rio de Janeiro pelo serviço gráfico do IBGE, trazem um levantamento amplo e minucioso sobre Salto. Talvez seja esse o primeiro livro impresso sobre a cidade, já que História de Salto, de Luiz Castellari, embora concluído em 1942, foi publicado somente muitos anos após a morte do autor, em 1971. Vale, portanto, registrar aqui algumas passagens dessa interessante publicação do Dr. Randi – um tanto esquecida – e que se tornou, mais do que tudo, um interessante documento de época. Nas páginas iniciais o autor traça um histórico de Salto, destacando a fundação da cidade “na fria e nevoenta manhã do dia 16 de junho do ano de 1698, da era cristã, no sítio denominado Cachoeira”; a instalação das primeiras fábricas e a conquista da autonomia local, que “coincidiu com o advento da Proclamação da República e o início da imigração italiana para o Brasil”, em 1889.
Mas são os dados contemporâneos à publicação os mais interessantes. Em 1959, existia uma Salto com população estimada em 15.000 habitantes na zona urbana e 2.613 na zona rural – predominando os habitantes de nacionalidade brasileira, existindo ainda grupos de italianos, espanhóis, portugueses e japoneses. A comunicação da cidade com outras localidades, nessa época, foi dividida pelo autor em dois meios: por estrada de rodagem e por estrada de ferro – sendo este último o principal. Da capital do Estado, por estrada de rodagem, Salto distava “113 km, via Itu, sendo 62 km na via Anhanguera, em estrada totalmente asfaltada; via Cabreúva, 107 km, também em estrada totalmente asfaltada, porém estreita e muito acidentada, contando com vários precipícios, todavia com um belíssimo panorama, margeando em muitos quilômetros o rio Tietê”. Por estrada de ferro, o saltense que desejasse ir à Capital, tinha duas opções: pela Sorocabana, “via Mairinque, com 129 km, ou via Jundiaí, com 121 km – parte pela Sorocabana e parte pela Estrada de Ferro Santos a Jundiaí”. Para ir a Indaiatuba, distante 17 km, ou Campinas, distante 47 km, era necessário percorrer uma “estrada de terra batida, porém bem conservada”.
No capítulo denominado “Progresso Relativo”, Randi destaca que na administração do prefeito Vicente Scivittaro “foi promulgada uma lei municipal de isenção de impostos por 20 anos às indústrias que aqui se estabelecessem”. E continua, sobre esse tema, a dizer que “graças a essa lei, ao potencial elétrico e à grande abundância de água, aqui se instalaram importantíssimas indústrias novas, destacando-se a Eucatex S. A., fábrica de chapas de fibra de eucalipto que abastece o país e ainda exporta para o exterior”. Outra indústria citada nesse contexto é a “Electro Metalúrgica Abrasivos Salto (EMAS), com fabricação de óxido de alumínio e carbureto de silício, matéria-prima empregada na indústria de abrasivos”. Cita ainda a “Sivat, com indústria de rebolos e outros abrasivos”. E conclui, sobre a questão, afirmando que “tais indústrias trouxeram grande desenvolvimento ao município, quer na parte econômica, quer no aumento da população”.
Informes dos mais variados temas podem ser encontrados na publicação em questão, desde laudos técnicos sobre a qualidade da água que os cidadãos saltenses recebiam em seus lares até a descrição da rotina da Creche mantida pela indústria têxtil Brasital: “às mães é facultado sair do serviço por alguns minutos para se dirigirem ao lactário da creche a fim de darem de mamar aos seus filhos; outras crianças são alimentadas por mamadeiras preparadas pelas próprias freiras, (...) para crianças maiores é preparado o mingau e a sopa”. Outro detalhe interessante é a listagem das escolas rurais do município, que Randi elabora levantando uma a uma o número de alunos, a distância do centro da cidade e a professora responsável pela direção do estabelecimento. Esse levantamento é acompanhado de um mapa:
Escolas rurais de Salto e as respectivas vias de acesso, 1959.
1) Escola Mista José de Paula Santos - Bairro Olaria
2) Escola Mista Boa Esperança - Bairro Boa Esperança
3) Escola Mista Ana Rita Felizola - Fazenda Santa Cruz
4) Escola Mista João Batista Cezar - Bairro Catingueiro
5) Escola Mista Buru - Bairro do Buru
6) Escola Mista Claudio R. da Silva - Bairro Três Cruzes
7) Escola Mista Maria Miranda Campos - Bairro Boa Vista
8) Escola Mista Acylino Amaral Gurgel - Bairro Atuaú
9) Escola Mista Getúlio Vargas - Bairro Campo Grande
Como sanitarista que era, Randi acreditou ser relevante detalhar a origem e a qualidade dos alimentos consumidos pelos saltenses. Sobre o leite consumido na cidade, relatou ser “proveniente de pequenas fazendas localizadas na zona rural do próprio município”. Já o fornecimento era “feito por uma única leiteira [aqui] estabelecida”, e a “distribuição na casa dos fregueses, [ocorria] por meio de um carrinho adaptado, puxado a burro” – trabalho realizado “por cerca de 10 leiteiros”. Não havia métodos de resfriamento e de pasteurização, vindo o leite diretamente das Fazendas Guarujá, Barnabé, Monte Alto ou da Granja Santo Antônio para o núcleo urbano.
O comércio de pão pelas padarias era feito “em balcão e em carrinhos para entrega domiciliar”. Os endereços de sete padarias constam na lista elaborada por Randi, sendo seus proprietários: Narciso João Conte, Cooperativa Operária Saltense, Irmãos Bergamo, Pittori & Filhos, Domingos A. Lammoglia, Luiz Piaia & Filhos e Ernesto Bethiol. Há ainda menção ao fornecimento de verduras por “hortas e chácaras nas imediações da cidade” como sendo pequeno, vindo a maior parte dos gêneros dos municípios vizinhos. A distribuição das verduras ficava a cargo das quitandas, cujos proprietários também são citados: João Navarro Filho, Celeste Trentin, Hideo Figita, Alcides Calefo, Expedito Thereza, Shogo Handa, José A. Fabri, José Plácido Ferraz do Amaral e Antonio Rossi. Randi observa ainda que alguns chacareiros vendiam “seus produtos diretamente ao consumidor por meio de carrinhos puxados a burro” que transitavam pela cidade.
O comércio de pão pelas padarias era feito “em balcão e em carrinhos para entrega domiciliar”. Os endereços de sete padarias constam na lista elaborada por Randi, sendo seus proprietários: Narciso João Conte, Cooperativa Operária Saltense, Irmãos Bergamo, Pittori & Filhos, Domingos A. Lammoglia, Luiz Piaia & Filhos e Ernesto Bethiol. Há ainda menção ao fornecimento de verduras por “hortas e chácaras nas imediações da cidade” como sendo pequeno, vindo a maior parte dos gêneros dos municípios vizinhos. A distribuição das verduras ficava a cargo das quitandas, cujos proprietários também são citados: João Navarro Filho, Celeste Trentin, Hideo Figita, Alcides Calefo, Expedito Thereza, Shogo Handa, José A. Fabri, José Plácido Ferraz do Amaral e Antonio Rossi. Randi observa ainda que alguns chacareiros vendiam “seus produtos diretamente ao consumidor por meio de carrinhos puxados a burro” que transitavam pela cidade.
Um comentário:
Registre-se, prof. Elton, que o amigo dr. Adriano Randi, meu colega de filatelia, faleceu ontem, 07.09.2010.
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