Dada a proximidade do centenário da mais antiga escola em atividade em nossa cidade – o que se verificará em 2013 – talvez seja importante salientar algumas informações a respeito de seu patrono. Embora com passagem efêmera por nossa cidade, o professor Tancredo do Amaral marcou por ser o primeiro professor formalmente habilitado para tal ofício a lecionar aqui, numa época em que Salto ainda era politicamente ligada a Itu. Foi também, ao lado do Dr. Barros Júnior, o fundador do primeiro jornal que aqui circulou, o Correio do Salto, fundado em 1888. A seguir, apresentamos alguns dados gerais sobre a história da unidade de ensino mencionada e, ao final, um resumo biográfico do patrono.
Quem foi Tancredo do Amaral?
Pioneirismo – A atual Escola Estadual Professor Tancredo do Amaral foi criada por meio de decreto estadual em 20 de outubro de 1913, sob a denominação Grupo Escolar de Salto de Ytu, e iniciou suas atividades no dia 28. Em sua origem, reuniu oito escolas espalhadas pelo município e criou mais duas classes, totalizando 407 matrículas em seu primeiro ano. Contudo, a inauguração oficial, com a presença da diretoria de ensino à qual Salto estava sujeita à época, deu-se apenas em 13 de maio de 1914. A escola funcionou com apenas um período de aulas por dois anos. Em 29 de abril de 1915 passou ao regime de dois períodos, e de 21 de maio de 1934 em diante funcionou nos três períodos.
O projeto – O terreno em que escola foi construída, entre 1911 e 1913, era de propriedade de Domingos Fernandes da Silva. A Prefeitura o adquiriu e o doou ao Governo Estadual em 1910, ficando esse responsável pela obra. A instalação do Grupo Escolar de Salto foi acompanhada de mais outras nove iniciativas pelo Estado de São Paulo afora, em projetos que ficaram conhecidos como Tipo Faxina, em referência à atual cidade de Itapeva. Tratava-se da implantação de escolas a partir da mesma planta, com fachadas reelaboradas por diversos arquitetos. Em Salto, o projeto foi assinado por José Van Humbeeck e Manuel Sabater. E a construção foi iniciada sob o comando de Augusto do Amaral e concluída sob a supervisão de Lupércio Borges. As outras localidades contempladas foram: Faxina (atual Itapeva), Jardinópolis, Santa Cruz do Rio Pardo, Santa Rita do Passa Quatro, Dois Córregos, Serra Negra, Cruzeiro, Itararé e Bebedouro.
História – Em 1918, durante a epidemia de gripe espanhola, o prédio da escola abrigou doentes, servindo como uma espécie de hospital de emergência. No ano seguinte, foi desinfetado e pintado. Até 1936, quando se instalou na cidade o Colégio Sagrada Família, o Tancredo era a única escola primária de Salto. Desde 1950 abrigou o Ginásio Estadual, que em 1962 passou a funcionar em prédio próprio. Em 1960, Salto ganhou sua segunda escola pública – o 2º Grupo Escolar – que hoje recebe o nome de E. E. Prof. Cláudio Ribeiro da Silva.
Bem cultural – Sendo a mais antiga escola da cidade, a E. E. Prof. Tancredo do Amaral é vista hoje como um elo afetivo que une diversas gerações de saltenses que passaram por seus bancos. Em virtude disso, encarando-a como bem cultural, em 29 de julho de 2002 sua preservação foi legalmente assegurada por meio de tombamento pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico e Artístico do Estado – CONDEPHAAT, em conjunto com outras 123 escolas paulistas construídas na Primeira República (1889-1930).
Tancredo Leite do Amaral Coutinho, ou simplesmente Tancredo do Amaral – como ficaria conhecido – nasceu na cidade de São Paulo em 18 de fevereiro de 1866. Era filho do Comendador Manuel Leite do Amaral e de Dona Josefa Gaudie Leroy do Amaral. Um de seus tios, Dr. Aquilino do Amaral, foi Senador pelo Estado de Mato Grosso. Tancredo casou-se com D. Maria Luísa do Amaral, tendo com ela dois filhos: Floriano e Marina do Amaral Costa.
Depois de fazer o “curso de humanidades”, Tancredo matriculou-se na Escola Normal da Capital, onde se diplomou. Logo depois, em 1887, foi nomeado professor primário em Salto – ainda nos tempos do Império. Aqui fundou, no mesmo ano, o Partido Republicano, juntamente com o Dr. Francisco Fernando de Barros Júnior. E no ano seguinte, o jornal Correio do Salto – repetindo a parceria política, já que a publicação era uma folha de propaganda do partido. Foi redator-chefe do referido periódico e também fez parte da diretoria do Clube Republicano 14 de Julho, fundado em Salto também naqueles anos.
Ao se transferir para São Paulo, Tancredo exerceu de início o cargo de Oficial de Gabinete do presidente Bernardino de Campos. Organizadas as quatro secretarias de governo, em 1891, foi nomeado 1º Oficial da Secretaria do Interior. Quando o Dr. Carlos de Campos assumiu a pasta da Justiça, na administração Campos Salles, foi escolhido para ser seu Oficial de Gabinete. E ao ser criado o Almoxarifado da Justiça, foi nomeado subdiretor dessa repartição. Por ocasião da cisão do Partido Republicano nos anos seguintes, Tancredo do Amaral acompanhou o General Francisco Glicério e assumiu o posto de redator de A Nação, órgão do Partido Republicano Federal. Isso lhe custou a demissão do cargo que então exercia, devido à luta política em que fortemente se empenhou.
Afastado da política, não se acomodou. Escreveu diversos livros didáticos, entre os quais O Livro das Escolas, Geografia Elementar, História de São Paulo ensinada pela biografia de seus vultos mais notáveis e O Estado de São Paulo, todos aprovados oficialmente e adotados nas escolas públicas. Tancredo foi ainda nomeado Inspetor Escolar, chegando a ser interinamente Diretor Geral da Instrução Pública do Estado.
Deixando os cargos que exercia no magistério, Tancredo do Amaral, após se diplomar em 1906 pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco, entrou para o Ministério Público, tendo sido promotor das cidades de Capão Bonito, Batatais e Capivari. Entrando para a Magistratura, foi Juiz de Direito da Comarca de Santa Isabel, lugar em que se aposentou em 1923, indo residir em São Bernardo do Campo.
Tancredo foi por algum tempo redator, cronista teatral e secretário da redação do jornal Correio Paulistano. Também fazia parte de várias associações científicas e literárias, tendo sido membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Escritor, deixou várias obras esparsas, algumas inéditas, como uma coletânea dos melhores versos da língua portuguesa, várias conferências e discursos. Faleceu em 23 de julho de 1928, aos 62 anos.
Nota: Seria de suma importância, com a chegada do centenário, que a comunidade da Escola Estadual Tancredo do Amaral refletisse sobre a possível doação, ao Museu da Cidade de Salto, de toda a documentação que existe referente aos primeiros anos de seu funcionamento – a exemplo do que já ocorreu com os livros de matrículas da extinta Escola Anita Garibaldi (1931-1968). Trata-se do destino correto e esperado de toda a documentação que se refere à história local.