Transcrição de texto escrito por Ettore Liberalesso em 1992:
Pouco depois da criação canônica da primeira paróquia de Salto , em 6 de março de 1886, começavam a chegar à região , em grandes levas , milhares de imigrantes italianos. Segundo dados confiáveis, só no município de Salto seu número atingia a 3000 no ano e 1905, quando a população toda não passava de 4264 almas .
Daí talvez o fato de até cerca de 1920, quase todos os padres que tomaram conta da paróquia de N. S. do Monte Serrat levassem sobrenomes italianos, como : Antico – que sucedera a Bartholomeu Taddei e Gomes Reis – Fázio, Sorentino, Pepe e Seraphini.
No início da última década do século passado , um grande número de famílias italianas se instalara nas lavouras de café do chamado bairro Buru, uma vasta área que ia desde as margens direitas do córrego do Ajudante e do rio Tietê até as divisas do município , deixando no meio o próprio rio Buru, que dava nome a toda aquela vasta parte do município de Salto .
Uma família de imigrantes, contam antigos moradores do bairro , trouxe da Itália uma imagem de N. S. das Neves , propagando o culto à Virgem Maria sob aquela invocação . O povo da redondeza passou a reunir-se para rezar o terço , desde a época em que , quase certamente , era pároco interino de Salto , o padre Bartholomeu Taddei, um jesuíta que se atribuíra como principal missão fundar Apostolados da Oração pelo Brasil inteiro . A “interinidade” do padre Taddei durou de 1889 a 7 de julho de 1892, quando tomou posse o padre Thomaz Antico.
Deve, portanto , estar fazendo um século que isso acontecia, sendo que a primeira capela em louvor à N. S. das Neves foi construída à direita da estrada , logo depois da ponte sobre o rio Buru, nela sendo entronizada a imagem trazida da Itália.
As grandes glebas que constituíam o Buru foram sendo, com o correr dos tempos , desmembradas em sítios de diversas áreas menores , muitas delas adquiridas por descendentes das primeiras famílias de imigrantes .
Até 1923, a instrução primária das crianças de toda a região era ministrada em casa pelos próprios pais, mas o catecismo sempre foi dado na antiga capela, onde as famílias se reuniam aos domingos para as preces em comum junto à imagem de N. S. das Neves, escolhida por todos como padroeira do bairro.
Naquele citado ano, os irmãos José e Maximiliano Rocchi doaram um terreno para a construção de uma escola mista nas proximidades da encruzilhada da estrada Salto-Monte Mor. Com isso aumentou a freqüência da antiga capela, a qual logo se tornaria pequena.
Os primeiros professores da nova escola mista do Buru nomeados pela municipalidade foram Filomena dos Santos, que lecionava nos períodos da manhã e da tarde, e seu marido Honório dos Santos, no noturno.
Irmandade de N. S. das Neves
A idéia, porém, só se concretizaria alguns anos depois. Em 7 de fevereiro de 1932, cerca de quarenta pessoas se reuniram sob a presidência do padre João da Silva Couto, pároco de Salto, quando combinaram a “nomeação da diretoria para tomar conta da capela e promover o movimento religioso do bairro”. Embora não o diga expressamente a ata então lavrada pelo próprio sacerdote, estava fundada assim a Irmandade de Nossa Senhora das Neves, emergindo naquela mesma reunião sua primeira diretoria e seu primeiro conselho.
Estiveram presentes os srs. Sebastião José de Oliveira , José Paes de Oliveira , Luiz Gonzaga do Nascimento, Joaquim Ribeiro , Victorio Bethiol, Domingos Bethiol, Florindo Bethiol, Cesário Pauli, Leopoldo Antônio Cruz , Francisco Ribeiro , Jorge Ibraim, Jacob Abram, Fernando Bologneze, Antonio Pittorri, Phelipe Antônio Di Siervo, Ângelo Pavesi, Belmiro de Moura , João Baptista Oliveira , Ernesto Bethiol, Vergílio Bethiol, Christina Bethiol, Maria Rocchi, Pascoalina Rocchi, Elvira Rocchi, Silvestre Nascimento, João Roeja, José Rocchi, Antonio Rocchi, Ulderico Rocchi, Aristides Rocchi, Giuseppe Di Siervo, Manoel Di Siervo, Rosa Di Siervo, Francisca Siervo, Oswaldo Rocchi, Sebastião Paula Nicácio, Ana Rita de Oliveira , Maria Pauli.
A primeira diretoria da Irmandade de N. S. das Neves ficou assim constituída: presidente , Sebastião José de Oliveira ; vice-presidente, José Paes de Oliveira ; secretário Francisco Ribeiro ; tesoureiro , Florindo Bethiol; conselheiros : Luiz Gonzaga do Nascimento, Victorio Bethiol, Cesário Pauli, Domingos Bethiol.
A partir daí, embora só em 1937 a diretoria passasse a se reunir com regular freqüência mensal a redação de atas naquele mesmo livro que registrou a fundação da Irmandade , a diretoria ia providenciando todos os atos para que fora criada , jamais deixando de promover a festa anual de N. S. das Neves , sempre com muita freqüência do povo da região , bem como da própria cidade .
Doação do terreno para a capela
Atendendo pedidos do vigário da paróquia de N. S. do Monte Serrat, padre João da Silva Couto , Maximiliano Rocchi, sua mulher Maria Sirelli e a viúva Adélia Cortis doaram o terreno para a construção da capela a Nossa Senhora das Neves , padroeira do bairro . A escritura foi passada no Cartório de Salto em 14 de julho de 1936, sendo registrada no Registro Geral da Comarca (Itu) sob nº de ordem 3514. Por Maria Sirelli, assinou João Salvador . O padre João da Silva Couto assinou em nome da paróquia . O terreno de 3000m2 começava “na encruzilhada da estrada de Monte Mor , segue pela mesma estrada até um valo , do valo desce por uma cerca até dar em um córrego de água dividindo com José Di Siervo daí volta pela estrada até o ponto de partida ”. Esse terreno tinha sido possuído por herança conforme escritura registrada sob nº de ordem 1988 no Registro Geral da Comarca (Itu). Foi outorgada à paróquia de N. S. do Monte Serrat – Arquidiocese de São Paulo. A doação era “para fim único e exclusivo de construir a capela com suas dependências , à N. S. das Neves , patrona do bairro do Buru e da Irmandade de N. S. das Neves , com a condição de estes bens serem inalienáveis . (A escritura da doação acima está copiada em seu inteiro teor as pp. 62 a 65 do Livro Tombo nº 1, da Paróquia de N. S. do Monte Serrat, de Salto e as pp. 4v, 5, 5v, 6, 6v e 7 do livro de atas nº 1 da Irmandade de N. S. das Neves).
Lançamento da pedra fundamental da capela
A segunda ata do citado livro de atas , lavrada em 9 de maio de 1937, fala da escritura acima transcrita e da festa que se estava realizando, do lançamento da 1ª pedra da nova capela , completando que havia mais de 1000 pessoas presentes, às quais foi lida a ata que em seguida seria colocada no interior da pedra fundamental . Essa ata tinha a seguinte redação :
“FESTA DA 1ª PEDRA da nova capela de N. S. das Neves no Bairro Buru. No dia 2 [sic] de maio de 1937 houve uma missa às nove horas , pregação pelo padre João da Silva Couto e as 16 horas benta e lançada a 1ª pedra cuja ata foi a seguinte : Aos nove dias do mês de maio do ano de nascimento de N. S. J. C. de 1937, terceiro ano do governo constituído do sr. Dr. Getúlio Vargas, presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, sendo por graça de Deus Arcebispo Metropolitano de S. Paulo, o Exmo. Sr. D. Duarte Leopoldo e Silva e Governador do Estado o Sr. José Cardoso de Mello Neto , ocupando o cargo de vigário desta paróquia de N. S. M. Serrat, Arcebispado de São Paulo, o Rvmo. Pe. João da Silva Couto e sendo presidente da Câmara Municipal da cidade Arnaldo de Moraes e prefeito da cidade Francisco de Arruda Teixeira, com a presença do vigário da paróquia padre João da Silva Couto , a diretoria da Irmandade de N. S. das Neves , autoridades civis, sendo paraninfo o sr. João Scarano, arquiteto , construtor , administrador das obras e Hilário Ferrari, realizou-se a solene bênção e colocação da pedra fundamental da nova capela de N. S. das Neves do Bairro Buru, desta paróquia de Salto , cuja construção ora se inicia, ato este assistido por centenas de pessoas do bairro e de todas as classes sociais da cidade , que esta subscrevem. Tocou no ato da cerimônia a Banda Musical Saltense, fazendo eloqüente discurso congratulando-se com o povo do bairro o sr. prof. João B. Dalla Vecchia, cujas palavras foram ouvidas com religioso silêncio , encerrando a festa o Rvmo. Pe. Vigário João da Silva Couto , que agradeceu a todos e concitou a Irmandade a levar avante tão grandiosa obra , mais um melhoramento para o bairro . Colocando em seu respectivo lugar a pedra na qual achavam-se encaixada uma pequena urna oferecida pelo sr. Dante Milioni e dentro dela depositada uma cópia da presente ata devidamente assinada pela maioria presente , além de diversas moedas de prata e de níquel assim com um exemplar do jornal “O Povo ” de Salto do mesmo dia , foi esta cerimônia dada por encerrada sendo lavrada a presente ata que lida em voz alta , achada conforme , vai devidamente assinada pelas autoridades civis e religiosas, diretoria da Irmandade , o encarregado da construção sr. João Scarano e demais pessoas gradas. Praça da Nova Capela de N. S. das Neves do Bairro Buru em Salto , aos 9 de maio de 1937. Eu João B. Dalla Vecchia secretário ad-hoc escrevi e o Vigário padre João da Silva Couto subscreveu. Padre João Couto . Assinaram: João Scarano, o construtor , Hilário Ferrari, Arnaldo de Moraes , presidente da Câmara , Laffayete Brasil de Almeida, presidente do Diretório , Sebastião de Oliveira , presidente da Irmandade.[1]
A troca de imagens
A nova imagem ficou num oratório da capela velha até que se terminasse a construção do novo templo .
Inauguração da nova capela
No dia 11 de dezembro de 1938, com a presença de muita gente vinda de toda parte do município e até de cidades vizinhas, deu-se a inauguração da nova Capela de N. S. das Neves , transladando-se para a mesma as imagens existentes na antiga capelinha próxima ao rio Buru. A solenidade ocorreu às 8h30, com a bênção solene das novas dependências dadas pelo padre João, havendo na missa solene realizada ali pela primeira vez , uma primeira comunhão das crianças do bairro . A festa foi abrilhantada pela banda de música da cidade ; cantou na ocasião o Coro do Círculo Católico São Francisco de Assis, da Matriz de Salto .
Aos 12 e 13 de agosto de 1939, teve-se a eleição da diretoria para os anos de 1939 e 1940, sendo eleitos: presidente , Sebastião de Oliveira ; vice-presidente, João Stecca; tesoureiro , Vitório Bethiol; secretário , Francisco Ribeiro ; procurador , Guilherme Santinon; conselheiros : Florindo Bethiol, Fernando Bolognesi, Luiz Gilberti, Hilário Ferrari, Maximiliano Rocchi, Sebastião Nicácio. No dia seguinte a diretoria reuniu-se para levantar um empréstimo para pagamento de débitos da capela , o qual seria pago à medida que fosse entrando dinheiro em caixa .
Santas missões no bairro
Irmãs de São José dão catecismo no bairro
A partir das referidas missões , algumas religiosas da Congregação das Filhas de São José, notadamente as Irmãs Pierina e Eliza, passaram a ensinar o catecismo às crianças , com preparação para primeiras comunhões e crismas , trabalho que mais tarde passou a ser feito por catequistas residentes no Buru.
Troca de diretoria – Diretoria eleita em 21 de outubro de 1956: presidente , João Alfredo Stecca; vice-presidente, Florindo Bethiol Sobrinho ; tesoureiro , Guilherme Santinon; secretário , Genezio Bethiol; procurador , João Ivo Stecca; vice-procurador, Clemente Di Siervo; conselheiros : Francisco Barbosa, Salvador Cardoso, Evangelista Ferraz, Guiomar Bueno Santinon, Maurício Matiuzzo e José Bernardi.
Troca de diretoria – A diretoria supra foi confirmada em 17 de setembro de 1965, com exceção do procurador , que foi substituído pelo vice .
Instalada a segunda paróquia de Salto: São Benedito
Crisma na capela
Urbanização chega ao Buru
O ano de 1974 marcou também o início da urbanização da região conhecida como Buru. Possivelmente com a perspectiva da criação do distrito industrial . O primeiro loteamento residencial ocorreu com o lançamento do Condomínio Fechado de Vivendas Piccolo Paese, em 24 de dezembro de 1974. Apareceram em seguida os loteamentos denominados: Jardim São Judas Tadeu, Jardim Arquidiocesano, Jardim Saltense, Jardim Elizabeth, Jardim Buru, Estância da Colina , Village João Jabour, todos até o fim de 1979. Na década de 80 surgiram os loteamentos Chácaras Iracema, Jardim Celani, Jardim D’Icaraí, Vila Norma , Condomínio Vivendas Haras São Luiz, Village Zulkeika Jabour, Terras de Santa Rosa , Jardim Bom Retiro , Jardim São João etc. Com isso muitas residências foram sendo construídas em locais mais próximos da Capela de Nossa Senhora das Neves , que assim passou a ter um movimento maior .
A partir de 1975 a capela passou a promover, através da Irmandade de N. S. das Neves , a reza do terço no mês de maio , via-sacra durante a quaresma e novena de Natal .
Reaparece, finalmente, a antiga imagem
Terminado o restauro das referidas duas imagens, o sacerdote houve por bem esperar por uma reforma na capela para repor o crucifixo no altar e a imagem numa redoma , como lembrança dos velhos tempos do Buru. Mas até agora , fevereiro de 1992, quando a paróquia de São Benedito está encerrando seu ano jubilar de criação , a devolução das imagens não ocorreu. Elas continuam na Casa Paroquial , apesar das várias reformas pelas quais passou a capela .
Cinqüentenário da primeira pedra da capela
A comunidade católica do Buru comemorou condignamente a passagem do cinqüentenário do lançamento da primeira pedra da capela de N. S. das Neves , no dia 2 de maio de 1987, durante a missa celebrada pelo padre Paulo Haenraetz, que voltara à paróquia como auxiliar do padre Geraldo da Cruz Bicudo de Almeida, pároco desde 23/05/1987.
Nossa Senhora da Neves visita as capelas da paróquia
No dia 3 de outubro de 1987, a imagem de N. S. das Neves foi levada à Matriz de São Benedito, onde houve missa pelo sucesso do ano mariano . A partir dessa data, a imagem passou a percorrer todas as capelas da paróquia de São Benedito, só voltando ao Buru no dia 20 de agosto de 1988, por ocasião de sua festa anual .
Incremento do movimento religioso
De notar-se que , por terem transferido suas residências para outros pontos do município , deixaram de fazer parte da diretoria da Irmandade, eleita em 21 de maio de 1983, os srs. Wilson Dias , Walter Keiller e Armindo Dias Coutinho.
[1] Essa ata não foi transcrita no livro de atas da Irmandade , mas tão somente no Livro Tombo nº 1 da Paróquia de N. S. do Monte Serrat, às pp. 71, 72 e 73.