23 de outubro de 2009

Maestro Gaó

Odmar do Amaral Gurgel, conhecido artisticamente como Maestro Gaó, foi regente, pianista, radialista e compositor musical durante mais de sete décadas. Saltense nascido em 12 de fevereiro de 1909, era filho de Joanna e Acylino do Amaral Gurgel, ambos professores e músicos em Salto. Tendo no lar as influências primordiais, já aos cinco anos Gaó estava alfabetizado e começava a estudar música. Era aluno do 1º Grupo Escolar de Salto, do qual seu pai chegou a ser diretor. Aos onze anos, o futuro maestro renomado já participava de uma orquestra de salão, da qual se tornou o regente com apenas 11 anos. À noite, em Salto, o trabalho do jovem Gaó era ir ao Cine Pavilhão para selecionar as músicas da orquestra, da qual seu pai era clarinetista, adaptando-as às diversas cenas dos filmes mudos daqueles tempos. Certa vez, o jornal carioca Correio da Manhã, em texto de Carlos Lacerda, publicou sobre Gaó, após uma brilhante apresentação sua: “A Sinfonia do Brasil, que procura exprimir na variedade dos motivos, a grandeza do Brasil através da arte, encontrou o seu animador. Por pitoresca coincidência nesse espetáculo de exaltação ao esforço e valor do povo brasileiro, o criador de beleza foi um rapaz de Salto do Itú [sic], que aprendeu piano em casa com seus pais, professores públicos, e constitui uma lição de valor e de esforço próprios, lição aos músicos e a toda gente.”


Família do Maestro Gaó. São os pais: Acylino e Joanna. Os filhos (da esquerda para a direita): Ayr, Grafir, Oisb, Walkyr e Odmar (Gaó), c.1920.

Em 1920 Gaó compôs sua primeira música, uma mazurca, e a batizou "Primeira inspiração". As seguintes foram "O cantor sincero" e "Myosotis", oferecida à sua mãe. Buscando desenvolver seu talento, foi para São Paulo, tendo como primeiro professor o pianista Samuel Arcanjo dos Santos, responsável por sua preparação para o ingresso no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Nesses cinco primeiros anos na capital, residiu numa pensão – onde conheceu sua futura esposa, que era filha do proprietário – e foi empregado de uma loja de música, a Casa Di Franco. No citado conservatório teve como professores Mário Andrade, Carlos Paglucci e Savino de Beneditis. Enquanto estudava, Gaó sobrevivia toando na Jazz Band Manon e na Casa Di Franco, o que lhe propiciou o contato com renomados músicos da época, tais como Tupinambá, Eduardo Santo e Ernesto Nazareth. Assim, diplomou-se concertista em 1927.

Até 1924 assinou suas músicas com suas iniciais: O.A.G., mas aconselhado por um amigo, nessa data, inverteu-as, passando a se chamar artisticamente Gaó. Nessa mesma década atuou na rádio Educadora Paulista - pouco tempo depois rebatizada como rádio Gazeta - onde dirigiu um quarteto de cordas. Atuou também na rádio Cruzeiro do Sul. Por essa época, tornou-se exclusivo da gravadora de discos Colúmbia, da qual chegou a ser diretor, contexto no qual surgiu seu primeiro quarteto de jazz. Como solista da Orquesta Colbaz, por ele criada, obteve destaque com as músicas "Branca", "Tico-tico no fubá" (ambas composições de Zequinha de Abreu) e com os discos "Gaó, seu piano e sua orquestra", "Gaó bem brasileiro" e "Gaó viaja pelo mundo". Teve participações na sonorização de filmes, especialmente na Atlântida. Dirigiu as rádios Cruzeiro do Sul e Cosmo e criou programas de sucesso, como "Hora da saudade" e "Hora dos calouros". Compôs logotons para programas famosos à época. Já no final da década de 1930 Gaó era figura de relevo no cenário artístico paulistano.


Gaó ao piano, na rádio Cruzeiro do Sul, década de 1930.

Sua ida para o Rio de Janeiro, para trabalhar nas rádios Ipanema e Mauá, foi seguida de um curto período em solo argentino, na rádio Belgrano, com posterior retorno ao Rio, quanto a rádio Nacional o contratou. Ainda na então capital federal, Gaó trabalhou no Cassino da Urca, tendo participado de festas de figuras eminentes do cenário nacional. Esteve também à frente da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal de São Paulo, por curto período, e na direção da rádio Globo carioca. Em 1945 Gaó foi para os Estados Unidos, lá permanecendo por duas décadas, sendo tratado por “embaixador do samba”. Apresentou-se algumas vezes, inclusive, ao lado de Carmem Miranda. Por esses anos, ainda mantinha contato com seus conterrâneos saltenses. Suas cartas eram muitas vezes publicadas nos jornais locais. De volta ao Brasil, radicou-se em Mogi das Cruzes, onde faleceria em setembro de 1992. Muito bem acolhido nessa cidade, a escritora mogiana Botyra Camorim escreveu uma biografia sobre Gaó, intitulada Sonata em quadro movimentos. Gaó também publicou um livro, Teoria moderna de música, ao completar o jubileu de ouro de sua carreira. A última homenagem a ele prestada ainda em vida, em Salto, deu-se em dezembro de 1988, quando da inauguração de um auditório levando seu nome, anexo ao Conservatório Municipal. Nesse espaço, Gaó se apresentou pela última vez na terra natal, em 1991, no evento que foi chamado de “Noite da gratidão”.

Nota: As músicas de cada um dos personagens da Turma da Mônica, criados por Maurício de Sousa, são composições do Maestro Gaó. Você pode ouvi-las no site: http://www.monica.com.br/musicas/midi/welcome.htm

Dados artísticos de Gaó no Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira: Iniciou a carreira radiofônica em 1926, quando ingressou na Rádio Educadora Paulista. Em 1930, formou e passou a dirigir a orquestra Colbaz que gravou uma série de discos na Columbia incluindo os primeiros registros dos choros "Os pintinhos no terreiro"e "Tico-tico no fubá", e da valsa "Branca", de Zequinha de Abreu. Em 1931, contratado pela gravadora Columbia, registrou como pianista as canções "Jaci", "Saudades", e "Ilusão que se vai", as três de Jaime Redondo, e o fox-trot "Nola", de Felix Arndt. No mesmo ano, seus choros "Arreliento" e "Suspirando" foram gravados na Columbia pela Orquestra Colbaz sob sua direção. Ainda em 1931, gravou ao piano pela Columbia os fox-trot "My syncopated girl", de sua autoria, e "All of a twist", de Billy Mayerl, e os choros "Quando o banjo toca" e "Teimoso", de sua autoria. Entre 1932 e 1936, atuou nas Rádios Cruzeiro do Sul e Cosmos, em São Paulo, veio depois para o Rio de Janeiro e atuou nas Rádios Nacional e Ipanema. Ainda em 1932, teve a marcha "Marcha Caloric" gravada pela Orquestra Caloric na Columbia. Em 1934, sua valsa "Você é minha felicidade" foi gravada pela Orquestra de Salão Columbia, e o fox-trot "Silhueta" foi registrado pelo instrumentista Jonas ao saxofone. Em 1935, criou uma orquestra de dança com a qual gravou na Columbia os fox-trot "Há cha cha", de Werner e Hahn, e "June in january", de Robin e Rainger. No mesmo ano, gravou ao piano a "Rapsódia mal começada" partes I e II com arranjos seus sobre temas de Schubert. Em 1937, gravou ao piano com Ernesto Trepeccioni ao violino a toada "Araponga" e a lenda brasileira "Aparição de iara", ambas de Marcelo Tupinambá. Nesse ano, formou a Gaó, sua nova orquestra e coro com a qual acompanhou a gravação das marchas "Gauchinha" e "Já tirei o meu chapéu", ambas de Lamartine Babo, a primeira nas vozes de Lamartine Babo e Sílvio Alcântara, e a segunda nas vozes de Lamartine Babo e Silvino Neto. Nesse ano, acompanhou mais algumas gravações na Columbia: Cândido Botelho na canção "Eu amo todas as mulheres", de Robert Stoll e Cândido Botelho, e na rumba "Marinella", de Roger, Scotto e Cândido Botelho, Lais Marival no maracatu "Meu ganzá" e no samba-canção "Saudades do morro", ambas de H. Celso e A. Santos, e Raul Torres, no samba-canção "Mentira", de Fernando Lobo e Capiba, e no frevo-canção "Mauricéia", de Marambá e Aníbal Portela. Em 1938, acompanhou com sua orquestra o cantor Jorge Fernandes na gravação da canção "Adeus da Bahia", de Nelson Vaz, do motivo popular "Meu limão, meu limoeiro", com arranjos seus, no samba "Caboclo feliz", de sua autoria e Luiz Peixoto, na canção "Moreninha", de Georgina de Melo, no maracatu "Senzala", de Durval Borges e José Carlos Burle, e na "Ladainha", de Cassiano Ricardo e Armando Fernandes, e a cantora Silvinha Melo nos fox "Soldadinho de chumbo", de Marcelo Tupinambá e Galda de Paiva, e "Quando cantas "to you", de Joubert de Carvalho. Em 1939, gravou ao piano com o grupo Gaó e Seu Ritmo as marchas "Pirulito", de João de Barro e Alberto Ribeiro, "Joujoux e balangandans", de Lamartine Babo, e "Eu não te dou a chupeta", de Silvino Neto e Plínio Bretas, todas em ritmo de fox, e o fox-trot "Canaries serenade", de Billy Mayerl. No começo da década de 1940, passou a trabalhar. na gravadora Odeon. Antes porém, ainda dirigindo a orquestra Columbia acompanhou Zilá Fonseca na gravação das marchas "A charanga do Oskar", de Aloísio Silva Araújo, Francisco Malfitano e Geraldo Mendonça, "Sonho de uma noite de verão", de Aloísio Silva Araújo e Francisco Malfitano, "Pulga maldita", de motivos populares com arranjos de Francisco Malfitano, e "Pigmaleão", de Frazão e Francisco Malfitano. Em 1944, acompanhou com sua orquestra na Odeon o Trio de Ouro na gravação da fantasia "O fantasma dos povos", de Herivelto Martins e Aldo Cabral, em duas partes, e a cantora Odete Amaral no samba "Casa sem número", de Laurindo de Almeida e Dias da Cruz, e no choro "Mais devagar coração", de Gastão Viana e Mário Rossi. Nessea época, dirigiu a orquestra do Cassino da Urca. Em 1945, acompanhou com sua orquestra do Cassino da Urca o cantor Léo Albano na gravação da valsa "Ao cair de uma estrela" e no samba "Cabrochinha", ambas de Laurindo de Almeida e Edgard de Almeida, e a cantora Heleninha Costa no choro "Amor", de Laurindo de Almeida e Valdemar de Abreu, e no samba "Você é tudo que eu sonhei", de Laurindo de Almeida e Del Loro, dessa vez com seu sexteto, gravações efetuadas na Continental. Nesse ano, viajou para os Estados Unidos onde permaneceu por seis anos. Em 1946, voltou por breve tempo e acompanhou com sua orquestra de concertos na Victor o cantor Gilberto Milfont na gravação das canções "Geremoabo" e "Maringá", de Joubert de Carvalho. Na década de 1950 foi contratado pelas Organizações Victor Costa atuando com sucesso na Rádio Record. Em 1954, atuou no programa "Quando os maestros se encontram" da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Nesse ano, acompanhou com sua orquestra na Odeon a cantora Norma Ardanuy na gravação do samba "São Paulo de Anchieta", de Vanda Ardanuy, e na toada "Rabicho", de Marcelo Tupinambá, e a cantora Hebe Camargo na gravação dos sambas "Vou pra Paris", de Antônio Maria e Fernando Lobo, e "Aconteceu em São Paulo", de Antônio Maria, no fado "Tudo isso é fado", de Fernando Carvalho e Aníbal Nazareth, e no bailarico "Festa portuguesa", de Antonio Rago e Mário Vieira. Em 1955, acompanhou noovamente a cantora Hebe Camargo com sua orquestra na gravação do fox "Johnny Guitar", de Victor Young em versão de Júlio Nagib, e na canção "O que eu queria dizer ao teu ouvido", de Hekel Tavares e Mendonça Junior. Em 1960, gravou com sua orquestra pela Odeon o LP "Gaó viaja pelo mundo" numa viagem através de composições de várias partes do mundo no qual foram interpretadas as músicas "Brasileirinho", de Waldir Azevedo, "Asunción", de F. Riera, "Mi Buenos Aires querido", de Carlos Gardel e Alfredo Le Pera, "Jamaican rumba", de A. Benjamin, "Port-au-prince", de B. Wayne, "Havana special", de O'Farril, "Malagueña", de Ernesto Lecuona, "Coimbra", de Raul Ferrão e José Galhardo, "Sous le ciel de Paris", de H. Giraud, "Arrivederci Roma", de R. Rascel, Garinel e Giovanini, "Wien du stalt meiner traeume", de R. Sieozynski, e "Manhattan", de Rodgers e Hart. Gravou em 1964, pela Odeon, o LP "Gaó, seu piano e orquestra" no qual interpretou músicas de sua autoria como "Diamante azul", "Mimoso", e "Minha garota sincopada", além de clássicos da música popular brasileira como "Odeon", de Ernesto Nazareth, e "Samba em prelúdio", de Baden Powell e Vinicius de Moraes. Dois anos depois, lançou pela London/Odeon o LP "The melodic sound of Gaó's piano and The Ipanema strings" interpretando onze clássicos da música popular brasileria: "Murmurando", de Mário Rossi e Fon-Fon, "Curare", de Bororó, "Apanhei-te cavaquinho", de Ernesto Nazareth, "Flor de abacate", de Alvaro Sandin, "Naquele tempo", de Pixinguinha e Benedito Lacerda, "Da cor do pecado", de Bororó, "Ai yoyo (Linda flor)", de Henrique Vogeler e Luiz Peixoto, "Saudade", de Lauro Miranda, "André de sapato novo", de André Victor Correia, "Carinhoso", de Pixinguinha e João de Barro, e "Tenebroso", de Ernesto Nazareth, além do choro "Cabeludo", de sua autoria. Em 1967, gravou doze valsas brasileiras clássicas também pela London/Odeon no LP "Valsas brasileiras" no qual interpretou "Expansiva" e "Coração que sente", de Ernesto Nazareth, "Última inspiração", de Peterpan, "Aurora", de Zequinha de Abreu e Salvador J. de Morais, "Saudade de Iguape", de João Batista do Nascimento, "Só pelo amor vale a vida", de Zequinha de Abreu, "Saudades de Ouro Preto", de Antenógenes Silva, "Velho realejo", de Custódio Mesquita e Sady Cabral, "Boa noite amor", de José Maria de Abreu e Francisco Matoso, "Clube XV", de Oscar A. Ferreira, "Longe dos olhos", de Zequinha de Abreu e Salvador J. de Morais, e "Mimi", de Uriel Lourival. Em 1969, gravou o LP "Bem brasileiro" no qual interpretou de sua autoria as músicas "Paquerando" e "Mini-saia", e os clássicos "Brasileirinho", de Waldir Azevedo, "Garoto" e " Zênite", de Ernesto Nazareth, "Tico-tico no fubá", de Zequinha de Abreu, "Atraente", de Chiquinha Gonzaga, "Choro Nº 1", de Villa-Lobos, "No rancho fundo", de Ary Barroso e Lamartine Babo, "Um baile em Catumbi", de Eduardo Souto, e "Chuá chuá", de Pedro de Sá Pereira e Ari Pavão. Nesse ano, sua composição "Paisagem tropical" foi gravada por Osni Silva no LP "Mais uma noite".


Discografia de Gaó:

Jaci/Saudades/Ilusão que se vai/Nola
(1931) Columbia 78

My syncopated girl/All of a twist
(1931) Columbia 78

Quando o banjo toca/Teimoso
(1931) Columbia 78

Há cha cha/June in january
(1935) Columbia 78

Rapsódia mal começada (I)/Rapsódia mal começada (II)
(1935) Columbia 78

Pirulito/Canaries serenade
(1939) Columbia 78

Joujoux e balangandnas/Eu não te dou a chupeta
(1939) Columbia 78

Gaó viaja pelo mundo
(1960) Odeon LP

Gaó, seu piano e orquestra
(1964) Odeon LP

The melodic sound of Gaó's piano and The Ipanema strings
(1966) London/Odeon LP

Valsas brasileiras
(1967) London/Odeon LP

Bem brasileiro
(1969) London/Odeon LP

16 de outubro de 2009

Industriais pioneiros

José Galvão
José Galvão de França Pacheco Júnior, nascido em Itu em 19 de janeiro de 1834, foi o pioneiro da indústria têxtil em Salto. Iniciou a construção de sua fábrica em 1873 - mesmo ano da chegada da ferrovia, com a instalação da estação de Salto - inaugurando-a em 1875 e dando-lhe o nome de Fortuna. Instalado na margem direita do rio Tietê, próximo à cachoeira, o empreendimento de Galvão tinha 1.240 metros quadrados de área construída. A localização nesse ponto não era casual: o potencial energético das águas foi aproveitado com a instalação de uma turbina à água, posteriormente convertida em elétrica. Na comunidade saltense que então se avolumava no final do século XIX, muito em virtude dos braços trazidos para trabalharem em seu empreendimento, Galvão era figura de destaque. Faleceu em 30 de março de 1889 e seu nome, anos mais tarde, foi dado à rua que, até 1908, se chamava Rua da Estação, no centro de Salto.


A construção de maior destaque, ao centro, é a fábrica Fortuna.

Barros Júnior
Filho de senhor de engenho, Barros Júnior nasceu em Capivari, em 1856, e estudou engenharia civil nos Estados Unidos. Formado, retornou ao Brasil e fixou-se em Itu, em 1879, e logo assumiu posição de destaque no seio do Partido Republicano daquela cidade. No ano seguinte iniciou seus investimentos em Salto, inaugurando sua tecelagem em 1882, a segunda em Salto, nomeando-a Júpiter. Até o final da década de 1880, por diversas vezes entrou em disputa com José Galvão, por questões envolvendo seus empreendimentos aqui instalados. Embora pioneiro na indústria, obteve maior destaque como político. Abolicionista, foi vereador em Itu e deputado estadual. Em Salto, foi subdelegado de polícia, intendente, presidente da Câmara e juiz de paz. Durante a epidemia de varíola de 1887, que atingiu toda a província de São Paulo, Barros Júnior notabilizou-se em Salto, também atingida pelo contagioso “mal das bexigas”. Com seu auxílio foram construídos três lazaretos. Barros Júnior foi o principal batalhador pela criação do município de Salto em 1890, com território desmembrado de Itu. Mesmo tendo vendido sua fábrica, Barros Júnior continuou a viver em Salto e a participar da política. Foi também responsável pela ampliação territorial do município, tornando parte das terras da margem esquerda do rio Tietê, antes pertencentes a Itu, área do município de Salto. Até 1907 participou da Câmara local. Em 1918 faleceu, aos 62 anos, vítima de gripe espanhola.

José Weissohn
Em 1898 o engenheiro José Weissohn, vindo da Itália, adquiriu os prédios das duas tecelagens pioneiras, instaladas por José Galvão e Barros Júnior na margem direita do rio Tietê, que desde 1890/91 já haviam sido incorporados por empresas de maior porte. Apesar de já em 1904 ter transferido todo esse patrimônio à Società per l'Esportazione e per l'Industria Italo-Americana, Weissohn continuou em Salto como um dos diretores na sociedade. Residiam, ele e sua família, no chalé da gerência, uma bela edificação à frente da antiga Júpiter. Entre os anos de 1911 e 1913, Weissohn foi um dos elementos que esteve à frente das negociações entre os industriais e o povo, juntamente com o poder público da época. A iniciativa visava resolver o problema de acesso ao porto das Canoas - local piscoso, cujo acesso fora impedido pelos industriais que incorporaram aos seus domínios uma via pública que cortava os prédios das tecelagens e ia até a margem do rio. A solução encontrada foi a construção de uma ponte pênsil, num abismo então existente na margem direita, entre a pedra grande e a pedra alta, ao lado dos prédios da antiga fábrica Fortuna.

José Revel
Vindo da Itália como conselheiro-delegado da Società Italo-Americana, em 1909, José Revel era o maior acionista da empresa, que além da fábrica de Salto tinha outras na Argentina e no Chile. Quando o domínio acionário passou às mãos de outro grupo, em 1º de novembro de 1919, dando origem à Brasital S/A, Revel foi o primeiro presidente da empresa, permanecendo nesse posto até 1923. Pode-se atribuir o crescimento vigoroso da Brasital em seus primeiros anos, especialmente em Salto, aos seus esforços. É de sua época a aquisição das quatro quadras de terreno nas quais seriam construídas as 244 casas da vila operária Brasital. Não é por acaso que uma das ruas que corta as referidas quadras recebeu o nome de José Revel, que viveu em Salto por quase 15 anos.

7 de outubro de 2009

Centenário de Lubra e Pretti

Neste ano de 2009 deu-se o centenário de nascimento de dois pintores saltenses que obtiveram certo destaque para além das fronteiras locais. Trata-se de José “Lubra” Roncoleta (1909-1973) e Flávio Pretti (1909-1996). Ambos, apesar de terem saído de Salto precocemente, tematizaram nossa cidade em várias de suas produções. Os dois, por exemplo, pintaram a cachoeira no rio Tietê - obras que estão em posse do Museu da Cidade de Salto. Lubra ainda deixou-nos uma belíssima pintura do Dr. Barros Júnior, o famoso “Pai dos Saltenses”. Dentre os trabalhos de Pretti encontramos, inclusive, esboços de tipos populares de Salto das primeiras décadas do século passado.

Lubra era o pseudônimo artístico adotado por José Roncoleta, formado a partir das primeiras sílabas dos nomes de seus pais, Luiz e Brasília Roncoleta, um dos casais responsáveis pela fama adquirida por Salto no começo do século XX no tange ao tratamento da dor ciática e doenças reumáticas. Nascido em 1909, Lubra fez parte das primeiras classes formadas no então Grupo Escolar de Salto, atual E. E. Tancredo do Amaral. Foi aluno do professor José de Paula Santos desde 1916, com notável rendimento. Teve aulas de violino com o maestro Zequinha Marques. Contudo, optou por aperfeiçoar-se em pintura com o professor Demétrio Blackman, residente em Itu, onde lecionou no colégio Cesário Mota, por um ano. Na capital do estado montou uma escola de desenho e pintura, tendo 17 anos na ocasião. Ao se casar com Lídia Novelli, mudou-se para Santos, onde também montou uma escola de artes. Com os apoios oferecidos pelo jornal santista A Tribuna, realizou diversas exposições nessa cidade do litoral. Entusiasta da Associação Santista de Belas Artes, da qual era sócio-fundador, esteve à frente da presidência dessa por muitos anos. Em 1969, ao adoecer, retornou a São Paulo, abrindo um atelier. Voltou para Salto, sua terra natal, pouco tempo depois, vindo a falecer em janeiro de 1973 num hospital da capital.


“Dr. Barros Jr.”, de Lubra.

O saltense Flávio Pretti desde cedo trabalhou na Brasital S/A, como era típico entre os jovens de Salto, cidade que deixou aos 20 anos, quando foi para São Paulo trabalhar como desenhista das Indústrias Matarazzo. Quatro anos mais tarde, mudou-se para o Rio de Janeiro, empregando-se na Companhia América Fabril, onde desenvolveu padronagens para tecido. Foi na então capital da República que completou seus estudos, no seio da Sociedade Brasileira de Belas Artes. Trabalhou também no periódico carioca Diário de Notícias, produzindo caricaturas. Em 1940 retornou a São Paulo, onde instalou seu atelier denominado Publicidades Flávis, na Avenida Celso Garcia. Em meio aos temas de sua obra, Pretti possui algumas criações sobre sua cidade natal. Os azulejos de Homens que construíram esta cidade (1968), existentes no Complexo Turístico da Cachoeira, constituem um exemplo. Neles estão representadas as figuras do indígena, do negro, do bandeirante, do padre, do trabalhador rural e do operário fabril – num discurso que pretende integrar e nivelar a importância de grupos sociais e momentos históricos distintos na constituição de sua cidade natal. Pretti esteve em Salto pela última vez em 1994, falecendo dois anos depois.


“Salto”, de Flávio Pretti.

1 de outubro de 2009

Dois clubes fundados na década de 30

Saltense
A Associação Atlética Saltense, apelidada Gloriosa, foi fundada em 29 de março de 1936, sendo fruto da fusão de três outras agremiações existentes em Salto: Ypiranga Futebol Clube (fundado em 1927), Atlético Clube Corinthians (1928) e São Paulo Futebol Clube (1934). Essas três equipes passavam dificuldades técnicas e financeiras, o que motivou a união de forças. Do Corinthians F.C., por exemplo, a Saltense herdou o campo da Rua Itapiru, que então pertencia ao italiano Hilário Ferrari, sendo adquirido pelo clube apenas em 1951. A primeira diretoria da Saltense era composta por Benedito Silveira, João Baptista Ferrari, Vicente Scivittaro, Luiz Milanez, Emílio Cherighini e Rodolpho Nardelli. A fotografia de seu quadro inicial de jogadores vem a seguir. São eles: Quenca, Américo, Rei, Aníbal, Nelo Mugnai, Mazetto, Gominho, Joãozinho Garcia, Taragim, Sebastião Fiúza e Silvino Correa de Moraes (com a bola).


As primeiras conquistas da Saltense se deram em âmbito local e regional, como clube amador, sendo os anos de 1943, 1944, 1945, 1948, 1950 e 1951 particularmente recheados de conquistas. Em 1953 o clube ingressou no profissionalismo, conquistando em 1958 o vice-campeonato da Terceira Divisão da Federação Paulista de Futebol, obtendo a promoção à Segunda Divisão. Nessa primeira fase de 11 anos no futebol profissional, a Saltense esteve por 6 anos na Segunda Divisão e 5 na Terceira. Em 1965 a Gloriosa abandonou o profissionalismo, participando apenas de competições amadoras durante nove anos seguidos. Isso ocorreu em virtude da prioridade dada, em termos administrativos, ao aumento do patrimônio do clube. As piscinas e arquibancadas cobertas são obras dessa época. O retorno ao profissionalismo ocorreu em 1976. Nele, a Saltense permaneceu até 1993, embora licenciada em 1989 e 1991. Em 1994 afastou-se novamente. Breve participação do clube nas divisões profissionais inferiores ocorreu nos últimos anos, retornando recentemente ao amadorismo.

Guarani
O Guarani Saltense Atlético Clube tem sua origem numa reunião de uns poucos rapazes em frente à casa que hoje leva o número 499, situada à Rua José Revel, na Vila Operária Brasital. Esses elementos decidiram levar adiante a idéia de reunir, além deles, outros que vinham jogando em campos improvisados dispersos pela cidade. Os cinco idealistas eram os irmãos Mozart e Esmael de Carvalho, José Ribeiro (Zito), Luiz Zuim (Chita) e Benedito Pereira Garcia. Em conjunto e de improviso, de imediato listaram os nomes dos possíveis 22 jogadores a serem convidados a fazer parte daquela nova agremiação. No dia seguinte, Mozart trouxe ao conhecimento do grupo inicial a sua idéia de se batizar o clube de Guarani, dada a intenção que tinha em homenagear o compositor natural da cidade de Campinas, Carlos Gomes, cuja principal obra leva esse nome.

Os nomes de José Merlin, comerciante na Vila Teixeira, Ernesto Perazzo e Eloy Rigolin, estão ligados aos primeiros anos de administração do clube. Seguidas transferências de sede marcaram as três primeiras décadas após a fundação. A fixação da sede no local onde hoje se encontra, ao lado do que era sua praça esportiva, vendida e transformada em supermercado há poucos anos, ocorreu apenas em 1966. Essa mesma praça, como estádio improvisado – batizado como Juquiá, foi palco de diversas conquistas na década de 1940, época da foto a seguir, datada de 1945. Ao final dessa década, foi inaugurado equipado e nomeado Estádio Luiz Dias da Silva, rebatizado posteriormente como Estádio João de Arruda. Em termos futebolísticos, o primeiro feito significativo do Guarani foi a conquista de uma competição estadual em 1947, após ter sido oficializado perante a Federação Paulista. Dois anos depois se sagrou campeão da cidade de Salto, em cujo âmbito obteve considerável destaque nos anos 1970, conquistando seis títulos locais.

Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966