4 de março de 2009

Dr. Henrique Viscardi (1858-1913) - parte 2

Na semana passada falamos neste mesmo espaço da vivência de Henrique Viscardi na Itália e de sua passagem pela África. Interessa-nos, agora, o período em que ele esteve em Salto, iniciado em 1902. Ele para cá veio com uma função pré-determinada: chamado pelo dr. José Weissohn – industrial italiano estabelecido com suas fábricas às margens do rio Tietê – para assumir a “chefia do serviço sanitário” daquelas tecelagens. Na prática, Viscardi prestava toda a assistência médica necessária aos operários de Weissohn. Várias são as fotos do acervo do Museu da Cidade de Salto na qual posam Viscardi, Weissohn e demais diretores das tecelagens existentes no início do século XX.

Viscardi envolveu-se, ainda, no tratamento da ciática e do reumatismo, dando continuidade aos trabalhos pioneiros no combate a esses males a partir dos métodos introduzidos pelo casal Segabinacci, italianos, também em Salto. Logo que chegou, o médico viveu no Hotel Saturno. Tempos depois se mudou para um casarão de pedra, existente até hoje, no qual funciona a biblioteca pública municipal, na Rua Monsenhor Couto. Bem quisto por toda a população saltense daqueles tempos, era chamado de “médico dos pobres” ou “médico das flores”.

Amante da música, não foram poucas as ocasiões em que o médico trouxe de Itu músicos e cantores para as festividades da padroeira, Natal e Semana Santa, arcando ele próprio com os custos. Foi dele a iniciativa pioneira em constituir um coro e orquestra para a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Monte Serrat. Em foto de 1903, é possível vê-lo junto a nomes que, anos mais tarde, teriam destaque no cenário musical saltense, tornando-se maestros: casos de Henrique Castellari [1880-1951] e José Maria Marques de Oliveira [1890-1981] – o Zequinha Marques – que na foto aparece com 13 anos de idade.


Zequinha Marques (1), Henrique Castellari (2) e Henrique Viscardi (3). Coro e orquestra da Matriz, 1903.

No referido casarão, Viscardi vivia com uma antiga empregada sua, com a qual teve dois filhos, falecidos com menos de dois anos de idade e antes dele próprio: Antônio Virgílio e Antônia, seus nomes. Estão enterrados em túmulos de mármore branco, cercados por grades de ferro, ao lado do túmulo do pai. Em 1913, quando da morte de Viscardi, uma multidão acompanhou seu enterro, que se deu no então Cemitério Novo, na Vila Nova, hoje denominado Cemitério da Saudade. Em seu túmulo, que ainda hoje recebe flores, lê-se um epitáfio em língua italiana: “Nesta sepultura que é a expressão da dor e da admiração de todos, está mudo e frio o coração do dr. Henrique Viscardi, médico insigne, que era todo caridade e que cessou de palpitar no dia 13 de dezembro de 1913”.




Saltenses em cortejo levam o corpo do dr. Henrique Viscardi ao então “Cemitério Novo”, 13.12.1913.

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Ouça o hino da cidade, "Salto Canção", na gravação de 1966