O periódico saltense O Liberal – fundado em 7 de setembro de 1949 – interrompeu sua circulação durante alguns meses em 1952. Na última edição, a de 7 de março, eram seus diretores-redatores Archimedes Lammoglia, Mario Dotta e Paulo Miranda Campos. No retorno em 17 de agosto daquele ano, era o diretor responsável Joaquim A. Sontag e, como diretor secretário, figurava o já citado Lammoglia. Poucas mudanças estruturais ocorreram. O editorial “Ser Saltense”, que sempre aparecia em letras garrafais na primeira página, foi mantido – bem como o bordão “Órgão semanário independente para defesa dos interesses de nossa Terra e de nossa gente”.
Nessa edição de retorno, um dos articulistas, na coluna intitulada “Pessoal da velha guarda”, cita os trabalhos envolvendo o ressurgimento do jornal: “durante o tempo todo em que ‘O Liberal’ ficou sem circular, os seus interessados trabalharam dia e noite estudando possibilidades e traçando diretrizes a fim de que a nossa volta fosse assegurada”. E foi numa dessas reuniões que surgiu a idéia de se manter uma coluna que procurasse “reviver todo um passado que está quase morto na memória dos nossos varões mais velhos”. Assim sendo, na coluna “Pessoal da velha guarda” tentariam “descrever um pouco da vida de cada um [desses antigos habitantes], pontuando em evidência [sic] os mais interessantes fatos, personagens, costumes, tipos (...) da Salto de antanho”.
Na edição seguinte, o primeiro entrevistado foi Tibúrcio de Arruda Campos. O articulista leva a entrevista num tom alegre e com certa dose de comicidade. E assim apresenta o “primeiro elemento a figurar” na coluna: “soldado aposentado da Força Pública do Estado de São Paulo, que mesmo a despeito de receber Cr$ 1.270,00 mensais, anda de porta em porta a vender carvão”. Sobre a cidade do tempo em que aqui chegou, Tibúrcio diz que “Salto não passava de uma cidadezinha suja e esburacada, sem luz, sem comércio, sem água nem [coleta de] esgotos. As únicas coisas boas que possuía eram a Brasital e a Têxtil”. E faz um comentário sobre esta última: “Não sei quem era o dono, mas me recordo que pagava uma miséria a seus operários”. O entrevistado aproveita a oportunidade para desmentir comentários que eram feitos sobre ele há muito tempo: “Olha aqui. Dizem também que eu surrava presos e que ajudei a matar Alfredo Rosa [em 1911], acusado de roubar cavalos. Tudo isso é mentira. Nunca surrei ninguém e só matei uma pessoa na vida. Foi em São Paulo. Estava de serviço quando rebentou uma greve. Fui alvejado, mas felizmente não fui atingido. Armei a carabina e matei o grevista”, disse cabisbaixo e aparentando tristeza. Em determinada passagem, indagado sobre o espírito do povo saltense, queixa-se: “É o povo mais falador e venenoso que já vi na vida...”.
Na semana seguinte, a colunas trouxe como entrevistada Dona Rosalina Leal Nunes – possuidora de “gostos (...) dos mais modernos que se possa imaginar numa senhora de 80 anos”, pois adorava escutar novelas e assistir filmes. Sobre sua vivência em nossa cidade, relata em minúcias um acontecimento que presenciou em sua infância: “Nasci em Itu, mas vim muito criança para Salto. Aqui levei uma vida igual a de todas as crianças da minha idade. (...) Deveria ter uns 8 anos de idade quando D. Pedro II veio a Salto. Lembro-me do seu carro puxado por enormes cavalos, tendo à frente sua guarda pessoal formada por oficiais e soldados vestindo vistosos uniformes preto e vermelho de botões dourados e usando um boné cheio de plumas. Quando ele chegou a Salto, desceu da carruagem acompanhado por uma senhora manca [D. Thereza Christina, esposa de D. Pedro II]. Dirigiu-se à fábrica de José Galvão, que estava localizada onde hoje fica um dos depósitos da Brasital”.
Notas interessantes e valiosas como as transcritas são também encontradas nas semanas que se seguiram, nas vozes de Palmira Milanez, Domingos Lammoglia e Antonio Donatini, respectivamente. Após essas três semanas, sem qualquer justificativa, a coluna não mais figurou nas edições seguintes, dando fim a uma iniciativa muito interessante e lúcida de se registrar as memórias de antigos habitantes sobre a cidade que viram se desenvolver.
Nessa edição de retorno, um dos articulistas, na coluna intitulada “Pessoal da velha guarda”, cita os trabalhos envolvendo o ressurgimento do jornal: “durante o tempo todo em que ‘O Liberal’ ficou sem circular, os seus interessados trabalharam dia e noite estudando possibilidades e traçando diretrizes a fim de que a nossa volta fosse assegurada”. E foi numa dessas reuniões que surgiu a idéia de se manter uma coluna que procurasse “reviver todo um passado que está quase morto na memória dos nossos varões mais velhos”. Assim sendo, na coluna “Pessoal da velha guarda” tentariam “descrever um pouco da vida de cada um [desses antigos habitantes], pontuando em evidência [sic] os mais interessantes fatos, personagens, costumes, tipos (...) da Salto de antanho”.
Na edição seguinte, o primeiro entrevistado foi Tibúrcio de Arruda Campos. O articulista leva a entrevista num tom alegre e com certa dose de comicidade. E assim apresenta o “primeiro elemento a figurar” na coluna: “soldado aposentado da Força Pública do Estado de São Paulo, que mesmo a despeito de receber Cr$ 1.270,00 mensais, anda de porta em porta a vender carvão”. Sobre a cidade do tempo em que aqui chegou, Tibúrcio diz que “Salto não passava de uma cidadezinha suja e esburacada, sem luz, sem comércio, sem água nem [coleta de] esgotos. As únicas coisas boas que possuía eram a Brasital e a Têxtil”. E faz um comentário sobre esta última: “Não sei quem era o dono, mas me recordo que pagava uma miséria a seus operários”. O entrevistado aproveita a oportunidade para desmentir comentários que eram feitos sobre ele há muito tempo: “Olha aqui. Dizem também que eu surrava presos e que ajudei a matar Alfredo Rosa [em 1911], acusado de roubar cavalos. Tudo isso é mentira. Nunca surrei ninguém e só matei uma pessoa na vida. Foi em São Paulo. Estava de serviço quando rebentou uma greve. Fui alvejado, mas felizmente não fui atingido. Armei a carabina e matei o grevista”, disse cabisbaixo e aparentando tristeza. Em determinada passagem, indagado sobre o espírito do povo saltense, queixa-se: “É o povo mais falador e venenoso que já vi na vida...”.
Na semana seguinte, a colunas trouxe como entrevistada Dona Rosalina Leal Nunes – possuidora de “gostos (...) dos mais modernos que se possa imaginar numa senhora de 80 anos”, pois adorava escutar novelas e assistir filmes. Sobre sua vivência em nossa cidade, relata em minúcias um acontecimento que presenciou em sua infância: “Nasci em Itu, mas vim muito criança para Salto. Aqui levei uma vida igual a de todas as crianças da minha idade. (...) Deveria ter uns 8 anos de idade quando D. Pedro II veio a Salto. Lembro-me do seu carro puxado por enormes cavalos, tendo à frente sua guarda pessoal formada por oficiais e soldados vestindo vistosos uniformes preto e vermelho de botões dourados e usando um boné cheio de plumas. Quando ele chegou a Salto, desceu da carruagem acompanhado por uma senhora manca [D. Thereza Christina, esposa de D. Pedro II]. Dirigiu-se à fábrica de José Galvão, que estava localizada onde hoje fica um dos depósitos da Brasital”.
Notas interessantes e valiosas como as transcritas são também encontradas nas semanas que se seguiram, nas vozes de Palmira Milanez, Domingos Lammoglia e Antonio Donatini, respectivamente. Após essas três semanas, sem qualquer justificativa, a coluna não mais figurou nas edições seguintes, dando fim a uma iniciativa muito interessante e lúcida de se registrar as memórias de antigos habitantes sobre a cidade que viram se desenvolver.
Um comentário:
Muito bom saber que a história da nossa cidade é contada através da internet...gostaria de ter vivido naquele tempo para poder ontar a todos que hoje vivem em Salto e nem dão valor a história rica que nós possuímos...Muito Obrigada
Postar um comentário