Considera-se como a data da fundação de Salto o dia da bênção da capela dedicada a Nossa Senhora do Monte Serrat, ocorrida em 16 de junho de 1698. E o fundador, o capitão Antonio Vieira Tavares - então proprietário do sítio Cachoeira, cujas terras correspondem hoje a parte da cidade de Salto. Antes de falecer, Tavares fez a doação do sítio Cachoeira à capela por ele construída. E na escritura de doação, datada de 1700, fez constar que era vontade dele e de sua mulher, Maria Leite, que a capela permanecesse para sempre naquele local, onde hoje está a Igreja Matriz. À época, quem observasse o horizonte a partir daquele ponto teria vista privilegiada para a cachoeira.
O trabalho de recuperação da memória do fundador de Salto coube a Luiz Castellari [1901-1948], autodidata, autor de História de Salto, que empreendeu competente pesquisa, decifrando manuscritos do final do século XVII e início do século XVIII. Antes disso, pouco se sabia sobre a ocupação pioneira das terras à direita do Ytu Guaçu, como diziam os índios.
Nascido em meados do século XVII, Tavares vivia no sítio Cachoeira desde aproximadamente 1690, com sua mulher, alguns familiares e escravos. A propriedade fora obtida por duas escrituras de datas de cartas de sesmarias – uma forma existente, no Brasil colonial, para se tornar proprietário de terras. Para assistir missa aos domingos, na vila de Itu, Tavares e seus familiares tinham que atravessar o rio Tietê – e não há registro da existência de uma ponte ligando as duas margens nessa época. Além disso, nosso fundador alegava sofrer de grande moléstia – o que dificultava ainda mais seu deslocamento.
Com base nesses argumentos, somados à sua devoção religiosa, solicitou formalmente às autoridades católicas que o autorizassem a construir em seu sítio uma capela dedicada à Senhora do Monte Serrat. Para tanto, pediu autorização também para usar os bens móveis de uma capela fundada por seu pai, Diogo da Costa Tavares, localizada em Cotia, hoje cidade da Grande São Paulo. A licença para construir a capela no sítio Cachoeira foi concedida em fins de 1696 e, em 16 de junho de 1698, o padre Felipe de Campos a benzeu.
Passados dois anos e meio da bênção da capela, Tavares e sua mulher, Maria Leite, firmaram uma escritura de doação do sítio Cachoeira à capela de Nossa Senhora do Monte Serrat recém fundada, mas impunham algumas condições. Além da já mencionada localização da capela, que não poderia ser alterarada, especificaram que a doação só seria consumada por falecimento de ambos, marido e mulher. Doariam ainda as peças de gentio da terra – como eram chamados os escravos índios – e demais escravos de origem africana. A casa na qual residiam também estaria entre os bens doados, excetuando-se apenas dinheiro, ouro, prata, cavalos, armas e roupa branca. E é sobre a localização dessa casa que paira um grande mistério. Em que ponto do sítio Cachoeira ela estaria localizada? Possivelmente próxima de onde se construiu a capela, embora não exista hoje nenhum vestígio material nem documento escrito que nos dê qualquer indicação.
Maria Leite faleceu em 1704, não tendo nenhum filho com Tavares, que cerca de um ano depois do falecimento dessa primeira esposa se casaria novamente. A segunda esposa, Josepha de Almeida, lhe deu cinco filhos – dois dos quais se tornaram religiosos. Tavares faleceu em 4 de dezembro de 1712, sendo sepultado na capela-mor da Igreja dos Franciscanos, em Itu. Seus restos mortais foram transferidos para Salto em 1981, estando hoje depositados na capela do Monumento à Padroeira.
"Fundação da Vila de Salto de Itu", 1968. Projeto de painel não executado, de autoria da Flávio Pretti. Aquarela s/ papel. Acervo Museu da Cidade de Salto. Possivelmente seria instalado junto aos que existem ao lado da rampa que hoje dá acesso ao Memorial do Rio Tietê. Existem alguns anacronismos na indumentária e mesmo na torre da capela, instalada só no início do século XX.
Documento do início do século XVIII que traz a assinatura de Antonio Vieira Tavares (detalhe).
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