Um nome que se esquece de mencionar entre os que deixaram escritos sobre o passado local é o de José Dias da Silva. Nos primeiros números do periódico saltense O Liberal, por exemplo, ele colaborava com a coluna “Salto, cidade poesia”. Sobre o espaço que hoje leva o nome de Complexo Cachoeira, José Dias, num de seus textos semanais, faz uma digressão e veicula uma opinião que, de certa forma, conduziu os trabalhos da atual administração da cidade: “Salto tem um jardim público que jamais deverá ficar abandonado, pois é a sua sala de visita; deve orgulhar-se de tê-lo aí, à margem do portentoso Tietê, em frente a sua formosa cascata. Melhor lugar não poderia encontrar aquele que teve a feliz idéia de aplicar uma verba da municipalidade para a sua construção. É o verso mais bonito da Cidade-Poesia, tal o panorama que ele nos apresenta” (O Liberal, n. 28, 19/03/1950). Foi a leitura desse excerto que me despertou para os textos seguintes desse saltense.
A maioria de suas colunas tem caráter memorialístico. Algumas abordam a atmosfera saltense do início do século XX, descrevendo cenas típicas também em outras localidades: “Cenas interessantes se passavam na cidade. De manhã cedo, [via-se] os cabreiros conduzindo dúzia ou mais de cabras, ligadas por amarrilhos de uma em uma e assim todas, com sinetas dependuradas em seus pescoços, chamando a freguesia para a compra de leite tirado na hora”. Lembra-se, ainda, da “leva de porcos que passava pela rua principal da cidade, em direção ao matadouro municipal” (23/04/1950).
Ao tratar de lendas e superstições locais, José Dias menciona que “na pedra alta [hoje Memorial do Rio Tietê], certa vez apareceu um fantasma que, à noite, acenava com um lenço branco aos caminhantes que por ali passavam” e, também, que “cavaleiros que à noitinha regressavam a seus sítios, alongavam o caminho contornando atalhos, só para não passarem perto do cemitério, pois aí arrepiavam-se-lhes os ossos e eriçavam-se-lhes os cabelos, e diziam: até o cavalo se estacava e não queria prosseguir a viagem” (30/04/1950).
José Dias lista ainda alguns tipos populares do passado ou que ainda viviam em 1950: “Salto, como todas as cidades, mormente os pequenos municípios onde se torna mais fácil a popularidade, teve e ainda tem os seus tipos clássicos populares: os seus Xuxos, os seus Taragins, os seus Joãos-perna-de-pau, os seus Saladinos, os seus Zé Batatão, etc.”. Em seguida, descreve cada um deles, como “Taragim, um mulato, cujo estado normal era o de embriaguês, [que] fazia esparramos com os garotos que o molestavam”, e João – o perna de pau – que “puxando com sacrifício a sua perna direita que fora amputada e substituída por um aparelho de madeira, fazia carretos, empurrando uma carrocinha de mão que fora produto de uma subscrição popular. Morreu afogado no rio Jundiaí”.
Dentro dessa temática, há menção a um caso ocorrido com Benedito, o come-fogo: “Era um pardo que morava em Itu e estava sempre em Salto. Exercia a profissão de pintor e gostava bastante da cachaça. Certa ocasião, estando a pintar uma porta a óleo, sentado nos degraus de uma escada, pesou-lhe a cabeça pelo excesso de álcool e o que lhe aconteceu? Quando procurado para a janta, foi encontrado dormindo, com a cabeça presa na porta. O óleo já estava quase seco e foi preciso tosar-lhe os cabelos encarapinhados para tirá-lo daquela situação difícil. É de se imaginar quantas horas teria ele ficado ali sem se aperceber do acontecido” (30/04/1950). Entre os tipos que destaca, apenas uma mulher é citada. José Dias assim escreveu: “Maior popularidade teve uma preta gorda, de idade já avançada, conhecida por Ana, a louca – que não fazia mal a ninguém. A sua mania era invadir as residências alheias e ir ao fundo dos quintais à cata de frutos caídos ao chão que os saboreava mesmo apodrecidos. Saía depois, conforme entrava: sem pedir licença e sem proferir qualquer palavra. É falecida e ao que soubemos o seu enterro foi um dos que maior acompanhamento teve na cidade. Foi uma consagração do povo que muito a estimava” (30/04/1950).
A maioria de suas colunas tem caráter memorialístico. Algumas abordam a atmosfera saltense do início do século XX, descrevendo cenas típicas também em outras localidades: “Cenas interessantes se passavam na cidade. De manhã cedo, [via-se] os cabreiros conduzindo dúzia ou mais de cabras, ligadas por amarrilhos de uma em uma e assim todas, com sinetas dependuradas em seus pescoços, chamando a freguesia para a compra de leite tirado na hora”. Lembra-se, ainda, da “leva de porcos que passava pela rua principal da cidade, em direção ao matadouro municipal” (23/04/1950).
Ao tratar de lendas e superstições locais, José Dias menciona que “na pedra alta [hoje Memorial do Rio Tietê], certa vez apareceu um fantasma que, à noite, acenava com um lenço branco aos caminhantes que por ali passavam” e, também, que “cavaleiros que à noitinha regressavam a seus sítios, alongavam o caminho contornando atalhos, só para não passarem perto do cemitério, pois aí arrepiavam-se-lhes os ossos e eriçavam-se-lhes os cabelos, e diziam: até o cavalo se estacava e não queria prosseguir a viagem” (30/04/1950).
José Dias lista ainda alguns tipos populares do passado ou que ainda viviam em 1950: “Salto, como todas as cidades, mormente os pequenos municípios onde se torna mais fácil a popularidade, teve e ainda tem os seus tipos clássicos populares: os seus Xuxos, os seus Taragins, os seus Joãos-perna-de-pau, os seus Saladinos, os seus Zé Batatão, etc.”. Em seguida, descreve cada um deles, como “Taragim, um mulato, cujo estado normal era o de embriaguês, [que] fazia esparramos com os garotos que o molestavam”, e João – o perna de pau – que “puxando com sacrifício a sua perna direita que fora amputada e substituída por um aparelho de madeira, fazia carretos, empurrando uma carrocinha de mão que fora produto de uma subscrição popular. Morreu afogado no rio Jundiaí”.
Dentro dessa temática, há menção a um caso ocorrido com Benedito, o come-fogo: “Era um pardo que morava em Itu e estava sempre em Salto. Exercia a profissão de pintor e gostava bastante da cachaça. Certa ocasião, estando a pintar uma porta a óleo, sentado nos degraus de uma escada, pesou-lhe a cabeça pelo excesso de álcool e o que lhe aconteceu? Quando procurado para a janta, foi encontrado dormindo, com a cabeça presa na porta. O óleo já estava quase seco e foi preciso tosar-lhe os cabelos encarapinhados para tirá-lo daquela situação difícil. É de se imaginar quantas horas teria ele ficado ali sem se aperceber do acontecido” (30/04/1950). Entre os tipos que destaca, apenas uma mulher é citada. José Dias assim escreveu: “Maior popularidade teve uma preta gorda, de idade já avançada, conhecida por Ana, a louca – que não fazia mal a ninguém. A sua mania era invadir as residências alheias e ir ao fundo dos quintais à cata de frutos caídos ao chão que os saboreava mesmo apodrecidos. Saía depois, conforme entrava: sem pedir licença e sem proferir qualquer palavra. É falecida e ao que soubemos o seu enterro foi um dos que maior acompanhamento teve na cidade. Foi uma consagração do povo que muito a estimava” (30/04/1950).
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